Administração letal

Não há dúvida sobre gravidade de maracutaias em torno de Pasadena, diz tucano

Fincada num dos maiores hubs petrolíferos do mundo, o estado norte-americano do Texas, e um dos símbolos do avanço internacional da Petrobras, a refinaria de Pasadena foi convertida na síntese da controversa e letal dinâmica administrativa que vigora na companhia desde que o PT assumiu o poder. Negligência, incompetência e malversação de recursos permeiam a operação que culminou na aquisição da unidade e deixou um rombo de US$ 530 milhões nos cofres da empresa.

Matéria de “O Globo” desta segunda-feira (14) revela que o Conselho de Administração da Petrobras não levou a sério o alerta do conselheiro Fábio Barbosa sobre a necessidade de se aperfeiçoar os mecanismos para coibir “atos lesivos ao patrimônio da companhia”. O aviso foi feito durante reunião de 3 de fevereiro de 2006, dia em que o colegiado aprovou a compra de 50% de Pasadena. O empreendimento exigiu o desembolso total de US$ 1,249 bilhão, além de US$ 685 milhões em investimentos básicos para funcionar e US$ 1,4 bilhão em empréstimos.

Dilma presidiu a reunião de 3 de fevereiro na presença de mais quatro conselheiros além de Barbosa: Antonio Palocci Filho, Cláudio Haddad, Gleuber Vieira e José Sergio Gabrielli, então presidente da Petrobras. Os integrantes da Diretoria Executiva também estavam no encontro, entre eles Nestor Cerveró (Internacional) — autor do “parecer falho” citado pela petista como justificativa para a compra de Pasadena — e Paulo Roberto Costa (Abastecimento), preso pela Operação Lava Jato, da Polícia Federal.

“Não tenho mais dúvida nenhuma de que houve maracutaia e negociata combinada em Pasadena. Foi tudo esquematizado: como comprar, como fazer para o sócio sair da sociedade, como pagar”, disse o deputado Izalci (DF), que é suplente do PSDB na CPI Mista da Petrobras.

PALAVRAS AO VENTO – De acordo com a reportagem, Barbosa havia tratado do mesmo assunto nove dias antes, durante reunião do Comitê de Auditoria, do qual ele é presidente. Na ocasião, ficou definido que a estatal daria prioridade às demandas dos órgãos de controle. Entre eles, o Tribunal de Contas da União (TCU) e a Controladoria-Geral da União (CGU). No encontro dos conselheiros, eles ouviram o diagnóstico de que a Petrobras tinha “baixo índice de respostas das diversas áreas para as deficiências nos controles internos e respectivos planos de remediação”.

De 2006 para cá, não é difícil constatar que as orientações do conselheiro passaram somente de palavras ao vento. A construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, desponta como exemplo emblemático do poder destruidor da combinação de incompetência com malversação de recursos públicos. Três anos atrasada, a obra deve consumir até novembro, quando será concluída, US$ 20,1 bilhões, valor dez vezes maior que o previsto originalmente.

O mesmo acontece na construção da refinaria Premium I, no Maranhão. Localizada em Bacabeira, a 60 quilômetros da capital São Luis, a unidade coleciona graves irregularidades. Paralisada na fase da terraplanagem, a obra já consumiu R$ 583 milhões, além de mais de R$ 1 bilhão em projetos, treinamentos, transporte e estudos ambientais.

REQUERIMENTOS – Integrantes da CPI Mista da Petrobras se reúnem na quarta-feira (16) para votar 395 requerimentos, entre convocações e pedidos de quebras de sigilos fiscal, bancário e telefônico de envolvidos em alguns episódios nebulosos da Petrobras, como a compra de Pasadena e a construção da refinaria Abreu e Lima. Há cinco semanas, o colegiado tenta analisar os itens. No entanto, tem sido difícil formar quórum, já que os governistas não comparecem à CPI mista.

Na avaliação de Izalci, a situação deve mudar esta semana, já que o Palácio do Planalto pretende aprovar alguns projetos no Congresso Nacional. Para isso, vai mobilizar sua base para as votações. “O governo tem interesse em adiantar a LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias). A turma dele tem que estar aqui”, afirmou. “Vai ficar muito ruim para os governistas, diante da mídia, se eles comparecerem na Casa e não participarem da CPI mista.”

(Reportagem: Luciana Bezerra/ Foto: Alexssandro Loyola/ Áudio: Hélio Ricardo)