Abuso de poder

Pronunciamento de Dilma sobre a Copa foi abusivo e arrogante, avaliam tucanos

Deputados do PSDB classificaram de abusivo, prepotente e arrogante o pronunciamento realizado pela presidente Dilma Rousseff em rede nacional de rádio e TV na noite de terça-feira (10). Ao longo de pouco mais de dez minutos, ela defendeu a realização da Copa no Brasil e atacou supostos “pessimistas” que não acreditam no evento. Apesar do legado distante do prometido pelos petistas desde 2007, Dilma destacou os estádios e a expansão operacional dos aeroportos, tomados ainda por  tapumes e com obras em andamento.

O líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy (BA), criticou a tentativa da presidente de vender aos brasileiros as supostas maravilhas feitas para a Copa. O Brasil descrito por ela, no entanto, está muito distante daquele onde vivem os brasileiros. “Difícil identificar o tal legado da Copa, já que boa parte das obras está atrasada e muitas foram canceladas. Também criticou “os pessimistas”. Seriam eles os brasileiros que cobram as promessas não cumpridas, que exigem um país melhor? O fato é que, ao usar a televisão, ela tenta se esquivar de encarar os brasileiros”, frisou.

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Segundo o deputado Marcus Pestana (MG), Dilma cometeu um “verdadeiro abuso de poder” ao usar uma prerrogativa institucional para atuar como uma líder de facção, de partido e candidata à reeleição. “Ela faz aquilo como se fosse horário eleitoral gratuito do PT, chamando para a polêmica a oposição, que não tem chance de fazer o contraponto”, criticou. “Naquele espaço deve aparecer o estadista em momentos graves, de comoção social, epidemia, crise econômica aguda, catástrofe e tragédias”, completou.

O tucano destacou ainda a ofensiva de Dilma aos cidadãos que contestam os excessivos gastos feitos pelo governo para realizar o evento. “A presidente foi para cima dos brasileiros e chamou de derrotistas aqueles que contestam os investimentos e legitimamente levantam questões sobre o superfaturamento das obras e a ineficiência petista”, afirmou. “Afinal, a Copa vai custar mais do que as três competições anteriores somadas”, comparou.

Na avaliação de Pestana, a tentativa da presidente de acalmar a animosidade dos brasileiros “sairá pela culatra”. “Esse discurso é velho e não convence. Quanto mais ela se expõe, mais a rejeição dela cresce”, disse o parlamentar, que também se manifestou contra o pronunciamento de Dilma em seu Twitter. “Dilma abusa do poder usando pela 18ª vez a rede nacional de rádio e TV não como estadista, mas como líder de facção e partido, para falar sobre a Copa. Ontem, nas broncas de Dilma, sobrou até para brasileiros que questionam a Copa”.

Para o deputado Alfredo Kaefer (PR), a “arrogância e prepotência” da petista destoam do sentimento nacional. “A gente sabe que a realidade é outra. Não houve equilíbrio nos gastos para o evento e recursos deixaram de ser investidos em áreas essenciais”, declarou o parlamentar, que, assim como Pestana, salientou o aumento da desaprovação ao governo da presidente, segundo as pesquisas de opinião. “Os brasileiros rejeitam a administração dela.”

ESFORÇO EM VÃO – O PSDB criticou a conduta de Dilma por meio de nota à imprensa enviada ainda na noite de terça-feira. “A presidente ultrapassou ainda mais os limites na mistura do interesse público e dos interesses pessoal e partidários, algo que já se tornou sistemático em seu governo.”

De acordo com a nota, o pronunciamento da presidente “foi um esforço para transformar em motivo de orgulho nacional obras inacabadas, gastos superfaturados e a absoluta falta de capacidade de gestão” da atual gestão.

 DISCRIMINAÇÃO – Segundo a deputada Mara Gabrilli (SP), a Presidência da República ignorou cerca de 350 mil surdos que existem no país ao não disponibilizar intérprete da Língua Brasileira de Sinais (Libras) durante o discurso de Dilma em cadeia nacional.

“Por mais de uma vez, já entrei em contato com a Secretaria de Comunicação da Presidência da República solicitando o recurso de intérprete de LIBRAS nos pronunciamentos oficiais. Por mais de uma vez, pediram desculpas e garantiram que esse erro não voltaria a se repetir”, afirmou a parlamentar em seu perfil no Facebook. “Presidente Dilma: errar uma vez é humano. Persistir nesse erro é desrespeito e preconceito”, acrescentou.

(Reportagem: Luciana Bezerra/Fotos: Alexssandro Loyola/ Áudio: Hélio Ricardo)