Pela tangente


Ministro da Fazenda fugiu do tema Pasadena e tentou mostrar um cenário econômico irreal, avaliam tucanos

Petista errou previsões diversas vezes nos últimos anos.

Petista errou previsões diversas vezes nos últimos anos. Para Macris, números equivocados afetam credibilidade do país aqui e no exterior.

Para deputados do PSDB, as mais de cinco horas de depoimento do ministro da Fazenda, Guido Mantega, nesta quarta-feira (14), não foram suficientes para esclarecer a polêmica compra da refinaria de Pasadena (EUA), os desmandos na Petrobras e a situação real da economia brasileira. Mantega foi ouvido em audiência pública conjunta das comissões de Fiscalização Financeira e Controle e de Desenvolvimento, Indústria e Comércio. 

Segundo o primeiro vice-líder do partido na Casa, deputado Vanderlei Macris (SP), Mantega foi evasivo e deu o mínimo de informações sobre a aquisição da unidade nos EUA. “Sobre Pasadena, ele jogou muito mais a responsabilidade para a Petrobras e para o Ministério de Minas e Energia”, afirmou o parlamentar, que voltou a defender a rápida instalação da CPI Mista da Petrobras. “A partir dela, vamos entrar no detalhamento da compra da refinaria. A CPI tem um poder de investigação mais aprofundado”, acrescentou. Mantega é o atual presidente do conselho de administração da estatal. 

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Na avaliação do deputado Antonio Carlos Mendes Thame (SP), o ministro tentou “pintar um país maravilhoso”, diferente dos números e dados reais. “O índice de avaliação da economia, segundo a Fundação Getúlio Vargas divulgou hoje, mostra que o clima piorou. Técnicos e economistas estão enxergando com muita preocupação o que vem ocorrendo”, alertou.

O líder da Minoria, Domingos Sávio (MG), destacou que Mantega não convenceu ao tentar explicar temas nebulosos, como a obra de construção da refinaria Premium I, no Maranhão, o modelo de gestão da Petrobras, a inflação e a dívida pública. “Isso é ruim para o Brasil. Mostra que eles não estão sabendo como administrar o país. Por isso, a Petrobras não vai bem e a inflação está voltando”, salientou.

Deputados contestam política econômica petista

Ao longo da audiência, parlamentares do PSDB contestaram firmemente a conduta do petista à frente do Ministério da Fazenda, a política econômica do país e os malfeitos na Petrobras.

Macris criticou a série de previsões erradas do ministro da Fazenda para a economia. “Em 2012, o senhor calculou o crescimento entre 4,5% e 5%. O resultado foi 0,9%, que, no final do ano passado, sofreu uma revisão”, disse. “Sobre essa revisão, a presidente Dilma chegou a anunciar ao jornal ‘El Pais’ que o PIB iria para 1,5%. Depois, o Palácio do Planalto teve de desmenti-la. O PIB revisado foi de 1%”, acrescentou.

O deputado lembrou ainda as oscilantes projeções de Mantega para o PIB ao longo de 2013. “Começou com 4%, caiu para 3% em julho e foi revisada para 2,5% no mês seguinte. O resultado divulgado pelo IBGE foi de 2,3%”, recordou. “Essa sucessão de erros acaba afetando a credibilidade do país e sinaliza que as autoridades não têm controle nenhum sobre a economia”, criticou.

O deputado questionou a decisão do governo de promover reajuste e cobrar impostos somente no segundo semestre deste ano. Ontem, Mantega anunciou que foi adiado por três meses o aumento do imposto incidente sobre bebidas frias (cervejas, refrescos, refrigerantes e energéticos). O governo também empurrou mais para frente, em 2015, o reajuste mais significativo da conta de luz. “Qual intuito do governo de postergar esses aumentos? É por conta da eleição? Estão temendo o impacto negativo na campanha do PT ou é para manobrar a inflação e, mais uma vez, mostrar à sociedade aquilo que não é verdadeiro?”, questionou.

