Interferência atrapalhada


Caso Rosemary: Gilberto Carvalho deve esclarecer denúncia de investigação paralela, cobram tucanos

Os deputados Wandenkolk Gonçalves (PA) e Raimundo Gomes de Matos (CE) cobraram nesta segunda-feira (6) um posicionamento do Planalto em relação à suposta tentativa do ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria Geral da Presidência da República, de atrapalhar investigação da Casa Civil sobre Rosemary Noronha. O PSDB pedirá a convocação do ministro para esclarecer o caso no Congresso. O líder tucano na Câmara, Carlos Sampaio (SP), defendeu o afastamento de Carvalho do cargo.

Neste final de semana, a revista “Veja” mostrou que a pasta comandada por Carvalho realizou investigação paralela à da Casa Civil sobre a ex-chefe de gabinete da presidência em São Paulo. A operação teria sido armada para inviabilizar o trabalho de apuração. Amigo do ex-presidente Lula, Carvalho pode ter ordenado a ação para proteger o petista e a amiga, acusada de tráfico de influência.

Play

“O que se tentou foi embaralhar o jogo para confundir a opinião pública, mas não se pode fugir da realidade dos fatos e toda a nação tem conhecimento deles”, apontou Wandenkolk, para quem já está comprovado que Rosemary era peça chave de uma rede de interesses que agia no governo federal.

A investigação feita pelo próprio governo resultou na abertura de processo disciplinar contra Rosemary por enriquecimento ilícito. Na “investigação” da Secretaria Geral, os técnicos fizeram uma série de ressalvas e advertências sobre o trabalho da comissão de sindicância da Casa Civil. A reportagem destaca que os questionamentos poderão ser usados pela defesa de Rosemary para anular o processo.

Para os tucanos, Carvalho deveria se pronunciar quanto ao episódio. O fato de atrapalhar investigações do próprio governo sobre uma funcionária que usava a influência de Lula é suficiente para que o ministro queira se explicar.

“É o que aconteceria em um país sério, onde o governo trata com respeito a sociedade. Se assim fosse, ele mesmo já deveria pedir o seu afastamento até que tudo fosse apurado. É o que faz um homem íntegro que representa os interesses do país. Mas isso neste governo é praticamente impossível”, afirmou Wandenkolk. Segundo ele, dificilmente a base governista permitirá a aprovação de convite ou convocação ao ministro. “O PT aparelhou o Estado desde a Presidência até o mais baixo escalão e com a obrigatoriedade de protegerem uns aos outros”, disse.

Mesmo com a ação do órgão comandado por Carvalho, a Casa Civil tocou seus trabalhos de investigação. Em dois meses, várias provas foram reunidas e resultaram na abertura de processo disciplinar contra Rosemary por enriquecimento ilícito. Os técnicos do governo comprovaram que ela usava o cargo para traficar interesses milionários, influenciar em decisões favoráveis a empresários e até nomear parentes na estrutura pública.

“Se não há nada de errado, o próprio ministro deveria ir à Câmara debater o assunto com os deputados”, defendeu Gomes de Matos. O deputado afirma que o PT usufrui do poder e deixa máculas com esse tipo de procedimento.

A sindicância da Casa Civil foi mantida em sigilo sob a alegação de “risco institucional”. O relatório aponta que Rosemary conseguiu falsificar um diploma do curso de Turismo para que José Cláudio Noronha, seu ex-marido, fosse empregado no conselho da BrasilPrev. Também tentou falsificar um diploma do segundo grau para si própria. Usou a proximidade com Lula para empregar a filha Mirelle Noronha na Anac com salário de R$ 8 mil, arrumou emprego para um primo e outros parentes em órgãos públicos.

A ex-chefe de gabinete usava ainda carro oficial para ir ao dentista, ao médico, a restaurantes e para transportar as filhas e amigos. A investigação encontrou os registros de uma viagem à Itália em 2010. Ela foi recebida com honras de chefe de Estado na embaixada brasileira em Roma. Todas as facilidades possíveis lhe foram disponibilizadas. O embaixador convidou-a a ficar hospedada no Palazzo Pamphili – a apuração confirmou que a ex-chefe de gabinete não estava a trabalho.

Mesmo com todas as provas, a Secretaria Geral da Presidência ressalva, segundo a revista, que a Casa Civil não teria competência para investigar Rosemary, já que ela não era funcionária da pasta.  O documento também indica supostas incoerências na redação da portaria que autorizou a abertura do processo e cobrou o direito de Rosemary ao contraditório.

(Reportagem: Djan Moreno/ Foto: / Áudio: Elyvio Blower)

Compartilhe:
6 maio, 2013 Últimas notícias Sem commentários »

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *