Falso dossiê


Conduta de ministro da Justiça é colocada em xeque em audiência na Câmara

Deputados do PSDB fizeram duras cobranças ao José Eduardo Cardozo durante a audiência pública.

Deputados do PSDB fizeram duras cobranças a José Eduardo Cardozo durante a audiência pública.

A condução do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, na investigação da denúncia de suposto cartel em obras do metrô de São Paulo, o caso da empresa Siemens, foi duramente criticada nesta quarta-feira (4). Em audiência na Câmara, o petista tentou dar explicações sobre o inquérito aberto pela Polícia Federal e pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Tucanos fizeram cobranças incisivas a Cardozo, a quem acusam de atuar de forma antirepublicana.

Na sua intervenção, o líder do PSDB, Carlos Sampaio (SP), condenou a decisão do ministro de mandar um relatório anônimo com denúncias contra adversários do PT para a Polícia Federal. Para Sampaio, Cardozo foi usado em uma manobra política articulada pelo deputado estadual licenciado Simão Pedro (PT), atual secretário de Serviços da prefeitura de São Paulo.

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“O proceder do ministro no episódio Siemens envergonha o cargo que ocupa”, avaliou. Sampaio afirmou que Cardozo se manifesta sobre assuntos que não são de sua competência. “Vossa excelência não usa da estatura que tem. Agiu contrariamente a tudo que defendeu. Utilizou-se do cargo, valeu-se do cargo e recebeu companheiros em sua casa”, reprovou.

Logo no início da audiência, o ministro admitiu que recebeu das mãos de Simão Pedro em sua própria residência, em São Paulo, os dados que atacam os governos de Mário Covas, José Serra e Geraldo Alckmin – fato inconcebível na visão do líder. José Eduardo Cardozo alegou que imediatamente mandou que a Polícia Federal investigasse.

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Sampaio disse que o documento foi elaborado por um falsário. Isso porque o relatório, traduzido para o português, inclui acusações que não estavam na versão em inglês. 

Em outro momento tenso, Sampaio rebateu o ministro sobre a comparação indevida com o episódio do uso abusivo de cartões corporativos no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2008. Na ocasião, o tucano representou contra o ex-ministro Tarso Genro por não encaminhar à Polícia Federal a denúncia. Foi uma tentativa de Cardozo de desviar o foco.

O deputado José Aníbal (SP) teme que o PT continue usando a máquina pública para atacar partidos políticos com opinião contrária. Aníbal pediu licença da Secretaria de Energia de São Paulo para discutir o assunto com o ministro. “Eu não tenho muita segurança de que eles não vão fazer mais dossiês. O que move o PT é uma alucinação de poder. Pelo poder, eles são capazes de fazer qualquer coisa”, avaliou.

De acordo com o deputado Vanderlei Macris (SP), houve uma clara armação contra o PSDB. Ele defende a investigação do suposto cartel, mas de forma isenta. “A vítima do cartel é o Estado de São Paulo. Tanto é verdade que o governador Geraldo Alckmin já está fazendo uma investigação paralela, contribuindo com o Ministério Público e com a Polícia Federal”, disse.

Já o deputado Duarte Nogueira (SP) estranhou o fato de o ministro não ter conferido a veracidade do dossiê apresentado por Simão Pedro, dando sequência a um documento falso criado para macular a vida de autoridades públicas.

“A Polícia Federal e o Ministério da Justiça são os guardiões dessa documentação. Portanto, devem apurar os fatos. Caso haja culpados, que sejam punidos em conformidade com a lei. Mas que se verifique com profundidade a questão do vazamento. Não adianta simplesmente lamentar, enquanto a vida das pessoas foi enxovalhada, como se elas fossem condenadas e culpadas, quando na verdade são pessoas decentes”, avaliou.

Vazamento seletivo

Na audiência, foi criticado o vazamento seletivo dos dados. Isso porque os nomes de tucanos, entre eles o deputado José Aníbal, são citados. O tucano retomou nesta quarta o mandato de deputado federal para questionar Cardozo. Segundo ele, o PT tinha a denúncia de suposto cartel em São Paulo desde maio, mas só divulgou as informações com o advento da prisão dos mensaleiros, como o ex-deputado José Genoino (PT) e o ex-ministro José Dirceu (PT). “Todo esse dossiê de lama sobre a oposição foi preparado lá atrás, entregue ao ministro em maio e usado cinco dias depois da prisão dos mensaleiros, exatamente para tentar desviar a atenção”, condenou.

Sampaio criticou a coincidência de datas entre os vazamentos das denúncias e as prisões dos condenados do mensalão. “A denúncia é de maio, não acontece nada em maio, junho, julho, agosto. Prende-se José Dirceu, vem a denúncia da Siemens. O vazamento acontece na semana da prisão, senhor ministro. Ninguém está utilizando do cargo, não é, senhor ministro?”, ironizou.

Maestria em dossiês

José Aníbal recorda que o PT está acostumado à confecção de dossiês e documentos para constranger adversários políticos. Em 2005, foi divulgada a chamada Lista de Furnas. O documento, que nunca teve sua autenticidade comprovada, apresentava uma série de nomes que teriam recebido doação ilegal da estatal Furnas Centrais Elétricas, numa clara tentativa de desviar o foco do mensalão. Pouco tempo depois, descobriu-se que a lista era uma farsa.

Outro escândalo que veio à tona foi o dossiê dos aloprados. Em setembro de 2006, integrantes do PT foram presos em um hotel em São Paulo, com um valor de R$ 1,7 milhão, para comprar documentos falsos contra o então candidato tucano à Presidência, José Serra. A expressão “aloprados”, à época, foi cunhada pelo ex-presidente Lula. Até hoje não se sabe a origem do recurso apreendido pela polícia.

Em 2008, o jornal “Folha de S.Paulo” revelou que a secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Alves Guerra, braço-direito da à época ministra Dilma Rousseff, deu a ordem para a organização de um dossiê com os gastos do governo Fernando Henrique Cardoso. O documento montado pela petista registrava com detalhes e fora da ordem cronológica diversos gastos, com ênfase nos feitos pela ex-primeira dama Ruth Cardoso.

Fuga de mensaleiro

O presidente da Comissão de Segurança Pública da Câmara, Otavio Leite (RJ), questionou o ministro José Eduardo Cardozo sobre a fuga do ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato para a Itália. Pizzolato foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 12 anos e sete meses de prisão por conta de seu envolvimento no esquema do mensalão. Autor do requerimento que convocou o ministro, o deputado apontou a fragilidade das fronteiras brasileiras. Pizzolato fugiu de carro em uma viagem até a fronteira com o Paraguai.

(Da redação / Fotos: Alexssandro Loyola/ Áudio: Hélio Ricardo)

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4 dezembro, 2013 Últimas notícias 1 Commentário »

Uma resposta para “Falso dossiê”

  1. rubens malta campos disse:

    Prezados,
    Parabéns a todos que questionaram as atitudes parciais do Min.Cardozo. Creio chegada a hora do PSDB partir para cima do PT e seus dirigentes travestidos de autoridades.
    Att.
    Rubens Malta Campos

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