Negligência da estatal


Tucanos contestam tranquilidade de Gabrielli na CPMI e cobram explicações sobre denúncias

Numa audiência de mais de quatro horas da CPI Mista da Petrobras,  nesta quarta-feira (25), deputados do PSDB exigiram do ex-presidente da estatal José Sérgio Gabrielli esclarecimentos sobre a construção da 14320792570_fe37f173a4_brefinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e a atuação criminosa do ex-diretor de Abastecimento da empresa Paulo Roberto Costa, preso pela Polícia Federal. Eles cobraram ainda explicações a respeito da licitação vencida pela empresa Sete Brasil para a construção, operação e afretamento de 28 sondas de exploração de petróleo e gás em águas profundas ao custo de US$ 82 milhões.

Ao contrário da presidente da companhia, Graça Foster, que admitiu aos integrantes da comissão estar constrangida diante dos escândalos que envolvem a petroleira, Gabrielli minimizou as denúncias que abalam a estatal e chegou a bater boca com um parlamentar do PPS afirmando que ele tinha direito de fazer “o espetáculo” que quisesse.

Ao ex-dirigente, o líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy (BA), disse que ele deveria “estar envergonhado com tudo o que aconteceu na Petrobras”. “Vossa senhoria não poderia estar sentado com esse semblante aparentando tranquilidade porque sabe das consequências que acontecerão. O PT fez uma gestão temerária na maior empresa estatal do Brasil”, criticou.

Imbassahy questionou Gabrielli sobre as cláusulas do contrato que o governo brasileiro teria celebrado com a PDVSA, a Petroleos de Venezuela S.A, para construção da refinaria Abreu e Lima. Há 11 anos, ela foi anunciada pelos ex-presidentes Lula e Hugo Chávez como símbolo da união entre os dois países. No entanto, a estatal venezuelana deixou a parceria e coube à Petrobras tocar a obra sozinha. “Por que não foi estabelecido contrato ou mecanismo que protegesse a Petrobras de uma eventual inadimplência da PDVSA? A Petrobras simplesmente negligenciou”, declarou o tucano.

Para surpresa dos integrantes do colegiado, o petista respondeu que não foi formalizada nenhuma parceria entre as partes, contrariando o que foi alardeado pelo Palácio do Planalto, Lula e Chávez. “O Brasil assistiu inúmeras vezes vossa senhoria e o ex-presidente Lula falando que havia um contrato, passando com muita clareza, clareza meridiana, o compromisso da PDVSA com a Petrobras. Vossa senhoria e Lula enganaram a sociedade naquele momento”, reprovou o tucano.

Erguida em Ipojuca, na região metropolitana de Recife, a refinaria pernambucana é o centro de uma polêmica que envolve falta de planejamento, contratos superfaturados, irregularidades e corrupção, conforme apurou o Tribunal de Contas da União (TCU). Inicialmente orçado em US$ 2,5 bilhões, o empreendimento está três anos atrasado e deve consumir cerca de US$ 20,1 bilhões, valor dez vezes maior que o estimado preliminarmente e seis vezes superior que todo o dinheiro gasto pelo país na construção e na reforma de 12 estádios para a Copa do Mundo.

AÇÃO CRIMINOSA – Imbassahy perguntou ainda se Gabrielli nunca havia notado a atuação criminosa de Paulo Roberto Costa na estatal. “Na condição de ex-presidente da Petrobras, como vossa senhoria não percebeu que havia um câncer na empresa com ramificações em várias áreas? “, questionou. “O Paulo Roberto era homem de sua confiança, a ponto de vossa senhoria levá-lo para uma reunião no Palácio do Planalto com a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e o ex-presidente Lula?”, perguntou ainda o líder, mostrando uma fotografia na qual aparecem os quatro.

Preso em 17 de março durante a Operação Lava Jato, da Polícia Federal, o ex-diretor é suspeito de participar de um esquema de evasão de divisas e lavagem de dinheiro que teria movimentado R$ 10 bilhões.

