Alta velocidade?


Novo adiamento de licitação do trem-bala comprova inviabilidade do projeto e incompetência do governo federal

O adiamento pela terceira vez do leilão do trem-bala soou como sinônimo de incompetência do governo federal e é um sinal da inviabilidade do projeto. Na avaliação de deputados do PSDB, a postergação da obra comprova a incapacidade do Planalto de saber lidar com suas prioridades. O ministro dos Transportes, César Borges, (foto abaixo) anunciou ontem (12) que a licitação, marcada para o dia 19 de setembro, foi prorrogada por um ano, no mínimo. O motivo principal seria o desinteresse de empresas para tocar o projeto.

“Não há surpresas”, resumiu o deputado Antonio Imbassahy (BA). Para ele, a obra além de desnecessária, consumiria recursos que deveriam ser investidos para atender necessidades urgentes das principais cidades brasileiras. A promessa inicial do ex-presidente Lula era entregar o trem de alta velocidade (TAV) que pretende ligar Campinas ao Rio de Janeiro, passando por São Paulo, na Copa de 2014. O custo inicial estimado pelo governo era de R$ 14 bilhões. Hoje o valor chega a R$ 38 bilhões, mas estimativas de mercado apontam que a obra não custaria menos que R$ 55 bilhões. Trata-se do maior projeto do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Play

“Muito mais importante que essa alucinação chamada trem-bala seriam os projetos de mobilidade urbana das grandes cidades brasileiras: sistemas metroviários e de transporte público em geral”, defende Imbassahy. Para ele, o novo adiamento se deu devido à inviabilidade do empreendimento. “É um projeto inadequado, inconsequente, uma obra de ficção e enganação de um governo que mistura propaganda com obras realizadas. Ficou claro que esse projeto é apenas fruto da megalomania do PT”, critica.

O projeto de construção do trem-bala começou a ser discutido no governo Lula, em 2008. Houve em 2011 uma tentativa de licitar o empreendimento, mas, sem interessados, o leilão fracassou. O governo decidiu mudar o modelo e então separar a obra da operação, assumindo os riscos e elevando a participação da Empresa de Planejamento e Logística (EPL), estatal responsável pelo empreendimento, no negócio de 30% para 45%. Isso chegou a fazer com que Ministério Público Federal tentasse barrar o processo.

“O fato é que todo esse tempo e empenho gastos poderiam ter colocado à disposição das obras dos metrôs das capitais, algo que realmente a população precisa e merece”, destaca Imbassahy.

O deputado Valdivino de Oliveira (GO) afirma que, de certa forma, um empreendimento de tão grande envergadura poderia ajudar o país na geração de empregos, além de ser um investimento em infraestrutura. No entanto, o tucano ressalta que além de não conseguir tirar seus projetos do papel, o governo precisa identificar as prioridades nacionais e aplicar os recursos públicos.

“Várias cidades necessitam de investimentos em metrô, seja para implantação ou para expansão. É preciso romper com esse ciclo vicioso: o governo não investe e nem iniciativa privada, por não ter confiança nele. Precisam investir em infraestrutura e no sistema de transporte público. Estamos com baixo nível de investimento e o nosso PIB não cresce”, cobra o deputado.

O parlamentar acredita que o adiamento da licitação do trem bala, além de ser motivada pelo desinteresse de empresários para tocar o projeto, tem ainda um peso político. “O governo adiou porque vê contratempos em relação ao apoio popular nas eleições. Poderia ser pior para sua imagem, pois é algo que pode ser associado a aumento de gastos e possibilidade de cartel para realização”, afirma ao lembrar que “o governo tem sido leniente em suas obras e nunca age com rapidez”.

Segundo Valdivino, o adiamento de lançamentos, licitações e inaugurações na administração do PT é tão comum que os brasileiros já estão acostumados. De acordo com ele, a gestão de Dilma Rousseff deveria dar atenção para obras como as da ferrovia Norte-Sul, que deveria, desde 2012, ligar o porto seco de Anápolis (GO) ao porto de Itaqui (MA). A previsão agora é de entrega em 2014, mas as obras andam a passos de tartaruga.

Recursos previstos para TAV resolveriam parte dos problemas de mobilidade urbana

-> O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) aponta que só com os recursos previstos para serem gastos com o trem-bala seria possível fazer 300 km de metrô ou 10 mil km de ferrovias, resolvendo boa parte dos problemas de mobilidade urbana nos grandes centros e dando um impulso decidido à competitividade dos produtos brasileiros – e abrindo, inclusive, novos corredores de exportação na direção da região Norte.

-> Com o novo adiamento, dificilmente mais alguma coisa em relação ao projeto seja feita ainda na gestão Dilma, já que a licitação ficou para o final do ano que vem. Ainda assim, o governo continuará gastando dinheiro com o projeto executivo: R$ 80 milhões.

 (Reportagem: Djan Moreno/ Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom – ABr/ Charge: Fernando Cabral – PSDB/ Áudio: Elyvio Blower )

Compartilhe:
13 agosto, 2013 Últimas notícias Sem commentários »

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *