Crise na diplomacia


Tucanos apontam submissão a pressões de Evo e criticam inação para resolver situação de Molina

Deputados do PSDB afirmaram nesta terça-feira (27) que a queda do ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, foi um gesto de submissão do governo brasileiro à pressão da Bolívia. Na opinião dos tucanos Eduardo Azeredo (MG) e Antonio Carlos Mendes Thame (SP), integrantes da Comissão de Relações Exteriores, também faltou uma resposta à altura da diplomacia brasileira para resolver a situação do senador boliviano Roger Pinto Molina, que estava há 452 dias na Embaixada do Brasil em La Paz em condições nada confortáveis.

Desgastado com a operação de transferência de Roger, que provocou uma crise diplomática com a Bolívia, o chanceler perdeu seu cargo nessa segunda-feira (26). Incomodado com a inação do Planalto e com a piora no estado psicológico e de saúde do senador, que já teria falado em suicídio, o diplomata Eduardo Saboia liderou o processo de retirada dele do país vizinho, em uma saga que envolveu uma viagem de 1.600 km em estradas que cortavam áreas dominadas pelo tráfico de drogas.

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Saboia esteve no Brasil por duas vezes para cobrar providências mais firmes da gestão Dilma, mas nada foi feito. A rápida resposta da petista para o que foi considerado pelo Planalto um “gravíssimo episódio” visou mostrar ao presidente da Bolívia, Evo Morales, sua indignação com o ocorrido. Em visita ao Congresso nesta terça, Dilma atacou duramente a operação.

Os tucanos avaliam que a participação do diplomata brasileiro na fuga do senador foi a gota d´agua para a derrubada de Patriota. Roger estava há mais de um ano asilado na embaixada brasileira em condições que mais se assemelham a uma prisão, com restrições ao banho de sol e a visitas.  Segundo diplomatas ouvidos pelo jornalista Cláudio Humberto, "a estratégia de Patriota, para bajular o regime de Evo Morales, era vencer Molina pelo cansaço e fazê-lo se entregar." "Eu me sentia como se fosse o carcereiro dele", declarou Saboia a jornalistas brasileiros,

“Há mais de um ano o governo não tomou a atitude concreta de fazer valer o ato da presidente de dar asilo ao senador, que estava sendo perseguido por motivos políticos. Houve então uma decisão do embaixador em exercício, Eduardo Saboia, de trazer o senador ao Brasil em uma solução solidária”, disse Azeredo, que presidiu a Comissão de Relações Exteriores do Senado na legislatura passada.

Para o tucano, houve submissão. “A Bolívia pressiona a presidente, a petista cede a esse país e, ao mesmo tempo, o Brasil faz convite para que a Bolívia entre no Mercosul. É uma série de incoerências. O fato é que a presidente cedeu à pressão do presidente Evo Morales”, ressaltou. Na sua visão, Dilma está mostrando uma postura ideológica visando agradar o presidente boliviano.

Thame, por sua vez, criticou a falta de resposta do governo brasileiro ao assunto. Para ele, o que se viu foi a busca de alguma resposta a um episódio que, mais uma vez, mostra a falta de rumo do governo Dilma.

“O governo deveria agradecer ao Eduardo Saboia, que tirou da pauta um problema que só iria aumentar. Faltou ousadia para dar uma resposta à altura da diplomacia brasileira, que confunde vizinhos pobres com países que não precisam respeitar o direito internacional, que é o caso da Bolívia. O Brasil foi se ajoelhando e aceitando tudo. A primeira vez que houve uma resposta foi a promovida pelo Saboia. Portanto, toda nação brasileira deve agradecer a esse diplomata”, apontou.

O deputado Reinaldo Azambuja (MS) também elogiou a conduta de Saboia. “Vejo como um ato de bravura do diplomata, que se preocupou em preservar a vida do senador da Bolívia. Ele está de parabéns por garantir a integridade física do parlamentar boliviano”, comentou.

Em discurso, Jutahy Junior (BA) afirmou estar orgulhoso da decisão do diplomata. “Foi uma decisão correta, corajosa, baseada no senso moral e no senso de responsabilidade. Tendo avaliado também a questão humanitária, trouxe para o Brasil um Senador asilado que estava na embaixada brasileira há 454 dias, correndo risco de vida, porque estava num processo profundo de depressão”, disse.

Governo Evo se negava a conceder salvo-conduto

→ A queda do chanceler tornou-se inevitável após a irritação no Palácio do Planalto com a fuga do senador boliviano de oposição, organizada pelo encarregado de negócios do Brasil em La Paz, Eduardo Saboia. Diante do que qualificou de "gravíssimo episódio", a presidente decidiu imediatamente afastar o chanceler, tentando demonstrar ao Evo Morales sua indignação com o ocorrido.

→ O senador boliviano conseguiu escapar de seu país após cruzar de carro de La Paz até Corumbá. Ele viajou em um automóvel da missão diplomática brasileira, escoltado por fuzileiros navais. Ao cruzar a fronteira, tomou um avião até Brasília.

→ O Brasil havia concedido asilo diplomático a Pinto, mas o governo Evo recusava-se a conceder um salvo conduto para que ele deixasse a Bolívia. 

"Episódio é mais um triste retrospecto da diplomacia brasileira"

"O recente episódio envolvendo o senador Molina é apenas mais um de um triste retrospecto, que inclui a tíbia reação de Brasília à desapropriação de ativos da Petrobras na Bolívia em 2006. Prosseguiu com a deportação em tempo recorde de dois boxeadores cubanos durante os jogos Pan-Americanos de 2007; o apoio à tentativa de retomada do poder em Honduras por Manuel Zelaya; os afagos ao governo iraniano; a sanção imposta ao Paraguai após a deposição de Fernando Lugo da presidência do país; e a condescendência com que, sob orientação petista, nossa diplomacia trata o regime cubano e o bolivarianismo da Venezuela."
Senador Aécio Neves (MG), presidente nacional do PSDB

(Reportagem: Letícia Bogéa/ Fotos: Roberto Stuckert Filho – Presidência da República/ Áudio: Elyvio Blower)

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27 agosto, 2013 Últimas notícias Sem commentários »

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