Lavouras destruídas


Com rebanhos dizimados e prejuízo bilionário, Nordeste precisa de atenção urgente do governo federal

Lavouras destruídas, animais mortos, pessoas passando sede e produtores abandonando a região. Essas são algumas das consequências da seca no Nordeste do país. A estiagem já atinge 10 milhões de pessoas na região e não há previsão de quando o governo federal vai se movimentar para combater o problema. Diante do triste cenário, a Câmara vai discutir o tema com especialistas e representantes do governo federal, a pedido do deputado Raimundo Gomes de Matos (CE).

A seca causa muitos danos à produção do sertão, lamentou o deputado Alexandre Toledo (AL). O tucano informou que a devastação na agricultura é grande e cobrou ações urgentes do Executivo. “Já chove em algumas áreas, mas a consequência da estiagem não acaba só com chuva de momento. É preciso ter ações de recuperação”, exigiu.

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Conforme lembrou, em alguns estados, 70% do rebanho foi dizimado. Em Alagoas, a perda está em torno de 50%. Para a recuperação, o deputado defende a concentração de esforços de todos os níveis de governo, principalmente o federal. Com isso, Toledo acredita que parte da produção seja restabelecida em cinco anos. Caso contrário, será difícil a sobrevivência do homem no campo, acrescentou.

Segundo a “Folha de S.Paulo”, a estiagem já provocou R$ 3,6 bilhões em perdas nas lavouras do Nordeste. Também derrubou o saldo de empregos no campo ao menor nível em dez anos e reduziu pela metade, nas áreas afetadas, a exportação de produtos como o mel. O prejuízo chegaria a R$ 6,8 bilhões se fossem computados os efeitos da perda de quase 5 milhões de cabeças de gado entre 2011 e 2012, diz o economista-chefe do IBGE em Natal, Aldemir Freire.

Na pecuária nordestina, a projeção é de redução de 16,3% no rebanho de 29,6 milhões de cabeças em 2011. Para Pedro Gama, da Embrapa Semiárido, o setor vai demorar até dez anos para se recuperar do baque. No início de abril, a presidente Dilma Rousseff anunciou que os investimentos deveriam chegar a R$ 16,6 bilhões. Em novembro do ano passado ela prometeu “resolver de maneira estrutural” os problemas, mas até agora os nordestinos esperam solução.

“O governo só adota medidas paliativas, que resolvem problemas de momento.  Há muita burocracia e a seca não requer trâmite burocrático, pois ela não espera. É preciso agilidade para minimizar a questão. Temos um grande problema, que é a cobrança judicial de débitos de agricultores”, disse Toledo.

O parlamentar espera que a audiência na Câmara contribua com o problema e que a Casa se posicione firme em defesa dos nordestinos. “A discussão não pode ser política, mas com ações objetivas de socorro para que aquelas pessoas se mantenham nas suas áreas produtivas”, apontou.

A audiência pública sobre o tema está marcada para amanhã (7), às 14h30, na Comissão de Agricultura. Na quarta-feira (8), a Comissão Geral começa às 9h30 no plenário da Câmara.

Rombo econômico

→ Para chegar ao balanço do rombo econômico da atual seca, Freire, do IBGE, comparou valor e quantidades de dez culturas (feijão, castanha de caju, arroz, mandioca, milho, algodão, banana, cana de açúcar, café e soja) produzidas na região em 2011 e 2012. O tombo estimado, a preços de 2011, foi de 18%: R$ 20,1 bilhões para R$ 16,5 bilhões. Feijão (R$ 961 milhões) e milho (R$ 532 milhões) lideraram as perdas. O prejuízo equivale, por exemplo, a quase metade do valor total da obra de transposição do rio São Francisco, orçada em R$ 8,2 bilhões.

→ No Ceará, com 96% das cidades em estado de emergência devido à estiagem, a produção agrícola caiu de 1,9 milhão de toneladas para 230 mil toneladas. Apenas 30% das áreas agricultáveis têm algum plantio.

→ A seca também tem afetado a ocupação na agropecuária. Na comparação com 2011, quando foram criados mais de 13 mil empregos com carteira assinada, 2012 registrou déficit de 18 mil vagas – marca recorde na década.

O flagelo da seca

Segundo o Instituto Teotônio Vilela (ITV), mais de 1,4 mil municípios e 22 milhões de pessoas foram afetadas, a safra agrícola caiu 22% e os rebanhos foram dizimados. Diante deste flagelo, a ação do poder público mostrou-se, até agora, impotente, insuficiente e incompetente, completou o ITV.

Longe de acabar

Até o dia 10 de abril, pelo balanço mais recente, 1.367 municípios e 10,4 milhões de brasileiros sofriam os efeitos da estiagem. E a previsão é de ainda mais seca entre junho próximo e fevereiro de 2014.

Dinheiro tem, mas não chega

Desde abril de 2012, quando o Nordeste já convivia com a severidade da seca há pelo menos um ano, o governo federal editou sete medidas provisórias destinando recursos para combater os efeitos da estiagem. No total, elas envolvem R$ 7,9 bilhões em recursos da União. Era de se esperar que o dinheiro chegasse rapidamente ao semiárido para aplacar as dificuldades da população local. Não é, contudo, o que vem ocorrendo, segundo mostrou o ITV.

(Reportagem: Letícia Bogéa/ Fotos: Valter Campanato/ABr/ Áudio: Elyvio Blower)

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6 maio, 2013 Últimas notícias Sem commentários »

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