Sem se comprometer – Mantega abriu a audiência pública com uma exposição sobre a economia do país. Em quase 40 minutos, ele reiterou a previsão de crescimento do PIB para este ano, em torno de 2,3%, e comparou o desempenho da economia brasileira em relação a outros países. O ministro da Fazenda pouco se ateve à Petrobras e sequer mencionou o caso sobre a refinaria de Pasadena (EUA).

Questionado por Macris se era favorável à tese da presidente Dilma Rousseff e da titular da Petrobras, Graça Foster, de que a operação foi um mau negócio ou se estava de acordo com o ex-presidente Lula e o ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli, que defenderam a aquisição da refinaria, Mantega foi evasivo. Disse que não conhecia a existência das linhas de interpretação sobre o caso. Num segundo momento, afirmou que não estava na Petrobras na época em que a primeira parte de Pasadena foi comprada. Sobre a aquisição da segunda parte, ele, já integrando o Conselho de Administração da estatal, declarou que foi contrário à compra. O parlamentar tucano respondeu que até o porteiro da companhia conhece as teses sobre a operação.

Já o deputado Mendes Thame perguntou sobre a atuação dos conselheiros da Petrobras e destacou a Lei de Sociedades Anônimas (6.404/76), que responsabiliza os conselhos de administração das empresas caso seja registrado algum prejuízo em decorrência de suas deliberações. “Basta haver culpa por omissão ou negligência. Está na lei”, disse o parlamentar. “Na sua avaliação, os conselheiros da estatal são responsáveis, já que erraram ao decidir comprar Pasadena?”, perguntou.

Acionista da Petrobras, o deputado Luiz Carlos Hauly (PR) disse que amarga prejuízo de 60% sobre os R$ 1 mil investidos em papeis da companhia. “Minha sensação é a pior possível. Em nome de milhares de acionistas, digo que fui lesado”, criticou. Hauly chamou atenção para a entrevista do chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, à Folha de S.Paulo desta quarta-feira, na qual admitiu que o governo federal segura os preços de combustíveis e energia para evitar impactos nos índices gerais de inflação. “Nosso temor é que o governo dê o presente de grego para população depois do pleito”, afirmou o parlamentar, que ressaltou ainda a política esmagadora do Palácio do Planalto sobre estados e municípios. “Em 2012 e 2013, houve as mais baixas transferências federais da história do Brasil para esses entes.”

Na conta do povo – O deputado Luiz Fernando Machado (SP) parabenizou, ironicamente, o ministro da Fazenda por finalmente admitir que o Tesouro Nacional é abastecido com recursos dos contribuintes, os mesmos que pagarão sozinhos pelo socorro do governo às distribuidoras de energia elétrica. “Quando dizemos que o Tesouro vai arcar com o rombo no setor elétrico, estamos falando que cidadão vai pagar a conta”, disse.

No começo de março, o governo federal anunciou um pacote de ajuda às distribuidoras para permitir que o setor elétrico consiga sair do vermelho. A fatura dos custos da energia gerada pelas termelétricas e da compra de megawatts no mercado de curto prazo (onde a energia é mais cara) será liquidada pelos cidadãos de duas formas: na conta de luz e ao pagar impostos que são arrecadados pela União e investidos nos cofres do Tesouro.

TV 45: confira entrevistas com os deputados Vanderlei Macris e Domingos Sávio:

Ex-presidente da Petrobras cancela ida à Câmara – Sérgio Gabrielli cancelou o depoimento que faria nesta quinta-feira (15) na audiência conjunta das comissões de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio (CDEIC) e de Fiscalização Financeira e Controle (CFFC). Ele teria justificado ao presidente da CFFC, deputado Hugo Motta (PMDB-PB), que preferia se resguardar para as comissões parlamentares de inquérito da Petrobras, já que certamente será convocado por elas a prestar esclarecimentos sobre a compra de Pasadena, além de outros casos relacionados à estatal, como a construção de refinarias no Brasil. Entre elas, a Abreu e Lima, em Pernambuco; Premium I, no Maranhão, e o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj).

(Reportagem: Luciana Bezerra/ Foto: Antonio Augusto – Câmara dos Deputados/ Áudio e vídeo: Hélio Ricardo)

Texto atualizado às 17h24

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14 maio, 2014 Últimas notícias Sem commentários »

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