Pleno emprego de dois salários-mínimos


 

País tem se notabilizado pela abertura de empregos mal remunerados, alerta ITV

O Brasil tem se notabilizado pela abertura de empregos mal remunerados, situados apenas na faixa de até dois salários-mínimos. “Acima disso, o saldo é recorrentemente negativo. Centenas de milhares de postos de trabalho mais bem remunerados vêm sendo eliminados nos últimos anos, mês após mês”, alerta a Carta de Formulação e Mobilização Política desta quarta-feira (22). Segundo o órgão de estudos políticos do PSDB, a primeira providência para alterar esta situação e evitar uma piora geral do emprego no país é ter um diagnóstico mais realista. Leia abaixo a íntegra:

O Brasil continua a ser o país do pleno emprego. Mas do pleno emprego de até dois salários-mínimos apenas. Parece incrível, mas, fora desta faixa de remuneração, somos o país do desemprego: centenas de milhares de postos de trabalho mais bem remunerados vêm sendo eliminados nos últimos anos. Todo mês tem sido assim.

Ontem, o Ministério do Trabalho divulgou os resultados sobre o comportamento do mercado de trabalho em abril. Foram criados quase 197 mil empregos no mês, conforme o Caged. À primeira vista, pode parecer bom, mas, infelizmente, não é. Trata-se do pior resultado para o mês desde abril de 2009.

Para quem tem dificuldade para recordar, no início de 2009 o Brasil – como, de resto, todo o mundo – estava numa pindaíba de dar dó. Vivia-se a ressaca da quebra do banco Lehman Brothers, ocorrida em setembro do ano anterior e que, àquela altura, ainda causava fortes dificuldades à economia mundial.

Pois, naquele mês de 2009, foram gerados 106 mil empregos no país. Ou seja, em quatro anos, os números atuais só não são piores que os daquele tétrico período.

Na comparação com abril do ano passado, agora a geração de vagas de trabalho no país caiu 9,2%. No mesmo mês de 2011 e 2010, haviam sido abertos 272.225 e 305.068 novos postos de trabalho, respectivamente. Ou seja, estamos indo ladeira abaixo.

“Os números de criação de vagas formais de emprego em abril divulgados ontem confirmam a desaceleração do mercado de trabalho. A redução entre o saldo de contratações e demissões mostra que a demanda por trabalhadores vem perdendo fôlego”, analisa a Folha de S.Paulo.

Além do declínio na criação de empregos, o que assusta mais é a baixa qualidade do trabalho gerado. O país tem se notabilizado pela abertura de empregos mal remunerados, situados apenas na faixa de até dois salários-mínimos. Acima disso, o saldo é recorrentemente negativo.

Desde janeiro de 2011, ou seja, ao longo do governo Dilma, já foram fechadas quase 1 milhão de vagas com salários acima de dois mínimos. Para ser mais preciso, até março, o saldo negativo nesta faixa de remuneração era de 871.853 empregos.

Há outras características perversas na atual composição do emprego no país. Por exemplo, a taxa de desocupação entre jovens é mais de duas vezes mais alta que o desemprego médio. Entre os brasileiros com idade entre 18 e 24 anos, o índice está em 12,9%, de acordo com o IBGE.

Nas capitais do Nordeste, o desemprego é, costumeiramente, bem mais alto que nas metrópoles do Sul e do Sudeste: para uma média nacional de 5,7%, em Salvador e Recife o índice beira 7% e chega a 9% entre as mulheres soteropolitanas. Ainda de acordo com o IBGE, temos hoje 3,53 milhões de pessoas que recebem menos de um salário-mínimo nas seis principais regiões metropolitanas do país.

A presidente da República usou seu programa de rádio desta semana para comemorar um resultado que, por quaisquer ângulos que se olhe, foi ruim. Dilma Rousseff diz que temos que ficar felizes porque estamos melhores que a Europa. É apenas uma meia verdade.

Afinal, as condições demográficas do país são muito distintas das de países mais avançados, onde o tamanho das famílias há décadas já se estabilizou – processo que só agora vai se consolidando nas camadas mais pobres do Brasil. Entre as brasileiras, a média caiu de 4,4 filhos nos anos 80 para os atuais 1,9.

Outra mitificação – na realidade, um mistério – são as estatísticas sobre emprego que o governo petista anuncia. Segundo disse Dilma em seu programa de rádio, foram gerados no seu governo 4,139 milhões de empregos, mas as planilhas disponibilizadas pelo Ministério do Trabalho só permitem chegar a, no máximo, 3,785 milhões.

O mercado de trabalho ainda é um dos poucos que resiste à debacle geral que vai se abatendo sobre a economia brasileira como um todo. Mas uma análise mais detida mostra que a situação não é tão favorável quanto a propaganda petista tenta fazer crer. A primeira providência para evitar uma piora geral no emprego é ter um diagnóstico mais realista.

(Fonte: ITV/ Foto: reprodução – Ministério do Trabalho)

 

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22 maio, 2013 Últimas notícias Sem commentários »

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