Petrolão
Lógica do Mensalão contaminou e destruiu a Petrobras, criticam deputados
Quase dez anos depois de denunciado pelo então deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), o Mensalão – esquema orquestrado pelo governo petista para subornar parlamentares e, assim, garantir maioria no Congresso – sobreviveu tempo suficiente para contaminar a maior estatal do país.
Segundo reportagem do jornal “O Globo” de quinta-feira (22), o vice-presidente da Engevix Gerson de Mello Almada, preso em novembro na sétima fase da Operação Lava Jato, acusou oficialmente o governo federal de “lotear” a administração pública para satisfazer partidos e “usar” a Petrobras para gerar os montantes necessários à compra da base aliada – métodos praticamente idênticos aos utilizados para garantir a governabilidade dos primeiros anos da gestão de Lula.
No mesmo dia, veio a público a informação de que um dos personagens centrais do Mensalão, o ex-ministro José Dirceu, também pode estar envolvido no escândalo da petrolífera. Para o Ministério Público Federal, há indícios de que a empresa pertencente ao petista tenha recebido recursos de empreiteiras ligadas ao esquema de corrupção na Petrobras.
As duas notícias, avaliou o líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy (BA), são os “sinais de que o Mensalão não acabou, apenas migrou para a Petrobras e virou Petrolão”.
Titular do partido na CPI Mista da Petrobras, encerrada em dezembro de 2014, o deputado Carlos Sampaio (SP), disse, em seu perfil no Facebook, que “está cada vez mais evidente que o esquema de corrupção na Petrobras foi articulado com o objetivo de comprar parlamentares aliados e financiar o projeto de poder do PT”.
Experiente promotor de Justiça que já participou de diversas CPIs, Sampaio foi o autor do relatório paralelo da oposição apresentado ao colegiado. Ao reconstituir o enredo de corrupção que tomou de assalto a companhia, ele identificou pontos em comum entre o Petrolão, o Mensalão e o Deltaduto – operação criminosa montada pela Delta Construções para irrigar campanhas eleitorais.
No mesmo documento, o parlamentar ainda reiterou a necessidade de nova CPI da Petrobras em 2015 para apurar, especialmente, vários indícios que apontam para o suposto envolvimento do Palácio do Planalto. Entre eles, o e-mail enviado pelo então diretor de Abastecimento da petrolífera Paulo Roberto Costa em setembro de 2009 à então chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Na mensagem, o diretor orienta para uma “solução política” ao pedido do Tribunal de Contas da União (TCU) de interrupção no repasse de verbas a obras da Petrobras com irregularidades. O Congresso aprovou o corte dos recursos para as obras, mas o então presidente Lula vetou.
Caráter criminoso – O deputado Otavio Leite (RJ) comparou a ação de petistas e aliados no governo federal às mais terríveis organizações criminosas. “Esse grupo que se instalou no Planalto organizado como máfia usurpou recursos públicos e tem uma natureza que não se perde”, disse. “No fundo, era de se supor que a Petrobras seria objeto dessa sanha”, completou.
O tucano afirmou ainda que é favorável à instalação de até duas comissões no Congresso para continuar as apurações sobre as irregularidades na companhia. “A sensação que me dá é que, dado o tamanho, a quantidade e a sucessão de problemas, uma CPI só não daria. Talvez tenha que se desdobrar em duas para dividir tarefas.”
O Palácio do Planalto já avisou que é contrário às intenções dos tucanos e dos demais partidos de oposição. Sem criatividade para lançar novos repertórios, o líder do governo na Câmara, Henrique Fontana (PT-RS), ressuscitou a cantilena de que a investigação está em curso pela Polícia Federal, Ministério Público e Justiça. O argumento, como se sabe, não foi capaz de impedir a instalação da primeira CPMI da Petrobras, em maio de 2014. Deve, mais uma vez, sumir em meio à avalanche de escândalos que inundam o governo de Dilma Rousseff.
(Reportagem: Luciana Bezerra, com informações do jornal “O Globo”/ Foto: Alexssandro Loyola/ Áudio: Kim Maia)
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