“Vida de rainha”
Tucanos pedem fim do silêncio sobre caso Rosemary e transparência na investigação
Reportagem da revista “Veja” detalha com exclusividade sindicância interna feita pela Casa Civil após denúncias que derrubaram do cargo a ex-chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo Rosemary Noronha. Para os deputados Márcio Bittar (AC) e César Colnago (ES), a apuração comprova como os petistas apreciam misturar interesses públicos e privados. Eles criticam o silêncio de Lula e a tentativa do governo de esconder o resultado da sindicância. O documento foi mantido em sigilo sob a alegação de “risco institucional”.
Rosemary é apontada como pessoa de confiança de Lula, tendo sido indicada por ele e mantida por Dilma até ser indiciada por formação de quadrilha, tráfico de influência e corrupção passiva, no ano passado. Como resumiu o Instituto Teotônio Vilela (ITV) nesta segunda-feira (22), ela tinha tratamento de chefe de Estado em embaixadas brasileiras ao redor do mundo, como a de Roma.
Ela teria trocado favores no governo federal por mimos, abusado das prerrogativas do cargo e usado de maneira desvirtuada a estrutura pública; além de ter saído rica da função pública que desempenhou na gestão petista. Um processo administrativo já foi aberto na Controladoria-Geral da União e Rosemary pode ser indiciada por enriquecimento ilícito.
“Essa senhora, enquanto esteve com o poder nas mãos, fez várias ações no sentido de tratar de coisas pessoais, no máximo partidárias e nunca em prol do Estado brasileiro. A Casa Civil tem que dar publicidade a isso. Encontram essas irregularidades e querem deixar sob sigilo? Só sabemos de tudo pela mídia. Um governo sério que encontra irregularidades toma as providências necessárias e dá publicidade aos seus atos”, reprovou Colnago.
Para o tucano, o governo precisa ser transparente. Em sua avaliação, há um temor no Planalto em relação ao que ainda pode ser revelado por Rosemary ou pelas investigações a seu respeito. “Independentemente de quem ainda pode ser atingido, a transparência, a ética e o zelo pela administração pública devem se sobrepor e não ficar ao bel prazer dos interesses de pessoas e partidos. A sociedade precisa conhecer os fatos e as instituições com competência para isso devem agir”, destaca.
Segundo Veja, a ex-chefe do gabinete ameaça contar segredos e implicar com gente graúda do PT. Ela pediu que quatro companheiros sejam ouvidos na investigação administrativa: Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência, Erenice Guerra, ex-ministra da Casa Civil, Beto Vasconcelos, atual número 2 da Casa Civil, e Ricardo Oliveira, ex-vice-presidente do Banco do Brasil.
Para Bittar, o envolvimento de importantes nomes do governo nas relações promíscuas entre o público e o privado encabeçadas por Lula e Rosemary comprovam a confusão feita dentro da estrutura do Estado. “O ex-presidente usou o cargo para nomear uma pessoa com quem tinha uma relação íntima e que lá traficou influência, usou o posto para beneficio próprio e o relatório prova isso. Agora a ministra [Gleisi Hoffmann] quer manter sigilo. É um absurdo”, critica.
Segundo o tucano, não se trata da vida particular de alguém, mas da mistura entre os interesses particulares e o dinheiro público, utilizando um cargo também público para traficar influência e obter vantagens. “Não tem que ter sigilo coisa nenhuma. Quem tem cargo público deve satisfação à sociedade”, aponta.
Falcatruas
> Segundo a revista, Rosemary conseguiu falsificar um diploma do curso de Turismo para que José Cláudio Noronha, seu ex-marido, fosse empregado no conselho da BrasilPrev. Também tentou falsificar um diploma do 2º grau para si própria. Usou a proximidade com Lula para empregar a filha Mirelle Noronha na Anac com salário de R$ 8 mil, arrumou emprego para um primo e outros parentes em órgãos públicos.
> Ela patrocinou lobbies, agendou encontros com autoridades e ajudou uma quadrilha que vendia pareceres a empresários. Usava o carro oficial para ir ao dentista, ao médico, a restaurantes e para transportar as filhas e amigos, acusa a “Veja”.
> O documento produzido pela investigação da Casa Civil mostra, por exemplo, os registros de uma viagem à Itália em 2010. As regalias à disposição de Rosemary extrapolavam as fronteiras. Ela foi recebida com honras de chefe de Estado na embaixada brasileira em Roma. Todas as facilidades possíveis lhe foram disponibilizadas. O embaixador convidou-a a ficar hospedada no Palazzo Pamphili – a apuração confirmou que a ex-chefe de gabinete não estava a trabalho.
(Reportagem: Djan Moreno/ Foto: Reprodução/ Charge: Fernando Cabral/ Áudio: Elyvio Blower)
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