Mais ação e menos discurso

Tucanos consideram pronunciamento da presidente Dilma fraco, superficial e enganoso

Em cadeia nacional de rádio e televisão na última sexta-feira (21), a presidente Dilma Rousseff fez um discurso vazio e cheio de “boas intenções”. A petista empurrou os problemas para debaixo do tapete e reproduziu exatamente o tipo de ação política que está sendo cobrada nas ruas. Combate à corrupção, serviços públicos de qualidade, melhoria do transporte e reforma política foram alguns pontos colocados. Dilma fingiu não ter nada a ver com a onda de protestos e não ser a responsável pelos desmandos do país.

O pronunciamento foi superficial e enganoso, na avaliação do deputado Marcus Pestana (MG). Segundo o parlamentar, é preciso mais ação e menos discurso para melhorar a vida da população. “Esse deve ser o recado para todas as  lideranças”, avisou. As pessoas foram às ruas mostrando indignação com a corrupção, a inflação, a falta de transparência nos gastos dos eventos esportivos, entre outros. Com isso, o desgaste da presidente acaba sendo muito grande, acredita Pestana.

“Ela veio a público com um discurso genérico e frustrante. Foi muito vazia. Falou, por exemplo, que agora vai fazer a reforma política, mas não mexeu uma palha nesse sentido. A única coisa que fez em relação a isso foi durante a posse, quando disse que faria a reforma. Depois não se ouviu mais nada”, lembrou o deputado.

Durante o discurso, a presidente anunciou a elaboração do Plano Nacional de Mobilidade Urbana, a partir de um pacto com governadores e prefeitos. Segundo Pestana, a presidente deveria anunciar era o fim do trem-bala, projeto bilionário e lunático, na sua visão. Sobre a saúde, a petista afirmou ter ampliado o investimento no setor, mas as pessoas continuam morrendo nas filas dos hospitais. Ela esqueceu ainda que seu governo derrotou a destinação de 10% dos recursos para a área.

O deputado Eduardo Azeredo (MG) considerou o discurso fraco. “A presidente não foi feliz no pronunciamento. Ela foi muito vazia”, disse. Para o tucano, a resposta não está à altura do clamor por mudanças que a população tanto espera. “Esperava um posicionamento mais rigoroso. O discurso deixou a desejar. Espero que os fatos ainda sejam analisados”, cobrou.

Dilma afirmou que uma boa solução para os problemas da saúde no Brasil é trazer médicos estrangeiros para ampliar o atendimento do Sistema Único de Saúde  (SUS). Azeredo não acredita que a medida seja a solução. Para ele, a grande resposta seria o compromisso com melhores investimentos.

Quatro associações de médicos divulgaram nota conjunta criticando a “importação” de profissionais e preparam um ato para quarta-feira (26). Eles farão um protesto nacional em defesa da valorização dos profissionais brasileiros e investimentos no SUS.

Dilma tentou ainda enganar a população ao afirmar que não há dinheiro público nas obras da Copa. “Segundo o próprio ministério do Esporte, a previsão é que os investimentos para o mundial alcancem R$ 33 bilhões, com os governos federal, estaduais e municipais custeando 85,5% das obras”, informou a “Folha de S.Paulo” na semana passada. Somados os incentivos fiscais, subsídios em empréstimos e até participação em arenas, a União já comprometeu cerca de R$ 1,1 bilhão com os locais para os jogos. Os tucanos cobraram mais transparência com os recursos utilizados no Mundial.

Ela disse ainda que “a melhor forma de combater a corrupção é com transparência e rigor.” “O que ela tem a dizer sobre os muitos ex-faxinados que foram, pouco a pouco, reocupando seus espaços nos ministérios transformados em feudos partidários?”, questionou o Instituto Teotônio Vilela (ITV).

→ Dilma fala em transparência no mesmo momento em que seu governo torna sigilosa a divulgação de gastos da comitiva presidencial em nababescas viagens internacionais. Fala em reforma política, quando seu partido tenta fechar as portas para novas siglas no Congresso, sua base parlamentar busca manietar o Ministério Público e sujeitar decisões do Supremo à chancela do Legislativo, segundo o ITV.

(Reportagem: Letícia Bogéa/ Fotos: Alexssandro Loyola/ Áudio: Elyvio Blower)