PT pagou com traição
Com amplo apoio do PT, proposta de Dilma que reduz direitos trabalhistas é aprovada
A sessão que debateu a Medida Provisória 665/14, que dificulta o acesso dos trabalhadores a direitos como o seguro-desemprego, foi marcada por manifestações das galerias e discursos da oposição contrários à tentativa do PT de apunhalar os brasileiros pelas costas. A reunião chegou a ser suspensa e houve discussão em plenário. Na noite desta quarta-feira (6), os parlamentares aprovaram o texto-base da proposta em votação apertada: 252 votos favoráveis e 227 contrários. A bancada do PSDB votou em peso contra a proposta. O PT, ao contrário, votou pela aprovação da matéria.
A MP faz parte do pacote de ajuste fiscal divulgado pela presidente Dilma Rousseff no fim do ano passado. A necessidade de corte de gastos, usada pela bancada petista como argumento para aprovar o texto, só existe porque o governo Dilma criou a crise vivida pelo Brasil, analisa o deputado Nilson Leitão (MT).
“Temos que deixar claro para a população que quem criou este momento de crise foi a presidente Dilma com o desgoverno, a corrupção, a incompetência e a inoperância. Ela não pode cobrar essa conta do trabalhador”, afirmou. A solução, acredita o tucano, é buscar uma alternativa dentro do próprio governo, enxugando a máquina. Fragilizar uma proteção ao trabalhador que perde o emprego é a pior maneira de resolver o problema.
Ouvir um representante do PT afirmar que a MP não retira direitos dos brasileiros é debochar covardemente da inteligência do brasileiro, alega o deputado Domingos Sávio (MG). Ele deu um exemplo claro: um trabalhador que ganha até dois salários mínimos e teve 30 dias assinados na carteira de Trabalho no ano anterior tem direito a receber o valor do abono salarial. Com a MP, ele teria que trabalhar no mínimo três meses no ano anterior e receberia apenas parte do montante devido. O líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP), classificou a atitude do governo como uma “facada nas costas” do povo.
Deputados levaram ao plenário faixas e cartazes para protestar contra a MP. A foto da presidente Dilma aparece em um cartaz abaixo das palavra “Procurada”, com uma lista de acusações: roubar o seguro-desemprego, o seguro-defeso dos pescadores e as pensões. Eles exibiram notasimitando o dólar, mas com a inscrição “PTro dollar” e fotos de Lula, Dilma e João Vaccari Neto, o tesoureiro afastado do PT preso em abril na operação lava Jato, da Polícia Federal. As notas foram jogadas das galerias em uma “chuva de petrodólares”. A oposição organizou ainda um “panelaço” em plenário, resgatando o protesto dos brasileiros contra a propaganda eleitoral do PT. Eles entoaram a paródia de um conhecido refrão: “PT pagou com traição a quem sempre lhe deu a mão”.
“O Partido dos Trabalhadores usou o horário eleitoral para falar para o Brasil inteiro que é contra tirar o direito do trabalhador. E vem cá e defende isso. Vamos amadurecer e achar outro caminho que não seja tirar direito do trabalhador. Há outras alternativas para fazer ajuste fiscal”, defendeu Sávio. Arthur Virgílio Bisneto (AM), por sua vez, revelou que as máscaras estão caindo. “Quem trouxe essa maldade para a vida de vocês foi a Presidente da República. Quem está retirando direito dos trabalhadores é a Presidente da República”, completou.
Petrodólar
A votação desta quarta-feira (6) mostrou de maneira efetiva os rumos tomados pelo PT, que esqueceu os trabalhadores, frisou Vanderlei Macris (SP). Na avaliação dele, a história do partido que começou defendendo a classe produtiva foi reconstruída. “Hoje a aliança do PT é na direção do capital, não mais do trabalho. Quando retiram direitos dos trabalhadores, mostram a mudança de rumos”, explicou. O Brasil assiste à destruição do Estado e a população dá sinais de cansaço. O panelaço durante a propaganda política do PT indica a falta de credibilidade do partido perante a sociedade. “Essa postura retrógrada de ajuste fiscal caiu nas cotas dos trabalhadores”, resumiu o parlamentar.
A aprovação da MP é um momento triste pra os brasileiros, acrescentou João Gualberto (BA). Durante os mandatos do ex-presidente Lula e de Dilma, o PT sempre alegou lutar por benefícios trabalhistas, mas hoje age no sentido contrário. “É bom que se diga que desde 1975 existe, por exemplo, o abono salarial. O PT não deu nenhum benefício nem ampliou”, repudiou o deputado.
(Reportagem: Elisa Tecles/ Foto: Alexssandro Loyola/ Áudio: Hélio Ricardo)
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