Investigação necessária
Tucanos exigem conclusão de inquérito da PF sobre boatos do Bolsa Família
O inquérito da Polícia Federal sobre os boatos do Bolsa Família não conseguiu comprovar ação orquestrada, mesmo após ter ouvido 200 pessoas. Foi o que revelou o jornal “Folha de S.Paulo” no último sábado (15). A apuração deve terminar no fim do mês, mas deputados do PSDB exigem que a PF não encerre o caso até identificar a origem dos boatos que geraram uma corrida às agências bancárias.
Foram ouvidos técnicos e beneficiários do programa, que relataram várias versões. Segundo investigadores consultados pela “Folha”, até a última sexta-feira (14) a PF encontrou só um ponto em comum para o início dos saques: a antecipação do pagamento pela Caixa Econômica. A principal hipótese é a de que os erros do banco estatal teriam precipitado os saques. Policiais acreditam que é remota a hipótese de indiciamento de representantes da CEF. Cem testemunhas ainda serão ouvidas.
O líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP), recorrerá ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra decisão da Polícia Federal, que negou acesso ao inquérito. O líder da Minoria, Nilson Leitão (MT), que esteve na PF com o líder tucano, cobra investigação completa do caso.
Em 18 de maio, o boato sobre o fim do programa levou milhares de pessoas às agências da Caixa em 13 estados. No início, o banco informou que antecipou os pagamentos diante da confusão. Mesmo sem informações precisas sobre a origem dos boatos, a ministra Maria do Rosário (Direitos Humanos) e Rui Falcão (presidente do PT) ligaram as ocorrências à oposição. A presidente Dilma Rousseff chamou o boato de criminoso.
“O PT acusou a oposição como se fosse autora dessa manobra. É imprescindível que a PF investigue de forma transparente. O acesso ao inquérito tem que ser transparente para esclarecer todas as dúvidas”, cobrou Leitão nesta segunda-feira (17).
O benefício foi liberado um dia antes do boato. Após a divulgação da informação, o presidente da Caixa, Jorge Hereda, admitiu que o banco repassou informação equivocada e pediu desculpas, conforme lembrou o deputado. Diante disso, o parlamentar considera necessário elucidar os fatos. “Se foram capazes de usar a instituição, imagina o que vão fazer nas eleições. A PF não pode fazer parte desse jogo partidário e, acima de tudo, tem que dar transparência do caso para a sociedade”, apontou.
Segundo Vanderlei Macris (SP), se houve desorganização é preciso que o responsável apareça. Ele lamenta o fato de a PF ouvir mais de 200 pessoas e não chegar a nenhuma conclusão. “Fico insatisfeito pela forma como a PF está encaminhando essa questão, se negando a dar informações à oposição, que tem obrigação de fiscalizar as ações do governo. Vamos continuar cobrando. Mais uma vez o governo tenta acobertar uma situação que mostra claramente a sua participação no processo”, afirmou.
A frase:
“Se a PF quiser realmente fazer uma investigação, vai chegar naquilo que já foi colocado: a Caixa antecipou o assunto, criou uma baderna para que alguém fosse acusado, no momento em que a presidente caia em número nas pesquisas. A instituição foi usada de forma eleitoreira. No final da investigação ficará comprovado o que falou o presidente da Caixa: o banco errou. E isso tem que ficar claro para a sociedade.”
Deputado Nilson Leitão (MT)
Onda de boatos
→ Como a Folha mostrou há duas semanas, o pagamento antecipado do Bolsa Família tornou-se a principal linha de investigação da PF. Os beneficiários do programa estavam acostumados a uma rotina de pagamento. A mudança teria ajudado a espalhar os boatos, que provocaram corrida aos caixas eletrônicos em 18 e 19 de maio.
→ Em um primeiro momento, a Caixa informou que liberou o benefício após a confusão. Após a Folha revelar que uma dona de casa em Fortaleza (CE) conseguiu retirar dinheiro de forma antecipada, o banco admitiu que houve mudança no calendário de repasses na véspera do tumulto.
→ A conclusão preliminar da PF contradiz o discurso político inicial do governo. O ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) afirmou que houve ação para espalhar os boatos. Após o tumulto, o Ministério do Desenvolvimento Social, responsável pelo programa, que atende 13,8 milhões de famílias, informou que estabelecerá um serviço de envio de mensagens aos beneficiários que possuem celular.
(Reportagem: Letícia Bogéa/ Foto: Tânia Rêgo/ABr/ Áudio: Elyvio Blower)
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