Uma das atividades de Costa, segundo as investigações, seria administrar o “condomínio da corrupção”, que arrecadava propinas de empresas fornecedoras de produtos e serviços da Petrobras. Os repasses variavam de R$ 300 mil a R$ 500 mil. O ex-diretor chegou a ser solto 59 dias depois, mas voltou à carceragem da PF em 12 de junho. De acordo com o entendimento do juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal do Paraná, ele poderia fugir do país devido a supostas contas que mantém na Suíça com depósitos de US$ 23 milhões.

Imbassahy pediu esclarecimentos também sobre a concorrência feita pela Petrobras para aquisição de sondas de exploração de óleo e gás em águas profundas e da qual a empresa Sete Brasil foi a vencedora. “É importante que o Brasil saiba que essa empresa venceu uma licitação quando só houve um concorrente. O valor desse contrato foi de US$ 82 milhões”, disse. “Como se fez esse arranjo operacional para que a Petrobras pudesse fazer um contrato dessa magnitude?”

PASADENA – O deputado Izalci (DF), suplente da bancada tucana na CPI Mista da Petrobras, chamou de “grande negociata” a operação que culminou na aquisição da refinaria de Pasadena (EUA). Comprada por US$ 1,249 bilhão, a unidade representou um prejuízo de US$ 530 milhões para a companhia.

 “Pasadena estava à venda há algum tempo pela Crown. Num belo dia, um ex-funcionário da Petrobras, que era vice-presidente da Astra Oil, comprou a refinaria. Um mês depois, ele oferece Pasadena para a Petrobras. Por que a companhia não comprou sem a intermediação da Astra?”, questionou.

O tucano perguntou se o ex-presidente da Petrobras se dispunha a abrir mão dos sigilos fiscal, bancário e telefônico de 2005 até a atualidade. Gabrielli disse que não respondia a nenhum processo nem era investigado para abrir seus sigilos.

Izalci o indagou ainda sobre as suspeitas de corrupção envolvendo a construção da Abreu e Lima e são apuradas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público. “O senhor tinha ciência dos recorrentes aditivos aprovados pelo conselho de administração da refinaria, que era presidido pelo Paulo Roberto Costa?”.

De acordo com uma série de reportagens do jornal “O Globo”, foram registrados US$ 3 bilhões em custos adicionais na Abreu e Lima, por meio de aditivos realizados a partir de março de 2008. Até dezembro do ano passado, houve 141 alterações contratuais com acréscimos de custos. Durante 2013, a média foi de três aditivos por quinzena.

 DISCURSO  SUPERFICIAL – Em pouco mais de 20 minutos de exposição, o ex-titular da Petrobras se restringiu a defender a aquisição da refinaria de Pasadena (EUA), que custou ao todo US$ 1,249 bilhão. Segundo Gabrielli, a unidade foi “barata e comprada abaixo do preço de mercado”, conforme já havia dito em audiências anteriores no Congresso.

Na tentativa de demonstrar que a operação não foi desastrosa para os cofres da companhia, ele disse que Pasadena registrou lucro de US$ 62 milhões no primeiro trimestre deste ano. Ele negou ainda que a Astra Oil tenha comprado a refinaria norte-americana por US$ 42 milhões antes de vendê-la para a Petrobras. “É uma informação equivocada e falsa. O custo foi de US$ 360 milhões”, afirmou.

A respeito da construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, Gabrielli afirmou que ela atendia ao plano estratégico da Petrobras. Para justificar o aumento vertiginoso dos  custos da obra, que saltou de US$ 2,5 bilhões para quase US$ 20,1 bilhões, ele declarou que se trata de um empreendimento de complexidade. O ex-presidente admitiu, no entanto, que não aprovaria a construção em Pernambuco com os valores atuais.

(Reportagem: Luciana Bezerra/ Foto: Alexssandro Loyola)

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25 junho, 2014 Últimas notícias Sem commentários »

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