Mentir, mentir, mentir

Dilma tenta esconder estelionato eleitoral, mas alta de preços atinge cidadão

O recado das urnas e a contínua divulgação de dados negativos e medidas amargas da administração petista ainda não abalaram um dos traços considerados imutáveis da presidente Dilma Rousseff. Com a convicção de quem sempre está certa, especialmente nos assuntos relacionados à economia, contestou, em entrevista coletiva na quinta-feira (6), a crítica da oposição de que vem praticando estelionato eleitoral.

 Para Dilma, não pode ser classificado de fraude ou desfalque o aumento dos juros, das tarifas de energia, do litro da gasolina e do diesel – decisões adotadas por ela após o encerramento do pleito e sobre os quais a petista não deu uma palavra durante a disputa pela Presidência da República. Em silêncio ela também resolveu manter servidores do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que foram impedidos de divulgar durante a campanha o levantamento que apontou o avanço da miséria no país em 2013.

 Para tucanos, não existe outra palavra no vocabulário senão estelionato para definir a conduta da presidente e do PT durante e depois das eleições, embora eles insistam em caçar outra expressão. “Tudo aquilo que ela negou que iria fazer está fazendo. Ela usa o método nazista de repetir a mentira milhares de vezes até virar verdade. A mentira prepondera e acaba enganando a população”, criticou o deputado Luiz Carlos Hauly (PR) nesta sexta-feira (7).

 Pérolas incompreensíveis – Em quase uma hora e meia de conversa com jornalistas no Palácio do Planalto, a petista lançou pérolas incompreensíveis até para os já acostumados com os raciocínios desconexos dela. Sem dizer como e quando, garantiu que pretende reduzir a inflação e gastos. E sem ter a certeza de que suas vagas ideias e iniciativas vão dar certo, apelou para o otimismo ao afirmar “que tem esperança de que o Brasil terá uma recuperação da economia em 2015”.

 Com estarrecedora tranquilidade, Dilma chamou de lorota o represamento de tarifas, que começaram a ser reajustadas após o fechamento das urnas. “Onde é que está o tarifaço? Ele já aconteceu. Essa história que nós represamos é lorota”, disse a presidente, ignorando os recentes aumentos das contas de luz e a fatura de R$ 26,6 milhões que os consumidores de energia terão que saldar a partir do ano que vem em função dos empréstimos tomados pelas distribuidoras junto a bancos.

 Para o deputado Marco Tebaldi (SC), Dilma brinca com a população. “Ela tinha que reconhecer, se tivesse um pouco de humildade, que está fracassando. Deveria se preocupar com o país e não dar entrevista querendo enganar novamente o povo”, enfatizou o parlamentar. “Dilma esperou as urnas fecharem para brindar o país com aumentos nos juros, eletricidade e gasolina. E a miséria cresceu”, completou o deputado Marcus Pestana (MG), presidente do diretório regional do PSDB em Minas Gerais.

Um absurdo? – A respeito do Petrolão, esquema criminoso montado na estatal para desviar recursos e abastecer o caixa do PT e aliados, Dilma lamentou o ocorrido e repetiu o discurso de que não quer engavetar investigações, embora o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, tenha feita isso 82 vezes desde o ano passado. Questionada sobre a possível demissão da presidente da Petrobras, Graça Foster, respondeu que era “um absurdo” a colocação.

Ainda que tenha encerrado bem ao seu estilo o debate sobre o tema com os jornalistas, a presidente não poderá se esquivar por tanto tempo dos vários assuntos negativos que marcam a gestão dela, alertou o deputado Duarte Nogueira (SP). “Os ‪brasileiros têm na memória o destino de governantes que se elegeram enganando o povo. Dilma logo verá que, ao contrário do que sustenta seu marketing, o vale-tudo tem limites. São expedientes que a sociedade não aceita. Principalmente quando percebe que foi‪ enganada.”

 (Reportagem: Luciana Bezerra/ Foto: Alexssandro Loyola/ Áudio: Hélio Ricardo)