CPI da Petrobras

Para líder tucano, engrenagem da corrupção na Petrobras abastecia estrutura do PT

Durante depoimento do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, o líder do PSDB na Câmara, deputado Carlos Sampaio (SP), afirmou que a engrenagem de desvio recursos foi criada para ajudar a manter uma estrutura político-partidária que ascendeu ao poder em 2003. O ex-diretor, que fechou acordo de delação premiada com a Justiça, confirmou que o esquema de corrupção atendia ao interesse de partidos ligados ao governo do PT.

“Para mim esse esquema atendeu a políticos, diretores da empresa e empreiteiros, mas não é só isso. Não consigo acreditar que tal engrenagem tenha sido para beneficiar apenas deputados e senadores. Acredito que o principal beneficiário direto ou indireto era o governo do PT”, avaliou o líder tucano.

Durante a oitiva realizada nesta terça-feira (5) pela CPI da Petrobras, Costa disse que, apesar de ser funcionário de carreira e ter ficado 35 anos na empresa, só chegou ao cargo de diretor por indicação política. Ele atribuiu a indicação ao ex-deputado José Janene (PP), já falecido. “O problema não está na indicação política, mas na conivência”, destacou Carlos Sampaio. “Imagino que essas indicações pressupunham uma contrapartida aos partidos da base, pois eram eles os envolvidos”, completou.

Segundo levantamento feito por Sampaio, cerca de US$ 174 milhões foram depositados nas contas dos partidos oriundos da cobrança de propina em contratos. Conforme afirmou Costa, os preços praticados poderiam sim ser menores e não eram exatamente por causa da formação do cartel entre as empreiteiras. “Nós poderíamos ter preços reduzidos em 3%. Mas, se não fosse o cartel, poderia sim ter preços menores”, disse.

Sampaio observou que as perdas bilionárias causadas pela má gestão foram fruto de uma intervenção e uso político da Petrobras. Durante a oitiva, Costa frisou diversas vezes que, apesar da grandiosidade das perdas causadas pela corrupção, a má administração da estatal causou a maior de todas as perdas.

Os desvios desvendados pela Operação Lava Jato, conforme destacou, representaram 10% de tudo o que o a estatal perdeu com a ingerência causada pelo uso político da empresa, que segurou os preços de derivados de petróleo durante anos, obrigando o endividamento da Petrobras e causando um rombo dez vezes maior que aquele gerado pela corrupção.

Responsabilidade do Conselho – A presidente Dilma teve responsabilidade direta sobre o prejuízo causado ao povo brasileiro com a compra da refinaria de Pasadena. Sampaio voltou a destacar que a petista era a presidente do Conselho de Administração da Petrobras na época da aquisição. Costa confirmou que todas as decisões dependiam do aval dos conselheiros, inclusive da atual presidente da República.

Sampaio chamou atenção para o fato de as fitas com as gravações das reuniões do conselho terem sido destruídas. Segundo ele, se as gravações são feitas por segurança e para resguardar as decisões da empresa, é estranho que elas sejam descartadas.

Ainda sobre os preços dos derivados que levaram a petroleira à bancarrota, Costa disse a Sampaio que chegou a levar, como diretor, “quatro ou cinco vezes propostas de aumento dos preços ao Conselho”. Isso, segundo ele, foi gravado, e ocorreu entre os anos de 2010 a 2012. O então ministro Guido Mantega (presidente do conselho no período) negou todos os pedidos.

(Reportagem: Djan Moreno/ Foto: Alexssandro Loyola/ Áudio: Hélio Ricardo)