Protegendo quem?


Ex-diretor da Petrobras se complica ainda mais ao manter silêncio, avaliam tucanos

Uma das raríssimas respostas de Duque foi a uma pergunta feita pelo deputado Izalci.

Uma das raríssimas respostas de Duque foi a uma pergunta feita pelo deputado Izalci.

Deputados do PSDB estão entre os poucos parlamentares que conseguiram obter respostas do ex-diretor da Petrobras Renato Duque durante depoimento, nesta quinta-feira (19), na CPI que investiga o esquema de corrupção na maior estatal do país. Apesar disso, as poucas declarações dadas por Duque foram superficiais e praticamente não acrescentaram nada à investigação feita pelo colegiado. A certeza dos parlamentares é de que o ex-diretor se complica cada vez mais por insistir em não revelar a verdade, nem mesmo em delação premiada à Justiça.

Para o 1º vice-presidente da CPI, Antonio Imbassahy (BA),  Duque mandou um recado claro e em tom de ameaça ao seu “chefe”, pois para justificar o seu silêncio repetiu duas vezes que “há um tempo de calar e um tempo de falar”. “Que ele se lembre de Marcos Valério, operador do mensalão, que não falou, confiou que seria protegido pelo PT, foi abandonado, e vai puxar 40 anos de cadeia. Enquanto, o comandante quem se beneficiou continua livre, quem sabe até liderando outro esquema nocivo”, disse o tucano, ao fazer alerta semelhante ao dos líderes Carlos Sampaio (SP) e Bruno Araújo (PE).

Confira mais fotos na galeria de imagens

Play

Em uma de suas poucas falas à CPI, Duque negou que sua esposa tenha parentesco com o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu e disse que ela nunca esteve com o ex-presidente Lula. A declaração foi feita em resposta a questionamento do deputado Izalci (DF).  Acusado de participar do esquema de corrupção que atuava na estatal, Duque havia dito inicialmente que atenderia orientação de seu advogado e ficaria calado durante toda a sessão para não criar provas contra si.

Segundo circulou na internet, a mulher do investigado teria procurado um interlocutor para pedir ao ex-presidente ajuda para soltar o marido. Duque foi detido nesta semana por ordem do juiz federal Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava Jato na primeira instância, após realizar movimentações bancárias suspeitas em contas na Suíça. É terceira vez que o ex-diretor fica detido.

Ao responder a uma pergunta de Izalci, Duque disse ter interpretado como uma “ameaça” a disposição de integrantes da CPI de convocar sua mulher a falar na comissão. A convocação foi defendida por parlamentares da oposição. Ao final da oitiva, o depoente se declarou inocente e afirmou que vai provar que não tem envolvimento nas denúncias feitas pelo Ministério Público relativas à Lava Jato. Mas, para os deputados do PSDB, dificilmente isso será possível, diante de tantas evidências que já pesam contra ele.

Em outra das outras poucas vezes que Duque respondeu a questionamentos de deputados foi quando indagado pelo deputado Otavio Leite (RJ). O ex-diretor admitiu conhecer o antigo hotel Meridien, no Rio de Janeiro. O local foi apontado pelo ex-gerente da estatal Pedro Barusco como ponto de encontro entre participantes do esquema de desvio de dinheiro, incluindo a ambos e ao tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. Em outro momento, Duque disse ainda não conhecer o doleiro Alberto Yousseff e negou que seu filho tivesse envolvimento com o esquema de corrupção.

Otavio Leite também conseguiu que Duque respondesse uma pergunta.

Otavio Leite também conseguiu que Duque respondesse uma pergunta relacionada a ponto de encontro entre acusados de envolvimento no petrolão.

O deputado Bruno Covas (SP) ressaltou a aliança de Duque e Barusco e questionou o depoente sobre a relação com o “ex-amigo”. Mas, Duque se negou a responder. Pouco antes, quando um deputado confundiu o nome de Duque com Barusco, o depoente se irritou. “Não me confunda com Barusco”, disse em tom veemente.

O 1º vice-presidente da CPI, deputado Antonio Imbassahy (BA) afirmou a Duque que nenhuma força política ou econômica irá impedir que as investigações prossigam tanto no colegiado, quanto na Justiça. “Vossa senhoria deveria refletir bastante, pois, a essa altura, já existe praticamente uma condenação. Seu advogado sabe melhor do que eu das dificuldades que o senhor terá se não fizer uma delação premiada”, alertou o tucano.

Óleo de peroba para petistas – O momento mais tenso da audiência foi quando o deputado Delegado Waldir (GO) pediu que quem tivesse um comércio em Brasília mandasse “óleo de peroba para a Câmara para passar na cara de alguns deputados do PT” e “aparelho auditivo por que eles não querem ouvir as vozes que vêm das ruas”. Petistas se exaltaram e pediram respeito. Mas, pouco antes, diversos ataques haviam sido feitos ao PSDB e ao ex-presidente Fernando Henrique por integrante da bancada petista. “Só estou respondendo a um ataque que recebemos”, disse o tucano.

Em seguida, em referência a pergunta feita pelo próprio Duque quando foi detido na segunda feira – “Que país é este?” -, Waldir elencou inúmeras mazelas do Brasil e comparou com a vida de milionário levada pelo atual “hóspede” do sistema prisional do Paraná.

Já o deputado Vitor Lippi (SP) afirmou que os brasileiros estão cansados de tanta mentira. “Vivemos uma situação muito grave. Poucos imaginavam que o país fosse viver esse momento de caos. E o PT continua insistindo que está tudo ótimo, que a compra de Pasadena foi um ótimo negócio e a Petrobras vai muito bem”, criticou, ao ressaltar que existe um responsável político por tudo o que está acontecendo. Ainda de acordo com  o tucano,  o Brasil precisa ser passado a limpo para que a população volte a acreditar nas instituições e no governo que rege o país. “Muito foi roubado do Brasil. Não vamos roubar a esperança do brasileiro em busca da verdade.”

(Reportagem: Djan Moreno/ Fotos: Alexssandro Loyola/ Áudio: Hélio Ricardo) 

Compartilhe:
19 março, 2015 Últimas notícias Sem commentários »

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *