Inversão de prioridades


Líder diz que oposição levará à Dilma uma pauta sintonizada com a voz das ruas

O líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP), afirmou nesta quinta-feira (27) que a oposição aceitará o convite de Dilma para ir ao Planalto, caso ele seja feito. Mas o assunto principal da conversa não deveria ser a realização do plebiscito sobre reforma política, como pretende a presidente. Na avaliação de deputados do PSDB, a insistência da presidente Dilma em colocar na pauta nacional a reforma política, diante dos protestos vindos das ruas de todo país, pode ser uma tentativa de desviar o foco das reais reivindicações da sociedade e dos problemas de sua gestão.

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“Temos outros assuntos para tratar, como saúde, educação, transporte, redução de gastos por meio da diminuição de ministérios e o combate à corrupção. São temas das vozes que vêm das ruas. Iremos sim à reunião, mas levaremos propostas dos nossos partidos, que serão bem diferentes daquelas que ela colocou até agora para o país”, disse Sampaio após encontro com os líderes do PPS, Rubens Bueno (PPS-PR), e do DEM, Ronaldo Caiado (GO). 

Segundo o tucano, a agenda de temas será discutida pelas Executivas das legendas de oposição e terá sintonia total com o movimento das ruas. “A intenção da presidente é desviar o foco da atuação de seu governo com os problemas enfrentados e os temas levantados, que vão desde a corrupção até os transportes. Esses sim estão na ordem do dia e não a reforma política”, disse.

Em entrevista à Rádio Bandeirantes de Campinas, o líder tucano disse que nunca houve vontade política do governo Lula/Dilma para fazer as mudanças necessárias. “O governo tem 420 deputados na base aliada na Câmara. Ele aprova a reforma que ele quiser. O que a presidente Dilma está dizendo ao país é que ela nunca quis fazer a reforma política. Estou aqui na Câmara há 11 anos. O presidente Lula e a presidente Dilma nunca aventaram a hipótese (de reforma política)”, disse Sampaio.
 
Sampaio criticou a proposta de plebiscito para a reforma política apresentada pela presidente Dilma Rousseff e defende o referendo como melhor instrumento para a definição do assunto junto à população. “Aproveitando as manifestações, se poderia fazer uma proposta de mudança no Congresso e, em seguida, referendá-la. Aí é diferente. Teríamos uma proposta legislativa ouvindo a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral e outras entidades. No referendo, você apresenta uma proposta já aprovada na Câmara para a sociedade dizer ‘concordamos ou não concordamos’. Se ela não concordar, cai tudo. Então, o referendo é muito mais democrático”, defendeu.  

Parlamentares do PSDB veem na ação da presidente uma possível tentativa de se aproveitar da situação. O deputado Eduardo Azeredo (MG) afirma que Dilma teve a oportunidade de defender as importantes mudanças no sistema político eleitoral desde o início de seu governo, mas nunca quis apoiar a reforma. Na avaliação dele, o plebiscito não deve ocorrer porque o tema em questão é complexo e cheio de termos técnicos.

”Durante o mandato, a presidente não se movimentou para termos uma reforma política.  As condições existiam no primeiro ano do seu mandato com a maioria ampla no Congresso, mas ela sequer se movimentou e o próprio PT nunca deu apoio ao relator [da proposta na comissão especial] Henrique Fontana”, lembra o parlamentar. “Agora querer insistir numa solução como essa é uma demonstração de certo oportunismo e incoerência com as ações anteriores. Isso mostra que ela está desorientada”, completou.

Para o deputado, a realização de um plebiscito no “afogadilho”, ou seja, às pressas, está longe de ser a solução ideal. Para que a reforma política possa valer nas eleições de 2014 e a proposta de plebiscito se concretize, tudo deve ocorrer até 3 de outubro, inclusive a consulta popular e a votação da proposta na Câmara e no Senado.

Como destacou o deputado Jutahy Junior (BA) pelo Facebook, as reivindicações do povo na ruas vão muito além. “A pauta da sociedade é o combate à corrupção, o desperdício [de recursos públicos] e a luta por boa qualidade de serviços. Plebiscito para reforma politica é querer nos levar para padrões da Venezuela, Bolívia e Equador”, avaliou.

Assista trecho da entrevista do líder do PSDB:

Matéria atualizada às 18h15.

(Reportagem: Djan Moreno e Marcos Cortes/ Foto: Alexssandro Loyola/ Áudio: Elyvio Blower)

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27 junho, 2013 Últimas notícias Sem commentários »

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