Drama brasileiro


Crack se espalha pelo país, mas governo federal continua se escondendo do problema

O uso do crack se espalha cada vez mais pelo Brasil, o que contribui para o aumento da criminalidade. Enquanto a droga toma conta do país, o governo federal se esconde diante do problema. Segundo o deputado João Campos (GO), o crack se tornou uma epidemia e leva o usuário ao consumo de outras drogas.

“Quem deve implementar uma política nacional é o governo federal. Se não tivermos um regente dessa política, nada vai acontecer. Vamos ter muitas ações dispersas”, explicou.

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O Brasil tem 370 mil usuários de crack, conforme apontou o Ministério da Justiça na maior pesquisa já feita sobre a droga no mundo. A informação foi destacada pelo jornal Correio Braziliense. Enquanto o número de viciados aumenta, os investimentos diminuem.

O tucano defende que o Planalto vá além do discurso e tire um projeto do papel, pois a droga está matando os jovens e dilacerando famílias em todas as regiões. “Quando falamos de enfrentamento, não significa repressão, significa prevenção, orientação, apoio às famílias e às entidades que já fazem um trabalho de acolhimento e de tratamento ao dependente químico, é um conjunto de ações”, completou.

O programa o “Crack, é possível vencer”, lançado pelo presidente Dilma Rousseff em dezembro de 2011, tenha executado apenas  um terço dos seus recursos. Foi prometido um investimento de R$ 4 bilhões em três anos – de 2012 a 2014. A quatro meses do fechamento do segundo ano, o governo diz ter aplicado apenas 34,6% do total: R$ 1,38 bilhão, segundo o site “Uol”.

Analisando os dados disponíveis no Siafi e na Secretaria de Orçamento Federal, o deputado Otavio Leite (RJ) verificou que apesar de possuírem dotação orçamentária, os programas de combate ao crack têm baixa ou nenhuma execução. Por exemplo, até 18 de setembro de 2013, a ação 20EV de Enfrentamento ao Crack e Outras Drogas liquidou R$ 66.740,27 de um total de aproximados 149 milhões disponíveis, ou seja, 0,04% do total. Em 2012, essa mesma ação não teve nenhum valor liquidado dos 132 milhões de reais previstos.

Para o parlamentar, mais uma vez os dados revelam que, na prática, o Governo Federal não tem se preocupado com o grave problema das drogas. Das ações analisadas por Otavio Leite, a que se encontra com execução melhor é a de Gestão da Política sobre Drogas (20IE), que apesar de ter liquidado em 2012 21,90% dos R$ 6,410 milhões de reais, em 2013, liquidou apenas 2,02%, R$ 2,100 milhões, dos mais de 104 milhões a que tem direito. Já o programa de Prevenção de Uso e ou Abuso de Substâncias Psicoativas (20R9), no Ministério da Justiça, não liquidou nada nem em 2012, nem em 2013. "Os números não mentem e comprovam a ausência de vontade política ou mera incapacidade administrativa para executar ações", disse.

O deputado Walter Feldman (SP), que viu de perto a situação, pôde confirmar que é grande o drama vivido pelo usuário e pela família. O parlamentar teve a oportunidade de conhecer uma cracolândia em seu estado. “É  desesperador. Várias classes sociais se envolvendo. É um vício dramático”, lamentou. Conforme lembrou, São Paulo já vem adotando medidas no enfrentamento da questão. “A experiência de São Paulo no enfrentamento é a mais positiva do Brasil, pois o governador Geraldo Alckmin se empenhou na matéria mesmo sem apoio do governo federal”, defendeu.

Facilidade de acesso

→ O Brasil tem 370 mil usuários de crack, somente nas capitais, sendo 50 mil crianças. A maior parte começou a usar a droga pela facilidade de acesso ou ainda por curiosidade (58,3%) e, ao contrário do senso comum, somente 40% vivem nas ruas. A região Nordeste é a que tem mais usuários nas capitais (120 mil), seguida por Sudeste (100 mil), Centro-Oeste (45 mil), Sul (34 mil) e Norte (30 mil).

→ A maior parte dos usuários tem, no máximo, o ensino fundamental completo (78%) e, nas capitais, usa a droga em média há 91 meses. Fora das capitais, são 59 meses de tempo de uso. O número de pedras consumidas por dia varia entre 11 e 16 (interior e capitais, respectivamente), sendo maior o consumo das mulheres (21) do que o dos homens (14).

(Reportagem: Letícia Bogéa e Artur Filho com assessoria/ Fotos: Marcelo Camargo/ABr/ Áudio: Elyvio Blower)

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20 setembro, 2013 Últimas notícias Sem commentários »

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