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O resgate da Petrobras, por Domingos Sávio

A saga da Petrobras começa nos anos 1940, bem antes de ser criada, em outubro de 1953. Em operação, a estatal muda completamente a economia do petróleo no Brasil. A trajetória da maior empresa do país, patrimônio e orgulho dos brasileiros, é feita de superação de desafios, como quando ficou sob o controle dos militares com o golpe de 1964. Apesar da adversidade, a empresa resiste e mantém seu caminho de sucesso. A partir de 2003, a estatal sofre um novo revés. No lugar de critérios técnicos e de competência administrativa, a Petrobras, então referência mundial, passa a ser usada como moeda de troca no jogo de vantagens partidárias e pessoais, em prejuízo do interesse público. Como resultado, sua eficiência e produtividade desabam e, em apenas quatro anos, o valor de mercado da companhia caiu em mais de 50%. Passou de R$ 380 bilhões para R$ 179 bilhões entre 2010 e 2014.

Perdas bilionárias foram debitadas na conta da empresa, como as aquisições nebulosas das refinarias de Pasadena, no Texas, e Nansei, no Japão. Esta última, comprada em abril de 2008 por US$ 71 milhões, obrigou a Petrobras a gastar o triplo desse valor para resolver problemas ambientais e fazer melhorias operacionais na unidade e mesmo assim opera com carga mínima de sua capacidade. Na lista de danos para a saúde financeira da estatal, incluem-se ainda as refinarias do Maranhão, do Ceará e do Rio de Janeiro – todas atrasadas em até cinco anos. Pior ainda é o caso da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Prevista para começar a operar em 2010, o seu custo pulou de US$ 2,3 bilhões para US$ 20 bilhões, mas até hoje continua em construção. Os prejuízos para a Petrobras, resultado do atual “modelo de administração”, parecem não ter mais fim. Foram tantos malfeitos, que a empresa, tida como mito nacional, foi parar nas páginas policiais. Investigação da Polícia Federal trata a estatal como “seio de uma organização criminosa”. Os estragos, assim, são econômicos e de imagem da empresa. Agora, no entanto, com a instalação da CPI Mista da Petrobras, o país tem a oportunidade única de passar a companhia a limpo e estancar a sangria a que ela vem sendo submetida. À oposição, apesar de ser minoria no colegiado (conta com oito dos 32 membros efetivos), caberá desenvolver uma apuração competente e séria, como a que foi realizada na CPMI dos Correios, que acabou por levar à cadeia vários mensaleiros. Todos os esforços serão feitos para descobrir os responsáveis e o alcance das perdas infligidas à Petrobras.

Nenhum instrumento legal e democrático posto à disposição dos parlamentares em uma comissão de investigação poderá ser descartado. Assim, além da convocação de pessoas, pediremos a quebra do sigilo bancário e telefônico dos investigados, bem como a requisição de informações e documentos sigilosos. Os partidos oposicionistas, que já alcançaram uma vitória importantíssima ao conseguir instalar a CPI Mista da Petrobras, mesmo enfrentando todo tipo de manobras e pressões por parte da base política do governo Dilma, esperam ser, ao lado da mídia, o agente da população brasileira no resgate da empresa que por mais de 60 anos vinha traduzindo o que o país tem de melhor.

(*) O deputado Domingos Sávio é líder da Minoria na Câmara dos deputados. Artigo publicado no jornal “O Estado de Minas”. (Foto: Alexssandro Loyola)

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11 junho, 2014 Últimas notícias Sem commentários »

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