Cálculo distorcido


Equipe econômica apela para manobras e previsões infundadas visando segurar inflação

Deputados do PSDB consideraram absurda a tentativa do governo de retirar alimentos do cálculo da inflação para alcançar números mais favoráveis. A estapafúrdia ideia, já cogitada por técnicos do governo em Mosaico (1)outros momentos, ganhou vida depois que o Banco Central divulgou o último Boletim Focus com as projeções de mercado. De acordo com o relatório, a inflação oficial medida pelo IPCA encerrará o ano em 6,51% — ante uma projeção de 6,47% na semana passada. Esta foi a sétima alta consecutiva na previsão e a primeira acima do teto da meta de 6,5%.

Apesar da análise de mercado, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que tem protagonizado lambanças na área, reagiu ao resultado e disse que a inflação encerrará o ano dentro da meta.

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Para o deputado Bonifácio de Andrada (MG), o governo não consegue acompanhar as pressões internacionais, muito menos gerenciar os problemas econômicos e administrativos do país. “Os gastos são muito extensos e, além disso, o governo não revela capacidade de controle sobre a vida econômica brasileira”, disse.

Na avaliação do tucano, a paralisação de ações para a Copa e a lentidão em outros empreendimentos revelam a desorientação administrativa que alimenta a inflação. Essa, por sua vez, deve continuar subindo por falta de medidas eficazes.

Segundo Bonifácio, até mesmo os números oficiais devem ser vistos com desconfiança. O parlamentar acredita que os dados sejam manipulados pelo governo. “Os dados oficiais são inverídicos e prova disso é a crise no IBGE. Esses órgãos oficiais sequer podem ser levados a sério, pois estão submetidos à manipulação que hoje predomina na vida pública do país”, lamentou.

A inflação acumulada em 12 meses até março está em 6,15%, muito próxima do teto da meta. Grande parte dessa alta é resultado do aumento dos preços de alimentos. Só o preço do tomate já subiu 31,72% em 2014. A batata inglesa teve alta de 17,27% no mesmo período.

Retirar os alimentos do cálculo da inflação é algo que nem deveria ser cogitado, na avaliação do deputado César Colnago (ES). “Já controlam o preço da gasolina para segurar a inflação, que já está ultrapassando a meta, e agora querem fazer mais uma maquiagem: tirar do cálculo aquilo que mais pesa para quem ganha salário mínimo: o alimento. Para alguns, isso significa praticamente 50% da renda”, alertou o tucano em pronunciamento nesta quinta-feira (24).  

O argumento dos defensores da mudança é que as altas de alimentos, como do tomate e do chuchu, não deveriam influenciar o IPCA total. Os consumidores costumam deixar de comprá-los quando os preços sobem demais em função do clima. Eles afirmam que inflação teria de ser medida por itens que não podem ser trocados por outros, como combustíveis ou alimentação fora de casa.

O deputado Domingo Sávio (MG) acredita que nenhum argumento estatístico poderia justificar a mudança. O custo da alimentação ainda é um dos componentes mais importantes do orçamento de boa parte das famílias. Excluir os alimentos da conta seria algo como falsificar os dados do custo de vida no país.

“Querem retirar os produtos da alimentação, como se pudessem dizer aos brasileiros: olha, a partir de agora, quando a alimentação aumentar, vocês deixem de comer, porque é assim que nós vamos resolver a inflação no Brasil”, afirmou o tucano. “Isso é um desrespeito com o brasileiro. Não bastam as interferências no IBGE e nos sistemas de pesquisa, que passam a não ter mais credibilidade, querem agora mudar métodos, levando o Brasil ao descontrole absoluto da inflação. É extremamente grave”, completou.

Ao contrário do que afirma Mantega, não existe um grupo de “vilões dos preços”, mas sim um aumento generalizado. Seria inútil tentar explicar uma inflação tão alta pela evolução de um ou outro produto. “Infelizmente, em vez de se ocupar em governar com responsabilidade, o governo teima em fazer politicagem e deixar a inflação continuar crescendo”, aponta Sávio.

Previsões desastrosas
Em uma breve análise das previsões feitas por Mantega para a economia ao longo de seus oito anos à frente da Fazenda, é difícil acreditar que o ministro acerte dessa vez e que a inflação não estoure o teto da meta. Tanto suas previsões de inflação quanto de crescimento do PIB costumam estar equivocadas. Só para citar alguns exemplos, em 2012 o ministro previa crescimento de 4,5% da economia, mas não passou dos pífios 0,9%. No ano passado, Mantega havia afirmado que a inflação ficaria abaixo do resultado do ano anterior, mas ela cresceu de 5,84% para 5,91%.

(Reportagem: Djan Moreno/ Foto: Alexssandro Loyola/ Áudio: Hélio Ricardo)

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24 abril, 2014 Últimas notícias Sem commentários »

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