Tempo perdido


Para tucanos, depoimento de Gabrielli na CPI da Petrobras no Senado foi uma farsa

Conversa entre amigos: sem a presença da oposição, Gabrielli disse o que quis sem ser contestado.

Conversa entre amigos: sem a presença da oposição, Gabrielli (D) disse o que quis sem ser contestado.

Deputados do PSDB classificaram de “farsa” e “ação entre amigos” o depoimento prestado nesta terça-feira (20) pelo ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli à CPI sobre a estatal em andamento no Senado. Os tucanos voltaram a defender o início dos trabalhos da CPI Mista da Petrobras  já nesta semana.

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O clima amistoso da comissão, formada exclusivamente por governistas, foi o ambiente propício para Gabrielli se retratar publicamente com a presidente Dilma Rousseff e atacar a oposição. Recentemente ele cobrou da petista que assumisse sua responsabilidade em relação ao negócio – um dos piores da história da Petrobras. Mas hoje mudou o tom, ao defender a aquisição e poupar Dilma. Ainda segundo ele, os partidos contrários ao governo petista querem fazer espetáculo com as investigações e destruir a Petrobras.

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O líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy (BA), chamou de fantasiosas as afirmações do ex-dirigente.  “Ele está delirando. Fez uma gestão temerária e está muito preocupado com as consequências advindas dos graves prejuízos que causou à principal empresa brasileira, que é orgulho de todo país”, criticou.

Imbassahy defendeu, mais uma vez, o início das apurações da comissão mista e contestou ainda a conduta dos governistas na CPI do Senado. “Queremos a CPMI. A do Senado é chapa branca e faz de conta”, disse o parlamentar, que censurou o comportamento de Dilma Rousseff em relação ao Congresso. “Ela subjugou como sempre sua base aliada no Senado e não vê aqui parceiros para contribuir com o país, mas pessoas que devem ser submetidas à vontade dela.”

Para o primeiro vice-líder do partido na Câmara, Vanderlei Macris (SP), houve uma “ação entre amigos” durante as mais de três horas de depoimento do ex-titular da Petrobras. “Vi uma farsa. Apenas senadores da base do governo, a maioria deles desconhecidos, atuando na tentativa de mostrar uma versão sobre a Petrobras. O governo quer mostrar apenas o seu lado”, declarou. “Precisamos mostrar a verdade. Por isso, a CPMI é o caminho, é onde terá o contraponto”, acrescentou o tucano.

Bate-papo entre colegas – Diante de poucos senadores, todos da base aliada, Gabrielli assumiu um tom conciliador sobre Dilma Rousseff. Depois de chamá-la para a briga por meio dos jornais, recuou e a isentou de qualquer responsabilidade sobre a compra de Pasadena, que custou US$ 1,249 bilhão para a companhia.

“Não considero a presidente responsável pela compra de Pasadena. A responsabilidade é da diretoria da Petrobras e do Conselho de Administração, que passou por todos os procedimentos internos da Petrobras. Então, essa que é a questão chave. É um processo de decisão que não é individualizado, é um processo de decisão coletiva”, alegou. Para completar, o ex-dirigente encheu a presidente de adjetivos, como gerente de “competência” e “sensibilidade”.

Ainda assim, Gabrielli defendeu a operação que culminou na aquisição da unidade norte-americana, contrariando a versão adotada por Dilma. Afirmou que, no primeiro momento, era um bom negócio. Com a crise de 2008 e as consequentes mudanças no mercado, Pasadena significou prejuízo, mas que está sendo revertido desde 2013. De acordo com ele, a unidade foi premiada na semana passada pela Associação de Refinadores e Petroquímicos dos EUA.  

À vontade com a presença dos aliados do Palácio do Planalto, Gabrielli respondeu com  rapidez as mais  200 perguntas, 134 delas do relator da comissão, senador José Pimentel (PT-CE), que não contestou nenhuma das colocações do ex-presidente. Questionado pela imprensa sobre o tom amigável dos governistas diante do colega de partido, Pimentel afirmou que a “agressividade é típica de uma ditadura” e deu uma aula sobre como deve ser feito um questionamento num estado democrático de direito. “Você formula a pergunta e, ao mesmo tempo, subsidia com um conjunto de outros documentos.”

(Reportagem: Luciana Bezerra/Foto: Geraldo Magela – Agência Senado/ Áudio: Hélio Ricardo)

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20 maio, 2014 Últimas notícias Sem commentários »

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