Toma lá dá cá

Planalto usa método que originou escândalos para tentar aprovar ajuste fiscal, alertam deputados

Depois de ter barganhado um difícil apoio para conseguir aprovar a primeira medida provisória que integra o ajuste fiscal, o governo Dilma dá continuidade à prática de trocar votos por cargos na estrutura pública federal para obter uma nova vitória, mesmo que isso signifique perda de diretos para o trabalhador.

Nesta semana o Plenário da Câmara deve votar a MP 664, que endurece regras para obter benefícios como auxílio-doença. Na votação anterior, da MP 665, o PT revelou seu posicionamento contra os trabalhadores defendendo e aprovando a redução de benefícios trabalhistas. Por outro lado, o PSDB votou fechado contra a medida.  

Chantagem explícita – Os deputados Betinho Gomes (PE) e João Gualberto (BA) avaliaram nesta segunda-feira (11) que o governo petista erra no mérito e na fórmula. Além de impor que o trabalhador e os beneficiários da Previdência paguem pelo rombo nas contas públicas causado pela corrupção e incompetência, a chantagem está cada vez mais explícita. Os partidos da base de apoio ao Planalto condicionam a votação da proposta à nomeação de indicados para cargos no segundo e terceiro escalão do governo, sob análise da Casa Civil.

Betinho destaca que o governo entrou numa onda de corrupção e desmandos exatamente por causa desse jogo fisiológico que se estabeleceu com a base partidária que dá sustentação no Congresso. “A Petrobras foi vítima disso, pois suas diretorias técnicas foram distribuídas por partidos, assim como a Eletrobrás e outras empresas públicas importantes, sequestradas pela base de sustentação ao governo do PT. O fruto disso foi um rombo nas contas públicas, corrupção e todo tipo de desmando. Infelizmente o governo infelizmente persiste na mesma fórmula de fazer troca de apoio por cargos”, criticou.

O cenário atual é completamente diferente de quatro anos atrás quando, no início de seu primeiro mandato, Dilma contava com uma maioria esmagadora e, por mais que a oposição denunciasse seus malfeitos, conseguia aprovar o que queria no Congresso com uma base completamente submissa. Agora, depois que esse fisiologismo e a corrupção escancarada por trás disso veio à tona, a presidente se tornou refém da base, que promete “barganhar” em cada votação. Na semana passada, conseguiu apoio depois de prometer cargos. Ainda assim obteve vitória apertada com apenas 25 votos de diferença.

Na avaliação de Betinho, depois de tanto escândalo de corrupção, de levar  a economia do país a bancarrota e de perder completamente a credibilidade, o mínimo que o PT deveria era fazer um governo diferente. Segundo ele, insistir nos mesmos erros é inaceitável e a sociedade está atenta a isso. 

Na semana passada, oposição exibiu carteiras de trabalho e fez panelaço para protestar contra aprovação de proposta que retira direitos dos trabalhadores.

“Esse ajuste tem que ser combatido, pois não pode ser jogado nas costas do cidadão. Tem que ser combatida também essa ação política que visa apenas o toma lá dá cá, a troca de cargos por apoio no Congresso. Foi daí que surgiu o mensalão e o petrolão e precisamos combater com muita firmeza isso”, alerta, ao ressaltar que a MP 664 irá prejudicar os beneficiários da Previdência Social. “A população está sendo vitimada por essa insensibilidade do governo que atinge os trabalhadores e vai atingir agora os contribuintes do INSS”.

João Gualberto afirma que, no que depender do PT, a situação nunca mudará. Os vícios maléficos da política e o vergonhoso toma lá dá cá devem continuar, já que o partido de Lula só consegue se manter no poder dessa forma. “Daqui para a frente só vai piorar. Infelizmente vão fazer o mal para o povo usando o dinheiro do povo para bancar esses cargos”, aponta.

O parlamentar do PSDB critica o pacote de maldades proposto por Dilma e que tem em vista gerar uma economia de cerca de R$ 18 bilhões aos cofres públicos, quando, ao mesmo tempo, só a Petrobras teve por causa da corrupção e da incompetência administrativa um prejuízo muito maior. “Deveria primeiro o governo corta na própria carne, arrumar a casa”, cobrou. 

(Reportagem: Djan Moreno/Fotos: Alexssandro Loyola/ Áudio: Hélio Ricardo)