Obra inacabada


Com trechos abandonados, transposição do São Francisco é exemplo da má utilização do dinheiro público

Lentidão, paralisia das obras e nenhuma gota d’água aos nordestinos. Esse é o cenário desolador da transposição do rio São Francisco. O maior empreendimento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) teve início há seis anos e após sucessivos adiamentos tem previsão de entrega para 2015. A execução até o momento é de 43%. Na avaliação do deputado Antonio Imbassahy (BA), a transposição é um exemplo da má aplicação do dinheiro público.

“Um governo que não tem prioridade vai transformando o país em um cemitério de obras inacabadas. A gente vê essa obra se arrastando. É lamentável e triste ver que a presidente Dilma, anunciada com a mãe do PAC, está se revelando cada vez mais uma administradora de péssima qualidade”, criticou nesta segunda-feira (20).

Play

Equipe do jornal “O Estado de S.Paulo” percorreu a quase totalidade dos 477 km da obra da transposição. Segundo a matéria, o volume de investimentos registra queda expressiva no governo Dilma Rousseff. Nos dois primeiros anos de mandato, 2011 e 2012, o Ministério da Integração Nacional investiu 35% a menos na obra na comparação com o valor pago em 2009 e 2010, segundo dados do sistema de execução orçamentário federal.  O volume de pagamentos relativos à obra nos quatro primeiros meses de 2013 registra ainda outra queda, de 35%, em relação ao ano passado.

Conforme destacou Imbassahy, embora a obra esteja longe de acabar, os custos não param de aumentar. A obra de transposição teve o orçamento aumentado de R$ 4,8 bilhões para R$ 8,2 bilhões. “É lamentável que a obra esteja inacabada, os custos cada vez mais elevados e nada de concreto até agora aconteceu. É um governo que anuncia projetos, mas pouco ou quase nada realiza. É esse o resultado de um governo que não tem rumo ou prioridade definida”, reprovou.

A lentidão da obra tem reflexo na geração de emprego, de acordo com a reportagem do “Estadão”. O empreendimento chegou a ter 9 mil funcionários, caiu para 3 mil em 2011 e agora são 4,9 mil. Para Imbassahy, o prazo para conclusão da transposição deve ser novamente adiado, apesar da promessa do Planalto de que o ritmo será acelerado. “Um governo que a cada atraso anuncia uma nova data vai perdendo a credibilidade. É muito difícil que as pessoas que estão a depender dos benefícios dessa obra possam acreditar porque o cenário é lastimável”, disse.

Em discurso de posse como presidente nacional do PSDB no sábado (18), o senador Aécio Neves (MG) criticou a falta de planejamento e de prioridade do governo federal. “Estão aí o PAC e a persistência do flagelo da seca no Nordeste, que nos envergonham e nos mantêm aprisionados no atraso das mazelas que se eternizaram na administração pública. Como aceitar que, tantos anos depois, obras como a transposição do rio São Francisco, dentre tantas outras, ainda estejam longe de acabar, embora seus custos não parem de aumentar? É como nos versos de Caetano Veloso: Tudo parece ainda em construção e já é ruína”, declarou.

Acúmulo de problemas

→ De acordo com o “Estadão”, a paralisia afeta hoje a maior parte dos 16 lotes nos quais o empreendimento foi dividido. Em vários lugares da transposição houve desmatamento, explosão dos canais e algumas escavações, mas o trabalho parou e não há sinal de movimentação de máquinas. Grandes obras de engenharia como barragens e aquedutos estão longe de sua conclusão.

→ Há ainda trechos em que o trabalho realizado terá de ser feito novamente. Em Seitânia (PE), no lote 11, há um trecho de aproximadamente 1 km em que os canais de concreto estouraram, a vegetação retomou seu espaço em meio ao canal. Moradores afirmam que a obra está abandonada há três anos e lamentam a baixa qualidade do serviço feito.

(Reportagem: Alessandra Galvão/ Foto: Alexssandro Loyola/ Áudio: Hélio Ricardo)

Compartilhe:
20 maio, 2013 Últimas notícias Sem commentários »

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *