Partidos em movimento, por José Aníbal


A notícia das fusões partidárias em andamento (entre PTB-DEM e PSB-PPS) é uma novidade auspiciosa em meio à bancarrota do sistema político. Afinal, elas vão no sentido contrário ao projeto de hegemonia patrocinado pelo PT desde a sua chegada ao Planalto, isto é, a fragmentação do espectro político em torno de um Executivo cada vez mais poderoso.

Os limites desse sistema estão aí pelo noticiário. A distribuição de glebas do Estado em troca de subordinação política (e a vista grossa ante o direcionamento da ação de governo para bases eleitorais) criaram um verdadeiro consórcio de clientelismos sem nenhum interesse público. O objetivo é apenas alimentar a engrenagem política com dinheiro do contribuinte.

Na esteira dessa degradação surgiram figuras políticas como Gilberto Kassab. Não à toa, um dos articuladores do atual governo, especializado em encontrar brechas na lei para construir conglomerados de pura fisiologia governista. Claro, com suporte do Planalto, fundo partidário, tempo de TV e passe livre para infiéis. É a política alheia a qualquer virtude.

Daí se entende o porquê da reforma política a passos de cágado, de iniciativas dispersas e isoladas, não raro delegadas ao judiciário. Na visão torta do governo e do PT, não há razão para mexer quando se está, literalmente, “ganhando” – mesmo que em detrimento do país. A política definitivamente não será reformada pelo grupo que sobrevive à custa de sua deformação.

Basta ver que as inquietações no sistema político surgiram à revelia da articulação institucional: a lei da ficha limpa; a PEC da perda automática de mandato após condenação; a proibição da fusão imediata dos partidos-ônibus; restrições ao financiamento privado (em análise no STF); e a aprovação terminativa do voto distrital para cidades com mais de 200 mil eleitores – nada disso saído do Executivo.

Pela imobilidade e resistência à mudança desses grupos nutridos pela precariedade do atual sistema, o surgimento de agremiações partidárias mais consistentes e imunes ao canto de sereia da cooptação deve sim ser saudado. É uma recusa à política feita na base da degradação dos partidos, calcada no aparelhamento e avessa à noção de interesse público. 

A crise que o país atravessa tem como pano de fundo essa trágica equação de cooptação política, populismo, farra fiscal, corrupção e marquetagem. Por um tempo, tudo se ajeitava comprando apoios, fraudando balanços e fazendo propaganda. O PT descobriu tarde demais que sua fórmula mágica de governança tem consequências nefastas. Agora, não sabe pra onde ir.

Em meio a este labirinto, o sistema busca uma saída para fora de si mesmo. Há esperança quando partidos buscam aplainar suas diferenças para, juntos, se contrapor a estas forças dissolventes e corruptoras. Apesar da inércia e do entorpecimento a que foram conduzidas as instituições sob o PT, resta essa inquietude, em grande medida originária das ruas, capaz de gerar vibração política. A despeito dos obstáculos, a democracia se modela. Felizmente, nem todos se renderam.

(*) José Aníbal é senador suplente pelo PSDB-SP. Foi deputado federal e presidente nacional do PSDB. Artigo publicado no Blog do Noblat em 06/05.

 

 

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6 maio, 2015 Artigosblog Sem commentários »

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