Ciência jogada fora


Comissões repudiam tentativa de governo petista de despejar Embrapa Cerrados no DF

izalciAs comissões de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural e de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática aprovaram, nessa terça-feira (22), moção contra projeto do Governo do Distrito Federal (GDF) que quer transformar em zona urbana a área atualmente usada para a pesquisa agropecuária pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). A audiência foi realizada a pedido do deputado Izalci (DF).

A Embrapa Cerrados, localizada na região administrativa de Planaltina, tem sido a mais importante unidade da Embrapa no desenvolvimento de pesquisas agropecuárias para o cerrado. No entanto, o governo do DF quer retirar cerca de 90 hectares da área para a implantação de projeto de assentamento para quase cinco mil famílias.

As duas comissões querem que o DF transfira para a Embrapa a escritura da posse da terra. Segundo Izalci, haverá uma reunião da Bancada do DF nesta quinta-feira (24) para discutir o tema.

Representantes do governo local tentaram justificar o despejo da Embrapa Cerrados, mas foram muito criticados. “Os projetos atropelam a questão ambiental no DF. Se em 2006, havia problema de abastecimento de água naquela região, não será agora, oito anos depois, que região, que é de nascentes, conseguirá receber quase 20 mil pessoas. Não terá água para esses apartamentos”, declarou a promotora de Justiça Cristina Rasia Montenegro. De acordo com a promotora, o sistema hídrico da área é sensível e, portanto, esse adensamento será preocupante.

Cristina Rasia disse também que a Constituição protege a pesquisa e o desenvolvimento tecnológico tanto quanto protege a questão da moradia. “A Embrapa é um difusor de conhecimento e de progresso científico e tecnológico. Estamos preocupados com a questão hídrica, com a falta de estudos prévios de impacto ambiental e com a falta de respeito com a Embrapa Cerrados.”

Posição semelhante tem o superintendente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) no DF, Luiz Eduardo Nunes. Ele criticou o fato de o Ibama não ter sido consultado sobre o licenciamento ambiental da área.

Nunes acrescentou que não pode opinar sobre os pormenores do projeto por não ter tido sequer acesso à proposta. Sobre a região para onde o projeto está previsto, contudo, ele comentou que a questão do abastecimento de água no DF é realmente preocupante. “Acho que os órgãos ambientais precisam ser consultados nesse debate.” O estudo de impacto ambiental sobre o projeto Planaltina Parque deve ficar pronto nos próximos 90 dias.

Inovações

A pesquisadora Ieda Mendes, da Embrapa Cerrados, explicou que a quando o local da empresa foi escolhido, há 40 quilômetros do centro de Brasília, a área era inabitada. Ela acrescentou que as pesquisas nesses 39 anos buscaram e conseguiram transformar o cerrado em solo produtivo, o que era inimaginável quando a empresa foi fundada. “Conseguimos ter a única área tropical altamente produtiva do mundo e isso se deve muito à Embrapa”, disse.

Ieda Mendes disse também que a unidade de Brasília foi responsável por profundas inovações. “O solo do cerrado não dava para nada, com a ciência conseguimos reverter isso e plantar grãos como soja, milho e feijão”, disse.

A cientista acrescentou ainda que as terras levam décadas para ficarem adequadas a estudos e, após 40 anos, trata-se de um dos ambientes mais importantes para a pesquisa no País. “No século 21, mais do que nunca os resultados afetam positivamente a população, aumentando a produção e tornando a alimentação mais barata. Temos certeza que existem outras terras para moradia no DF além das terras da Embrapa Cerrados, que é um patrimônio não apenas da cidade, mas do país.”

(Da redação com informações da Agência Câmara/Foto: Zeca Ribeiro – Câmara dos Deputados)

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23 abril, 2014 Últimas notícias Sem commentários »

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