Artigo: “Fora de sintonia”, por Antonio Carlos Mendes Thame


Ethamenquanto o povo pede saúde e melhores condições de vida nas ruas, o governo oferece estádios para a Copa. Isso demonstra que os que estão no comando do país não conseguem decodificar as mensagens da população, que cobra honradez, decência e moralidade, para poder vir a ter mais qualidade dos serviços públicos e recursos que suportem ações efetivas para melhorar o cotidiano das pessoas.

A Copa das Confederações, evento teste para a realização do Mundial de 2014, evidenciou a incoerência dos gastos do governo federal.

Em um país com filas em hospitais, falhas na educação e problemas de infraestrutura históricos, os investimentos do governo para realização de megaeventos esportivos tornaram-se um dos principais alvos dos protestos.

A realização da Copa do Mundo vai custar R$ 28 bilhões. Desse total, segundo o Portal da Transparência da Controladoria-Geral da União (CGU), R$ 8,9 bilhões estão previstos para mobilidade urbana, R$ 7 bilhões para aeroportos e R$ 2,2 bilhões para segurança pública, aplicações que deixariam vigoroso legado pós-Copa, mas que estão custando a sair do papel. Apenas 12,7% dos recursos destinados a esses itens específicos foram executados e mais da metade nem foram ainda contratados.

Por outro lado, a construção dos 12 estádios para a Copa do Mundo já tem 60% dos recursos executados e 96% contratados. Ao todo, R$ 7,1 bilhões estão orçados para os “monumentos ao futebol”, segundo o Portal da Transparência da Controladoria-Geral da União. Com os recursos destinados às arenas da Copa do Mundo de 2014, seria possível construir 140 hospitais no porte do Hospital Regional que está sendo instalado em Piracicaba ou 8 mil escolas para as séries iniciais do ensino fundamental ou adquirir 39 mil ônibus escolares. Além disso, 28 mil quadras poliesportivas poderiam ser implementadas ou modernizadas para o esporte educacional.

Isto sem contar que muitos dos estádios que estão sendo construídos não servirão posteriormente para jogos, uma vez que estão em cidades sem tradição de maciça presença de público a jogos de futebol, como Brasília (DF), Cuiabá (MT), Manaus (AM) e Natal (RN). Serão “elefantes brancos” e servirão, no máximo, para grandes shows e, após cada apresentação, o gramado terá que ser totalmente refeito, gerando altos custos de manutenção.

Estas aberrantes distorções na priorização dos recursos tem sido marca registrada do atual governo federal.

Há, porém, casos ainda piores. Exemplo disso é que, em julho deste ano, 19 usinas eólicas construídas na Bahia e no Rio Grande do Norte completaram um ano sem funcionamento. Construídas em regiões distantes, sem linhas de transmissão para escoar a energia produzida, tais usinas seguem paradas, consumindo recursos públicos sem gerar um único megawatt para a matriz energética brasileira. Na realidade, o número total de eólicas paradas no Nordeste, por falta de linhas de transmissão, é ainda maior: somam 28 usinas, com uma capacidade de geração potencial somada de 678 MW. Segundo o diretor-geral da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), Romeu Rufino, a falta de conexão de usinas da Bahia e do Rio Grande do Norte que poderiam estar gerando energia, mas não estão ligadas porque as redes de transmissão não ficaram prontas, já acumulam um prejuízo de R$ 770 milhões ao sistema elétrico, que cresce R$ 33 milhões por mês. A estimativa de demora na entrega é de mais um ano e, apenas com o prejuízo mensal, seria possível construir ao menos 12 UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) para melhorar, de fato, o atendimento para muitos brasileiros.

São exemplos que demonstram a surpreendente incapacidade de o governo dar respostas para os clamores e para as reais necessidades da população brasileira.

(*) Antonio Carlos Mendes Thame, professor licenciado do Departamento de Economia da ESALQ/USP, é deputado federal (PSDB) e secretário-geral do PSDB. (Foto: Alexssandro Loyola)

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3 outubro, 2013 Últimas notícias Sem commentários »

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