O poço do Visconde


Baseado em vitorioso modelo tucano, leilão de campos de petróleo dá novas perspectivas ao setor

Há tempos a produção nacional não sobe, as áreas de exploração não crescem, a Petrobras escorrega. “Mas o clima começou a mudar a partir do sucesso do leilão realizado na semana passada, baseado no vitorioso modelo de concessões implantado pelo governo tucano”, destaca a Carta de Formulação e Mobilização Política desta sexta-feira (24). Na avaliação do Instituto Teotonio Vilela, aparentemente o setor petrolífero do país vai vislumbrando alguma chance de emergir do naufrágio que o afundou nos últimos anos. “Libra é mais uma da safra destas boas notícias”, afirma o texto. Confira a íntegra:

Até poucos dias atrás, a indústria de petróleo no Brasil estava nas cordas. Há tempos a produção nacional não sobe, as áreas de exploração não crescem, a Petrobras escorrega. Reinava a estagnação. O clima começou a mudar a partir do sucesso do leilão realizado na semana passada, baseado no vitorioso modelo de concessões implantado pelo governo tucano.

Nos últimos dias, a maré começou a trazer boas notícias para o setor petrolífero brasileiro. A disputa da 11ª rodada rendeu arrecadação recorde de R$ 2,8 bilhões em bônus de assinatura. Na semana passada, a Petrobras fez uma captação-monstro de recursos no exterior e, ontem, a Agência Nacional de Petróleo (ANP) confirmou que o campo de Libra tem reservas recordes de petróleo.

Segundo a ANP, o poço gigante tem entre 8 e 12 bilhões de barris, o que equivale a quase todas as reservas atualmente provadas do país, que somam 15,7 bilhões. Localizado a cerca de 200 km da costa do Rio e com 1,5 mil km2, Libra será posto em disputa em outubro, um mês antes do inicialmente previsto.

O governo parece eufórico com o brinquedinho. O leilão ocorrerá, pela primeira vez, em Brasília, a fim de que a presidente da República apareça na foto. A chefe da ANP se disse “deslumbrada” com o que tem nas mãos. Estima-se que a disputa possa render até R$ 9 bilhões em bônus e gerar investimentos de até meio trilhão de dólares.

Numa área tão portentosa, os riscos são menores e, até por esta razão, o governo irá inaugurar com o campo de Libra o regime de partilha para exploração de petróleo no país. É uma clara forma de tentar blindar o novo modelo, ainda alvo de muita suspeição, de eventuais fracassos na sua tão esperada estreia.

É curioso que, até um mês atrás, a ANP trabalhava com a perspectiva de que Libra tem bem menos petróleo – entre 4 e 5 bilhões de barris. Mas, quase três anos atrás, os mesmos números agora oficializados já eram conhecidos, segundo O Estado de S.Paulo.

Em setembro de 2010, o jornal publicou a estimativa de que Libra poderia produzir em torno de 8 bilhões de barris, com base num relatório da certificadora internacional Gaffney Cline & Associates. À época, a ANP não confirmou o que agora divulga com amplo estardalhaço.

O Brasil passou cinco anos sem ofertar um quilômetro quadrado novo de área para exploração de petróleo. Com isso, a indústria estagnou e a extensão explorável caiu a um terço. Perdeu-se tempo, dinheiro e muitas boas oportunidades de trabalho. Nada disso se recupera.

O governo retoma agora com força as licitações ancorado na boa receptividade que o leilão da semana passada – que ofertou áreas a serem exploradas sob a forma de concessão – encontrou entre investidores. O sucesso de Libra ainda depende, porém, da definição das novas regras que nortearão a exploração sob o regime de partilha.

Uma das incógnitas é se a Petrobras irá dar conta de ser a operadora única dos poços e ainda honrar a participação mínima de 30% em todos os consórcios, como prevê o modelo implantado no governo Lula, mas ainda não testado.

A estatal talvez tenha que dividir suas energias entre voltar a produzir nos níveis de excelência com os quais se acostumou desde que passou a atuar num mercado concorrencial, com a abertura do setor a partir de 1997, e explicar por que tem operado com tanta dificuldade e feito negócios tão ruinosos nos últimos anos. Uma CPI está a caminho para tanto.

O bom disso tudo é que, aparentemente, o setor petrolífero do país vai vislumbrando alguma chance de emergir do naufrágio que o afundou nos últimos anos. Embora premonitória, “O poço do Visconde” foi apenas uma peça de ficção escrita por Monteiro Lobato há quase 80 anos que, ao longo destas décadas, fez a alegria de milhões de crianças. Mas as perspectivas positivas para o petróleo brasileiro são bastante reais. Basta fazer o correto.

(Fonte: ITV/Foto: Ministério do Planejamento/Creative Commons)

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24 maio, 2013 Últimas notícias Sem commentários »

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