Estradas abandonadas


Falta vontade política do governo para melhorar rodovias federais, aponta Azeredo

Sobrepreço, superfaturamento e pagamento por serviços não executados. Essa é a  situação das estradas federais brasileiras. Reportagem do Fantástico denunciou nesse domingo (9) o descaso do governo com as rodovias. Muitas estão esburacadas, lentas e perigosas, o que aumenta o número de acidentes e prejudica o escoamento da safra agrícola. Várias BRs esperam duplicação há anos, mas o Planalto prefere fechar os olhos diante do problema.

Enquanto 40 mil pessoas perdem a vida em acidentes todos os anos e o país enfrenta gargalos para escoar a safra, no Ministério dos Transportes os investimentos se arrastam, caindo de 13,28% para 12,85% da dotação autorizada na comparação com 2012. A duplicação da BR 381, por exemplo, já foi cobrada diversas vezes por tucanos de Minas Gerais.

Play

Para o deputado Eduardo Azeredo (MG), o principal problema é a falta de vontade política na execução das obras. Segundo o tucano, para que o país possa crescer com segurança é fundamental ter boa infraestrutura. “O que há nos governos do PT são promessas descumpridas. Existem estradas que já deveriam ter sido duplicadas há muito tempo. O prejuízo é grande em vidas e dinheiro. A obra da BR 381 foi anunciada há dez anos e nunca chega ao final. Vamos continuar cobrando”, avisou o tucano.

O deputado mineiro alertou para a situação crítica da rodovia, além de outras estradas no país que também precisam de duplicação. O parlamentar lembrou que há um ano a presidente Dilma Rousseff esteve em Belo Horizonte prometendo a liberação de recursos, mas o empreendimento continua atrasado. “É mais uma demonstração de que esse governo já passou da hora. Está na hora de mudança no país”, afirmou.

No ano passado, o Ministério dos Transportes não conseguiu aplicar mais de R$ 6,5 bilhões. Só foram executados 62% do orçamento, a mesma média dos últimos dez anos. A situação é caótica para um país do porte do Brasil, apontou Azeredo.

A reportagem mostrou a situação da BR-163, que passa pelo centro do país, do Pará até o Rio Grande do Sul. De Santarém até a divisa com o Mato Grosso, são 980 quilômetros. Mas 460 quilômetros ainda estão em estrada de chão. São 12 trechos de obra. Um está sendo tocado pelo Exército, mas falta pavimentar 40 quilômetros, o que vai demorar.

Em um trecho de 112 quilômetros entre Itaituba e Rurópolis, no Pará, a BR-163 se funde com a Transamazônica. Só em 2009, as obras foram reiniciadas, mas a empreiteira responsável faliu. O  Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) refez a licitação e o asfaltamento está prometido para este ano.

Em outros três trechos da rodovia, o Tribunal de Contas da União (TCU) encontrou indícios de sobrepreço, superfaturamento e pagamento por serviços não executados. O TCU aceitou a defesa de uma das empreiteiras. Para as outras duas, aponta potencial dano aos cofres públicos de R$ 31,4 milhões. Azeredo lamenta o cenário desolador e cobra do governo urgência na melhoria da infraestrutura.

Investimento não dá conta do atraso

→ A BR-101 é a principal rodovia do país – acompanha milhares de quilômetros do litoral. Em Santa Catarina não só é o acesso de turistas para as belas praias. Escoa a produção gaúcha, e liga o Brasil ao Mercosul. A estrada é antiga e sobrecarregada, mais do dobro da capacidade. A duplicação começou em 2006, mas empreiteiras não deram conta da obra, que foi relicitada. Passados quatro anos do prazo da entrega, ainda faltam as obras mais caras.

→ A Federação das Indústrias de Santa Catarina calculou o prejuízo. “Neste período de 2009 a 2012, deixaram de ser gerados na região cerca de R$ 33 bilhões”, afirma Glauco Côrte, presidente da Fiesc.

→ O investimento em transportes no Brasil saltou de R$ 1,5 bilhão em 2002 para R$ 20 bilhões no ano passado. Mas ainda é muito pouco para dar conta do atraso. O governo quer investir R$ 100 bilhões por ano, em seis anos. Para isso é preciso buscar recursos também na iniciativa privada. O Ipea alerta para contratos mal formulados.

→ O Fantástico mostrou o que acontece também na BR-101, em uma parte já duplicada e administrada por uma empresa privada. Onde cruza a área urbana da grande Florianópolis, está o trecho mais perigoso em rodovias federais do Brasil. Nesses 47 quilômetros, em 16 meses 248 pessoas morreram em acidentes. Uma a cada dois dias.

(Reportagem: Letícia Bogéa/ Fotos: Alexssandro Loyola/ Áudio: Elyvio Blower)

 

Compartilhe:
10 junho, 2013 Últimas notícias Sem commentários »

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *