Mais de 40h de debate

MP dos Portos: líder classifica atuação da oposição de “heroica” e critica postura de Dilma com o Congresso

Das 11h de terça-feira às 4h54 de quarta. Reinício às 11h08 da manhã de ontem com término às 9h44 desta quinta. Somente nesta semana foram mais de 40 horas de uma exaustiva discussão da MP dos Portos no plenário da Câmara. Ao fazer um balanço dos intensos debates, o líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP), classificou de “heroica” a atuação da oposição, que resistiu bravamente à aprovação de uma proposta marcada pela suspeita de negociatas.

Da tribuna, o líder lembrou que são 423 deputados aliados ao Planalto e apenas 90 da oposição. “Atravessamos um dia e uma noite e essa ampla base não conseguiu inviabilizar a obstrução de uma oposição de 90 nomes”, destacou Sampaio. Após o encerramento da votação, o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), elogiou, em entrevista, o desempenho da oposição em defesa de suas teses.

Ainda de acordo com o deputado, o Brasil perde com a aprovação de uma medida provisória maculada pela suspeita de negociatas. Segundo ele, estão sendo materializadas as falcatruas denunciadas por partidos da base. “Transformamos em lei o favorecimento a alguém. Favorecemos a um corruptor e a um corrupto”, lamentou o tucano, que encabeça um pedido de criação de CPI e uma representação na Corregedoria para apurar as acusações de irregularidades e a liberação bilionária de emendas parlamentares aos que apoiaram o governo nesta votação.

O líder do PSDB destacou ainda que ao longo do debate ninguém da oposição subiu à tribuna para acusar alguém da oposição, diferentemente do que aconteceu na base aliada. O líder do PR, Anthony Garotinho (RJ), chegou a classificar a proposta de “MP dos Porcos”, provocando tumulto no plenário na quarta-feira passada e o adiamento da votação da proposta para esta semana. Também foram usados termos e adjetivos como "MP do Tio Patinhas", "sacanagem" e "fraude" nas referências de aliados à matéria. O fato é que ao longo de todas essas horas ficou evidente um racha entre os aliados ao Planalto, em especial entre PT e PMDB.

Em discurso, Sampaio fez uma retrospectiva da atuação do partido em relação a essa proposta. A legenda foi a primeiro a manifestar apoio à MP dos Portos por considerar a proposta importante para o país, mas a partir do momento em que aliados ao Planalto levantaram suspeitas sobre as propostas de alteração sugeridas por próprios governistas, o PSDB mudou sua postura e começou a obstruir. “Não era possível aprovar algo colocado sob suspeição”, reiterou nesta manhã.

Dilma desrespeita Congresso: Ainda segundo o deputado, o episódio deixa lições. Para ele, Dilma precisa respeitar o Congresso e dialogar com a base e com a oposição. “Não é possível transformar uma relação que deveria ser de harmonia e confiança mútua em algo conturbado, desrespeitoso e autoritário”, criticou.

Prova disso é a manchete do jornal “O Estado de S.Paulo” anunciando que o governo já prepara vetos à proposta aprovada na Câmara, contrariando expectativas dos aliados da petista. “Vetos ocorrerão e a base perceberá que mais uma vez que a relação desrespeitosa entre Executivo e Legislativo precisa tomar outro rumo”, reforçou.

Na madrugada, Sampaio disse que não havia necessidade de Dilma ter encaminhado a tardia proposta de privatização dos portos via medida provisória. Em 1993, o então presidente Itamar Franco encaminhou ao Congresso um projeto de lei relativo à modernização dos portos, em uma demonstração de respeito ao Congresso. “Ela editou uma MP para demonstrar que o poder é dela e que ela desconsidera o Legislativo, que quer se ver respeitado”, afirmou o deputado.

A proposta seguiu para o Senado, que tem até meia-noite para aprová-la.

Assista trecho de discurso do líder na manhã desta quinta: