No rumo errado


Itamaraty prioriza ideologias em detrimento dos interesses nacionais, reprovam especialistas

Postura do Itamaraty foi reprovada por renomados estudiosos das relações internacionais.

Postura do Itamaraty foi reprovada por renomados estudiosos das relações internacionais.

Seminário promovido pela Comissão de Relações Exteriores da Câmara (CREDN) debateu nesta quarta-feira (10) os “Rumos da Política Externa Brasileira” a pedido do presidente do colegiado, deputado Eduardo Barbosa (MG). Na ocasião, especialistas renomados apontaram erros da atual política internacional adotada pelo governo do PT e demonstraram preocupação com a forma como a ideologia e a partidarização têm tomado conta da diplomacia brasileira.

Sociólogo e comentarista de política internacional, Demétrio Magnoli afirmou durante o seminário que não é apropriado dizer que a política externa brasileira não possui um rumo. Segundo ele, há sim um norte – e este é o problema. Também geógrafo, Magnoli diz que nos últimos 12 anos os interesses doutrinários e ideológicos foram colocados acima dos interesses nacionais. “A política externa brasileira se transformou num campo de política partidária. É a sua terceirização que explica a substituição dos interesses nacionais por uma ideologia, que gera uma verdadeira erosão moral”, criticou.

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O assessor especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, disse que as afirmações de Magnoli são factóides. No entanto, Magnoli criticou a forma de o país se posicionar em relação à violação dos direitos humanos e citou a condenação por parte do Brasil de ataques israelenses na Faixa de Gaza, em contraposição ao silêncio no que diz respeito ao lançamento de foguetes pelo Hamas contra alvos civis israelenses.

Itamaraty depenado – O embaixador Luiz Felipe Lampreia, vice-presidente emérito do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI), disse que o Itamaraty está sendo “depenado constantemente” e vem perdendo suas funções. Lampreia referia-se a ingerência da Presidência da República, por meio de sua assessoria para assuntos internacionais, nos temas inerentes ao Itamaraty. Segundo ele, há uma tentativa de esvaziamento do órgão por parte do governo. No que diz respeito às relações comerciais, o embaixador avaliou que o “Brasil se isolou muito”.

O deputado Emanuel Fernandes (SP) questionou os debatedores sobre o porquê de o Brasil ter uma participação tão pequena no comércio internacional. No mesmo sentido, o 1º vice-presidente da CREDEN, deputado Duarte Nogueira (SP), disse não acreditar que o país esteja no rumo certo. Para ele, o seminário foi de grande importância para chamar a atenção das autoridades sobre o impacto da política externa no comércio exterior, que caminha para ter uma balança comercial deficitária.

Magnoli disse que tais aspectos estão “diretamente relacionados a recusa do Brasil em realizar acordos comerciais”. Segundo ele, a ideologização da política externa tem atrapalhado o país nas relações comerciais. “As parcerias com Estados Unidos e União Europeia hoje são rejeitadas por causa do viés ideológico, sendo que são essas as regiões que mais importam manufaturados do Brasil”, lamentou. Marco Aurélio Garcia negou que exista um “sentimento antiamericano”.

Roberto Teixeira da Costa, integrante do Conselho de Administração da Sul América S.A., lamentou que a política externa não tenha sido discutido na campanha eleitoral deste ano. De acordo com ele, o Brasil está distante da inserção internacional porque as empresas brasileiras se preocuparam apenas com o mercado interno. Um dos desafios, segundo ele, é conseguir uma aproximação entre as nações da América Latina “cada vez mais distantes, principalmente por seus regimes políticos”. Segundo ele, talvez o comércio seja capaz de fazer essa aproximação. Já o embaixador Samuel Guimarães Neto considera como uma das prioridades do país um assento efetivo no Conselho de Segurança da ONU. Outro desafio é a diversidade das exportações.

Ao término do evento, Eduardo Barbosa disse que o seminário foi de suma importância e defendeu que a discussão tenha continuidade no próximo ano. Segundo ele, ficou ainda mais evidente que os desafios da política externa são contínuos e dependem de várias fatores. Para o tucano, é essencial acompanhar de forma constante que o Estado brasileiro faz no sentido de consolidar  uma política externa que possa ser condizente com a grandeza do país.

(Reportagem: Djan Moreno/ Foto: Viola Junior – Câmara dos Deputados/ Áudio: Hélio Ricardo)

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10 dezembro, 2014 Últimas notícias 1 Commentário »

Uma resposta para “No rumo errado”

  1. rubens malta campos disse:

    Demétrio Magnoli sabe o que diz.

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