Artimanha petista

Na CPI Mista da Petrobras, tucanos destacam gravidade de trama denunciada por “Veja”

 A denúncia da revista “Veja” sobre a existência de um esquema de antecipação de perguntas a depoentes da CPI da Petrobras no Senado marcou a sessão desta quarta-feira (6) da CPI Mista que investiga malfeitos na estatal. Durante o depoimento do ex-diretor da Área Internacional da empresa, Jorge Zelada, parlamentares do PSDB chamaram atenção para a gravidade do episódio revelado.

 A publicação divulgou um vídeo no fim de semana em que três servidores da Petrobras discutem cada passo da trama para entregar previamente os questionamentos ao ex-presidente da estatal José Sérgio Gabrielli, ao ex-diretor Nestor Cerveró e à atual presidente da companhia, Graça Foster. Segundo “Veja”, servidores do Senado e da Presidência da República também participavam da elaboração dos kits de perguntas e respostas.

O líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy (BA), manifestou a indignação da bancada com o caso. “É estarrecedor para a população que técnicos do Senado, do Palácio do Planalto e altos dirigentes da Petrobras tivessem feito o que fizeram na tentativa de obstruir a CPI do Senado”, criticou.

O tucano apelou ao presidente da comissão, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), para que o colegiado não frustre a sociedade, pois as investigações feitas pelos senadores para apurar desmandos na Petrobras caíram no descrédito. “Nossa responsabilidade é agora bem maior”, alertou o líder.

AÇÕES EMERGENCIAIS – Suplente do PSDB na comissão, o deputado Izalci (DF) pediu a  Vital do Rêgo, por meio de requerimento, que aprove a adoção de duas medidas urgentes. A primeira é afastar o assessor da liderança do governo no Senado, Marcos Rogério de Souza, e o secretário parlamentar do PT na Casa, Carlos Hetzel, dos trabalhos do colegiado. “Inclusive impedindo o acesso deles a todos os dados sigilosos que foram ou venham a ser disponibilizados pela CPI mista”, destacou.

Os dois servidores estão entre os integrantes do esquema denunciado por “Veja”. A Souza e Hetzel caberia a elaboração das perguntas junto com o assessor especial da Secretaria de Relações Exteriores (SRI) do Planalto, Paulo Argenta.

 A outra iniciativa é a anulação das sessões da comissão mista em que foram colhidos os depoimentos de Graça Foster e Gabrielli. O tucano sugeriu que eles sejam convocados novamente para prestar esclarecimentos.

 “É indiscutível que a prática espúria adotada naquela comissão (CPI da Petrobras no Senado) se repete no âmbito dessa comissão mista. Até porque a relatoria das duas comissões é capitaneada pelo PT. Portanto, a fim de garantir o mínimo de credibilidade dessa CPI mista, entendo que essas duas medidas devem ser adotadas imediatamente”, justificou o parlamentar.

 NÃO SEI E NÃO VI – Em pouco mais de duas horas de depoimento, Zelada detalhou a sua trajetória na companhia ao longo de 32 anos e negou que tenha participado da negociação pela compra da refinaria de Pasadena (EUA).

 O ex-diretor, no entanto, defendeu a operação e minimizou os efeitos da omissão das cláusulas “Put Option” e “Marlim” no documento elaborado pelo seu antecessor no cargo, Nestor Cerveró, que convenceu o conselho de administração da estatal a adquirir a unidade.

 A primeira cláusula determinava que, havendo desavença entre os sócios de Pasadena, a outra parte seria obrigada a adquirir o restante das ações da refinaria. A “Marlim” assegurava à empresa belga Astra Oil, sócia da Petrobras no negócio, um lucro de 6,9% ao ano.

 A opinião de Zelada contraria a versão adotada pela presidente Dilma Rousseff para justificar a negociação pela refinaria, ocorrida no período em que ela presidia o conselho de administração da Petrobras. Segundo a petista, a compra só foi aprovada porque as cláusulas foram omitidas em um resumo “técnica e juridicamente falho”.

(Reportagem: Luciana Bezerra/ Foto: Lucio Bernardo Jr. / Câmara dos Deputados/ Áudio: Hélio Ricardo)