Exemplo para o Brasil

Retomada de pesquisa sobre desemprego mostra repúdio no IBGE à interferência do Planalto

Deputados do PSDB destacaram nesta terça-feira (6) a atuação séria e independente de servidores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que, contrariando interesses do governo de Dilma Rousseff e de sua base de apoio, pressionaram e conseguiram retomar a Pnad Contínua, nova e mais ampla pesquisa sobre mercado de trabalho no país.

“São pessoas que fizeram concurso público e estão para servir à finalidade do IBGE. Foi simbólica essa participação”, afirmou o deputado Nelson Marchezan Júnior (RS). “Esperamos que essa mobilização dos servidores do instituto ocorra em todos os órgãos públicos e, por fim, pela população, para que possamos mudar esse quadro dramático de privatização promovido pelo PT”, acrescentou o parlamentar.

A decisão da retomada da Pnad Contínua foi anunciada na segunda-feira (5), assim que o conselho diretor do órgão definiu, por unanimidade, manter a divulgação, em 3 de junho, dos dados do primeiro trimestre.  Ela interrompe a maior crise institucional da história do IBGE, iniciada em 10 de abril, quando a presidente da instituição,  Wasmália Bivar, suspendeu, sem consultar o corpo técnico, o levantamento até janeiro de 2015.

Técnicos do IBGE participam em abril de protesto na porta do prédio da diretoria de pesquisa do IBGE, no RJ, para protestar contra a interrupção da Pnad Contínua; pressão deu resultado.

A nova pesquisa, realizada em 3,5 mil municípios, começou a ser divulgada no início deste ano e mostrou taxa de desemprego maior que o levantamento anterior, a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), feita somente em seis regiões metropolitanas. Enquanto a Pnad Contínua apontava taxa de 7,1% em média em 2013, a PME apurava 5,4%, percentual festejado pelo governo como o menor nível da história.

O resultado desfavorável para a propaganda petista provocou a imediata reação dos senadores da base governista Armando Monteiro (PTB-PE) e Gleisi Hoffmann (PT-PR), ex-ministra da Casa Civil, que questionaram a metodologia da nova pesquisa.  “Essa tentativa de intervenção é mais um elemento que caracteriza essa forma corrupta do PT de se infiltrar em órgãos técnicos e de alguma forma mascarar o seu projeto de poder”, criticou Marchezan.

Contramão – Servidores, no entanto, resistiram e protestaram contra a ingerência do governo. A diretora de Pesquisa IBGE, Marcia Quintslr, pediu exoneração do cargo por discordar da suspensão, e funcionários chegaram a aprovar indicativo de greve contra a decisão e para exigir reajuste salarial, entre outras reivindicações. Além disso, Ministério Público Federal ajuizou uma ação civil pública com pedido de liminar para impedir que o órgão engavetasse a pesquisa.

A pressão resultou na vitória da seriedade e da consistência do IBGE, disse o deputado Alfredo Kaefer (PR). “Diante de uma febre alta e não disposto a mostrar a temperatura, o governo quebrou o termômetro. Mas viu que a febre continuava e resolveu voltar atrás”, completou o parlamentar.

Kaefer acredita que o grito de independência do órgão vai acabar mostrando a maquiagem petista sobre os níveis de desemprego no país. “Tal como tenta fazer em outros setores da economia, o governo quer expor para sociedade números irreais sobre o emprego a partir de outra metodologia”, alertou.

(Reportagem: Luciana Bezerra/ Fotos: Saulo Cruz – Ag. Câmara – divulgação/Asmetro-SN e Alexssandro Loyola/ Áudio: Hélio Ricardo)