Investigação rasa

Inquérito do Bolsa Família termina sem transparência e compromisso, critica Gomes de Matos

O deputado Raimundo Gomes de Matos (CE) afirmou nesta quarta-feira (24) que o governo federal, além de se omitir, pode ter influenciado na investigação da Polícia Federal sobre os boatos do Bolsa Família. O jornal “Folha de S.Paulo” revelou que a PF poupou a Caixa Econômica Federal nas apurações. A polícia disse ter ouvido 64 gerentes do banco, mas na verdade não coletou nenhum depoimento. A própria instituição financeira ouviu os gerentes e apenas repassou informações por e-mail.

“Não é de estranhar esse posicionamento. Esse não aprofundamento nas investigações em virtude de prevalecer na cúpula do governo a falta de transparência e de compromisso com o povo brasileiro”, critica o deputado. Em sua avaliação, o Planalto pode ter influenciado de alguma forma a condução do inquérito.

Em vez de coletar depoimentos de funcionários da Caixa, a PF teria requisitado informações sem checá-las ou questioná-las, informa a Folha.  Segundo a Caixa, uma mudança cadastral afetou parte dos beneficiários. Para evitar problemas, ficou decidido que todos poderiam sacar o dinheiro a partir do dia 17 de maio. A PF não pediu outros documentos ou ouviu alguém sobre a medida. O banco e a PF não quiseram se pronunciar ao serem procuradas pela reportagem do jornal.

 “Em qualquer país onde prevaleça a ética e a transparência dos atos administrativos, o gestor principal da Caixa já estaria exonerado. Mas, infelizmente, desde o inicio do governo do PT, a corrupção e a falta de transparência prevalecem”, alerta Gomes de Matos.

Para o tucano, erros internos fizeram com que o pagamento dos benefícios fosse adiantado e assim surgissem os boatos de que o programa poderia acabar, levando milhares de pessoas ao desespero. A antecipação ocorreu sem o conhecimento do Ministério do Desenvolvimento Social, o que contraria norma federal sobre o Bolsa Família.

Na avaliação de Gomes de Matos, a presidente Dilma deveria “chamar a responsabilidade os seus subalternos, inclusive os ministros que usaram a imprensa e redes sociais para dizer que a oposição queria desestabilizar os programas sociais”. “Se esses integrantes permanecem no governo é porque a presidente é conivente com essa mentira”, disse, ao ressaltar que até o ex-presidente Lula usou de má-fé ao culpar a oposição pela mentira.

O inquérito diz que a maior fatia das 181 pessoas ouvidas pela PF (42%) pegou o dinheiro pois aqueles eram seus dias normais de pagamento. A segunda maior parte (24,3%) sacou porque os valores haviam sido adiantados. Só depois aparecem os boatos. A PF concluiu que não houve crime no caso.

(Reportagem: Djan Moreno/ Foto: Alexssandro Loyola/ Áudio: Kim Maia)