Para ficar na história

Valdivino: política econômica petista envelheceu, mas governo Dilma teima em mantê-la

Autor do jargão “nunca antes na história deste país”, o ex-presidente Lula não imaginaria que a frase de efeito criada por ele fosse completada por sua sucessora com dados tão negativos. O mais recente deles, vindo da Fundação Getulio Vargas (FGV), aponta a deterioração do clima econômico no Brasil e consolida o diagnóstico de que “nunca antes na história deste país” uma gestão coleciona tantos indicadores adversos. 

Medido a cada três meses pela FGV a partir de questionário distribuído a economistas independentes, o Indicador de Clima Econômico (ICE) chegou a 55 pontos no trimestre encerrado em julho. É a pior avaliação desde os 54 pontos de janeiro de 1991, durante o governo do ex-presidente Fernando Collor de Melo, quando houve confisco da poupança.

Uma série de fatores, todos desfavoráveis para a gestão de Dilma Rousseff, explica o resultado pífio: gastos públicos elevados, baixas expectativas de investimento e crescimento, resistência da inflação e fraqueza das contas externas. “A grande desconfiança dos economistas e o pessimismo que toma conta do mercado decorrem de uma política econômica que envelheceu e que o governo teima em mantê-la”, analisou nesta quinta-feira (14) o deputado Valdivino de Oliveira (GO), que é economista.

De acordo com o parlamentar, um dos indicativos que reforça a perspectiva negativa é justamente a modesta participação dos investimentos no Produto Interno Bruto (PIB) do país. “Os integrantes dos BRICs (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), por exemplo, investem de 25% a 26% do PIB. Enquanto o Brasil não chega nem a 18%”, explicou o tucano, para o qual existe somente uma solução capaz de alterar o cenário. “Só uma política econômica com novos pressupostos poderia mudar esse ambiente desfavorável que vemos pela frente.”

PIOR QUE OS VIZINHOS – Para chegar ao indicador, os pesquisadores da FGV avaliaram dois subitens: situação atual e expectativas nos próximos seis meses. O primeiro foi o que apresentou a queda mais acentuada – desceu de 68 para 42 pontos de abril para julho. Nos últimos dez anos, a média brasileira é de 121 pontos.

No indicador de expectativas, o recuo foi de 74 para 68 pontos. Número bem menor se comparado à média verificada desde 2004: 113 pontos.

A instituição revelou que o resultado do Brasil supera somente o da Venezuela (20 pontos). Chega a ser, inclusive, pior do que o da Argentina (57 pontos), que enfrenta a segunda moratória em 13 anos.

O estudo também mostrou que o Brasil tem ido na contramão das demais nações. Enquanto a situação piora por aqui, os Estados Unidos retomam sua economia (ICE subiu de 125 para 132 pontos) e a China consegue frear a sua desaceleração financeira (88 para 102 pontos).

PARA LEMBRAR – Em janeiro de 1991, quando o Brasil alcançou o pior indicador de clima econômico de sua história, a população ainda sofria os efeitos do Plano Collor 1 e vivia a expectativa do anúncio da segunda edição do programa econômico.

Em março de 1990, o recém-eleito presidente informou a população sobre o confisco das cadernetas de poupança, a proibição de reajustes sem autorização do Ministério da Fazenda e a abertura comercial do país, entre outras iniciativas, com o argumento de “jogar tudo contra a inflação”, que chegava a 2.000%.

As medidas, no entanto, não surtiram todos os resultados esperados. E, em 31 de janeiro de 1991, o presidente e sua equipe lançaram mão do Plano Collor 2, que determinou o congelamento de preços e salários e outras ações.

Mas foi apenas com o Plano Real, elaborado por uma equipe liderada pelo então ministro Fernando Henrique Cardoso, que o Brasil conseguiu derrotar o dragão inflacionário. 

(Reportagem: Luciana Bezerra, com informações dos jornais “Folha de S.Paulo” e “O Estado de S.Paulo”/ Foto: Alexssandro Loyola)