Poço de falcatruas
Cresce lista de denúncias a serem investigadas pela CPI Mista da Petrobras
Assim como os poços do pré-sal explorados pela Petrobras, que, a cada período, surpreendem com números recordes de produção, as suspeitas de corrupção na companhia não param de jorrar e estarrecer negativamente os brasileiros. Elas abastecem a já robusta relação de malfeitos que serão apurados na CPI Mista da Petrobras, com início dos trabalhos previsto para esta quarta-feira (28).
O mais recente deles foi divulgado na edição da revista “Época” do fim de semana. De acordo com investigações da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, a dinamarquesa Maersk – maior empresa de transporte de petróleo do mundo – pagou ao menos R$ 6,2 milhões de “comissão”, entre 2006 e 2010, para alugar navios à Petrobras. De cada pagamento feito pela Petrobras à Maersk, segundo a PF, 1,25% era devolvido ao ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa na forma de propina. O dinheiro era repassado para a conta da empresa Gandra Brokerage, que pertencia a um parceiro do ex-diretor, Wanderley Gandra.
No rastro desse caso, a “Folha de S.Paulo” desta segunda-feira (26) divulgou relatório de auditoria interna realizada na estatal em 2009 e no qual são detalhados contratos milionários fechados de maneira informal pela diretoria comandada por Paulo Roberto. Alguns deles teriam sido celebrados somente com autorização verbal. A auditoria mostrou que os acordos realizados sem obedecer aos critérios de controle teriam totalizado R$ 278 milhões.
As denúncias, segundo o deputado Alfredo Kaefer (PR), serão investigadas e esclarecidas na CPI Mista da Petrobras. “Vamos ter a oportunidade de desvendar tudo isso. A população brasileira precisa e tem direito de conhecer toda a verdade sobre os desmandos e falcatruas realizados na empresa”, afirmou o tucano.
EM AÇÃO – No fim de semana, o líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy (BA), anunciou que serão incluídos três requerimentos no conjunto de ações que o partido apresentará na comissão mista. Serão pedidas a quebra de sigilo da empresa Gandra Brokerage, a convocação de Wanderley Gandra e a requisição dos contratos de fretamento de navios entre a Petrobras e a Maersk.
“Há mais de dois meses a imprensa tem trazido denúncias de irregularidades, superfaturamento e corrupção envolvendo a Petrobras. Por onde se olha, há algo a ser investigado. O governo Dilma fez o que pode para impedir a instalação da CPI Mista, mas não conseguiu”, destacou Imbassahy. “Queremos uma investigação aprofundada, uma radiografia das ações criminosas e de seus responsáveis. Só assim vamos proteger e preservar a Petrobras, patrimônio de todos os brasileiros”, acrescentou o líder.
MUITO TRABALHO – O caso Maersk se soma a uma série de operações duvidosas que comprometem os cofres e a credibilidade da petroleira brasileira. Sobram evidências do aparelhamento e da malversação dos recursos públicos e dos acionistas da Petrobras. A polêmica compra da refinaria de Pasadena (EUA), a US$ 1,249 bilhão, abriu um vasto campo a ser investigado pelos parlamentares governistas e da oposição.
É preciso esclarecer, por exemplo, a compra da refinaria de Okinawa (Japão), o suposto pagamento de propina no valor de US$ 139 milhões a funcionários da estatal pela empresa holandesa SBM Offshore e a venda de poços da petroleira na África a um preço bem abaixo do mercado para o banco BTG Pactual.
No Brasil também despontam vários casos suspeitos: os indícios de superfaturamento nas obras das refinarias Abreu e Lima, em Pernambuco, e Premium I, no Maranhão, além do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj).
A unidade pernambucana foi orçada inicialmente em US$ 2,5 bilhões, mas já consumiu US$ 18 bilhões. O empreendimento no Maranhão parou ainda na fase de terraplanagem em virtude de uma série de irregularidades, segundo o Tribunal de Contas da União (TCU), e já exigiu quase R$ 1,6 bilhão em investimento. O Comperj deve custar no total US$ 30,5 bilhões, cinco vezes mais que o orçamento original, aponta relatório do TCU.
DEPOIMENTO – Enquanto a comissão mista é preparada para iniciar os trabalhos, a CPI do Senado sobre a estatal realiza audiência nesta terça-feira (27) com a presidente Graça Foster, a partir das 10h15.
(Da redação, com informações da revista Época/ Foto: Alexssandro Loyola/ Áudio: Hélio Ricardo)
Como cidadão, espero ver tudo devidamente apurados e a população brasileira informada….