Cenário caótico


Com obras paradas e pouco investimento, aeroportos brasileiros estão na lanterna em ranking mundial

O cenário caótico dos aeroportos brasileiros resume a dificuldade do governo petista em transformar o discurso em realidade. Superfaturamento, sobrepreço e atraso por falta de projetos executivos são os principais entraves para o avanço de obras nos terminais. Há anos o PSDB denuncia o descaso e alerta para a necessidade da privatização, algo que o PT levou anos para admitir e colocar em prática.

O programa “Fantástico” mostrou que os aeroportos do Brasil são piores do que de países pobres da África, como Mali, Tanzânia e Zimbábue. Com o aumento do número de passageiros, a chegada da Copa e das Olimpíadas, eles vão precisar de R$ 34 bilhões em investimentos até 2030 apenas para dar conta do recado. Guarulhos (SP) é o aeroporto com maior gargalo. O Tribunal de Contas da União (TCU) encontrou pisos rachados e o teto coberto de papel alumínio.

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O caos vivido pelo setor indica uma ineficiência clara, uma indecisão, na visão do deputado Eduardo Azeredo (MG). Segundo ele, as privatizações foram feitas de maneira envergonhada pelo Planalto. Mesmo com a mudança, muitos terminais continuam sob o controle da Infraero e não atendem às necessidades do país.

No aeroporto de Vitória, por exemplo, as obras estão abandonadas desde 2008. Em 2006, a construção de um novo terminal foi iniciada e pouco andou. Os trabalhos foram paralisados em 2007, retomados por breve período em 2008 e, desde então, estão abandonadas pelo consórcio responsável. Pelo Twitter, o deputado César Colnago (ES) classificou de “vergonhoso” o aeroporto de Vitória. “Mais um fiasco do governo federal que não sai do papel”, completou o tucano na rede social.

Em entrevista ao Fantástico, a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, disse que o Brasil ficou 30 anos sem fazer obras. Segundo ela, isso desmontou a maior parte das empresas de consultoria para realização de projetos. “Então nós tivemos uma deficiência. Tem poucas empresas no mercado para fazer isso”, completou a ministra. Azeredo considerou a declaração confusa. “A ministra foi patética na sua declaração ao dizer que há 30 anos não se faz planos no Brasil, esquecendo que ela está no governo há dez”, criticou. O próprio ministro da Secretaria de Aviação Civil, Moreira Franco, admite que o caos está instalado.

Em uma pesquisa sobre qualidade de aeroportos feita pelo Fórum Econômico Mundial em 142 países, o Brasil está na posição 122. E o descaso não está restrito aos aeroportos. No Brasil, estradas, ferrovias, até a transposição do rio São Francisco começaram sem projeto. “Para poder competir e atrair turistas, um país precisa de estrutura que funcione. É uma vergonha para o Brasil a nossa classificação em relação a países muito menos desenvolvidos e com menos recursos”, finalizou Azeredo.

Prejuízo milionário

→ O aeroporto novo de Vitória vai ter dez pontes de embarque e desembarque. O preço de referência das pontes, encontrado pelo TCU, foi de R$ 630 mil. Preço apresentado pelo consórcio: R$ 2,925 milhões, quase cinco vezes mais caro. Somando as dez pontes, o sobrepreço, prejuízo para o contribuinte, chega perto dos R$ 23 milhões.

→ Desde 2004, o número de passageiros de avião no Brasil cresce 11% ao ano. Os embarques chegaram a 200 milhões por ano e até 2030 devem passar dos 500 milhões.

→ Um dos grandes gargalos é Guarulhos. Um novo terminal, com capacidade para 12 milhões de passageiros, está sendo erguido rapidamente pela empresa privada que ganhou a concessão do terminal no ano passado. Um novo estacionamento está quase pronto. Uma obra que o governo tentava fazer há muito tempo. Em 2007 e 2008, o TCU apontou indícios de irregularidades que impediram a licitação da obra.

(Reportagem: Letícia Bogéa/ Foto: Elza Fiuza/ABr/ Áudio: Elyvio Blower)

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3 junho, 2013 Últimas notícias Sem commentários »

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