Nuvens negras na economia


Guido Mantega apresentou cenário econômico fora da realidade, criticam deputados

Para o ministro da Fazenda, Guido Mantega, a economia brasileira está em um ótimo momento. Em audiência pública realizada por quatro comissões da Câmara nesta quarta-feira (26) ele apresentou um cenário completamente diferente daquele vivido hoje pelos brasileiros, constatado por especialistas e demonstrado nas manifestações populares que crescem a cada dia.

Mantega afirmou que a inflação está sob controle, assim como as contas do governo. Parlamentares tucanos que participaram da reunião contestaram as declarações do ministro e cobraram medidas para tirar o país da situação de preços altos, maquiagem nas contas públicas, endividamento das famílias e ameaça da estabilidade econômica.

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O deputado Vanderlei Macris (SP) afirmou que “nuvens negras encobrem a economia nacional”. Em sua avaliação, a “realidade dita não corresponde àquela demonstrada nas ruas e nem nas análises dos especialistas de mercado”. Nas palavras de Mantega, “a inflação está sob controle, os preços dos alimentos estão caindo e a dona de casa está vendo isso quando vai ao supermercado”.

“Suas colocações estão completamente deslocadas da realidade. A credibilidade do país está em xeque e a sociedade está nas ruas aos milhões, o que mostra a insatisfação nacional, pois vivemos em um país onde não há investimentos em infraestrutura e que, quando se investe, investe mal”, rebateu Macris.

Mantega garantiu que o governo tem cortado gastos e investido mais. O ministro afirmou ainda que neste ano o país deve crescer com mais vigor. Mas, no ano passado, quando o PIB brasileiro avançou míseros 0,9%, as projeções do titular da Fazenda eram de que o avanço seria maior que 4%. Neste ano, o mercado tem reduzido as projeções. Segundo o último Boletim Focus, o IPCA passou de 5,83% para 5,86%; e o avanço do PIB caiu de 2,49% para 2,46% em 2013.

Os deputados lembraram que o governo tem aumentado os dispêndios para assim gerar superávit primário, o que compromete receitas futuras, leva o país ao descrédito e afasta os investimentos estrangeiros. O deputado Marcus Pestana (MG) disse não compreender o motivo da chamada “contabilidade criativa”, que, em sua avaliação, apenas gera prejuízos. O deputado Izalci (DF) afirmou que os números oficiais referentes às contas do governo federal não correspondem à realidade, como demonstrou o TCU com as 22 ressalvas feitas no parecer prévio das contas referentes a 2012, além de 41 recomendações a diversos órgãos públicos.

Alfredo Kaefer (PR) acredita que o modelo de estímulo ao crescimento com incentivos ao consumo está exaurido. Em sua avaliação, as ações do governo para conter a inflação, baseadas principalmente em desonerações, foram praticamente nulas. “Sabemos que se elas não tivessem ocorrido poderia ser pior do que está, mas temos que conhecer qual a ação macroeconômica o governo pretende adotar”, avaliou.

O tucano contestou a afirmação de Mantega de que o Brasil cresceu pouco em 2012 devido à crise internacional. “Os países dos Brics e da América do Sul cresceram mais que o Brasil e, se a culpa é do ambiente internacional, eles também deveriam ter crescido tão pouco quanto nós”, disse.

Duarte Nogueira (SP) fez um resumo do quadro econômico no qual o governo do PT colocou o país: “O Brasil perdeu competitividade, cresce muito pouco, a inflação está subindo, assim como custo de vida, os investimentos representam sempre metade ou menos dos gastos de custeio e o estado se tornou pesado, perdulário e ineficiente. Por isso as pessoas estão nas ruas cobrando melhoria”.  O tucano destacou ainda que a gestão do PT foi incapaz de fazer qualquer reforma mesmo com uma base tão ampla no Congresso.

Valdivino de Oliveira (GO) também traçou aspectos negativos da conjuntura atual. “O desempenho da economia vem revelando um quadro de estagnação, desindustrialização, inflação alta, pressão sobre as contas externas e taxa de investimento reduzida, de apenas 18% do PIB”. O parlamentar avalia que até mesmo os empregos, que ainda se mantinham como ponto positivo, têm começado a cair. A recente volatilidade da taxa de câmbio e a elevação do dólar complicam ainda mais a situação, segundo ele.

O deputado Otavio Leite (RJ) demonstrou preocupação com as transações correntes no que diz respeito ao turismo, que, segundo números apresentados por ele, tiveram queda de 192% desde 2008. O déficit chega a mais de US$ 39 milhões entre aquele ano e maio deste ano. O tucano destacou ainda a balança de pagamentos gerada pelo turismo no país e citou os números da relação nacional com os Estados Unidos. Enquanto 1,5 milhão de brasileiros foram ao país em 2012, apenas 500 mil americanos vieram ao Brasil. 

O uso do BNDES como fomentador de grandes empresas foi duramente criticado pelo deputado César Colnago (ES). A junção de grandes companhias tem sido prejudicial para o país e são os brasileiros que pagam a conta. “Essas operações colocam sob risco as contas de um banco de fomento importante e que privilegia grandes empresários”, disse. Nelson Marchezan Júnior (RS) perguntou ao ministro se ele estava de acordo com o aumento de despesa de custeio em detrimento dos investimentos, o que tem gerado críticas até mesmo do mercado internacional.

Entre as ações que estão em pauta nas manifestações, Bruno Araújo (PE) destacou que cabe à União apenas 13% de participação nos recursos para a área. Enquanto isso, há um enorme contingenciamento no Fundo Nacional de Segurança Pública e no Fundo Penitenciário. O tucano cobrou medidas para garantir a execução de verbas para o setor e alertou ainda para os problemas relacionados a projetos de mobilidade urbana. 

(Reportagem: Djan Moreno/ Foto: Zeca Ribeiro/Ag. Câmara/ Áudio: Elyvio Blower)

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26 junho, 2013 Últimas notícias Sem commentários »

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