Instituição sob suspeita

Depoimento de presidente do BNDES confirma necessidade de investigar entidade, alertam tucanos

Após depoimento prestado pelo presidente do BNDES na CPI da Petrobras, nesta quarta-feira (16), deputados do PSDB defenderam uma investigação específica sobre o principal banco de fomento brasileiro. Coutinho afirmou na oitiva que o banco não suspeitou de corrupção em obras da Petrobras. A instituição financeira é acionista da petroleira.  

O deputado Delegado Waldir (GO) não ficou satisfeito com as explicações de Coutinho. “O senhor vai ser lembrado como o presidente do BNDES que moeu o dinheiro do povo brasileiro”, disse o tucano ao depoente. O parlamentar chegou a questionar se, por ser pernambucano, Coutinho não se envergonhava de ter participado da “armação” que ocorreu na construção da refinaria de Abreu e Lima, com a participação de Hugo Chavés e Lula. Segundo ele, o empreendimento tirou, indevidamente, bilhões de reais do povo brasileiro devido à quantidade absurda de aditivos.

O presidente saiu em defesa da refinaria e disse que não houve superfaturamento. Em suas afirmações, o presidente do BNDES negou ainda que o banco tenha pago mais de R$ 8 bilhões à Sete Brasil – empresa investigada pela operação Lava Jato. Ele defendeu investimentos secretos em países da América Latina e África e a construção do gasoduto Gasene, também sob suspeita de irregularidades.

O presidente tentou se esquivar de responder ao deputado Otavio Leite (RJ) se houve prejuízo para o banco em razão de investimentos feitos na Petrobras. Mas o deputado afirmou que isso ficou bem claro. Apesar do lucro líquido do BNDES de R$ 8,9 bilhões em 2014, documento de balanço divulgado pela própria instituição no final de março apontou prejuízo de R$ 2,6 bilhões com a Petrobras, visto que o BNDES detém 17% das ações da estatal.

Coutinho admitiu que o banco poda rever o financiamento de projetos em andamento da Petrobras, o que vai depender das investigações da Operação Lava Jato. Ainda sobre a empresa Sete Brasil, o deputado Antonio Imbassahy (BA) chamou atenção para o fato de Coutinho, no início de seu depoimento, ter apresentado a empresa como um grande negócio.

“Se isso aconteceu é porque provavelmente tinha muitas fragilidades e ela se submeteu a essa organização criminosa que destruiu a perspectiva de se fazer no Brasil uma indústria naval. Corrupção, desencontro, falta de planejamento, roubalheira, isso tudo está prejudicando muito o país”, disse.

Dilma é a responsável –  Outro importante ponto destacado pelo tucano diz respeito à responsabilidade do Conselho de Administração da Petrobras, presidido por Coutinho, na compra de ativos. “A presidente Dilma foi quem presidiu esse conselho durante muitos anos e, inclusive, a compra de Pasadena, aquela refinaria superfaturada, foi feita por ela”, destacou o deputado ao lembrar que tanto Coutinho quanto os ex-presidentes da Petrobras Graça Foster  e Sérgio Gabrielli afirmaram na CPI que há responsabilidade do conselho nessas operações.

“Se todos dizem isso, não resta dúvida que Dilma foi a responsável pela compra de Pasadena e por todo o prejuízo, todas as irregularidades e corrupção”, disse.

Transparência – Defendendo a transparência das transações do BNDES e uma investigação sobre o banco, o deputado Izalci (DF) afirmou que o PT conseguiu transformar seu “governo em um sepulcro caiado, ou seja, podre por dentro, mas aparentemente muito bonito”. Segundo ele os relatórios, como aqueles apresentados por Coutinho, “são maravilhosos, mas quando se olha a fundo é possível ver que a raiz está podre”. Em sua avaliação, as informações têm sido maquiadas.

CPI do BNDES – Enquanto Luciano Coutinho prestava esclarecimentos na CPI da Petrobras, os partidos de oposição apresentaram requerimento de criação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a atuação do BNDES. Apenas integrantes do PT e do PCdoB se recusaram a endossar o pedido, que tem 199 assinaturas. O 1º vice-líder do PSDB na Câmara,Nilson Leitão (MT), participou do ato de entrega do requerimento.

(Reportagem: Djan Moreno/ Fotos: Alexssandro Loyola)