Medidas paliativas


Planalto deve rever os próprios gastos para ajudar a conter inflação, cobram deputados

A inflação continua em alta, em todos os sentidos. O assunto voltou a ser um dos mais comentados do país com a disparada nos preços de alimentos. Especialistas ouvidos por jornais e revistas desse fim de semana são unânimes: o governo errou ao adotar medidas paliativas e deixar de conter seus próprios gastos. Segurou os juros, mas deixou os preços subirem, comprometendo a economia nacional e o bolso do cidadão.

Os deputados Alfredo Kaefer (PR) e Valdivino de Oliveira (GO) demonstram preocupação. Segundo eles, faltou ao Planalto vontade para promover ações concretas de contenção de despesas e coragem para mexer nas taxas de juros. Depois de a inflação o teto da meta – em março, bateu 6,59% no acumulado de 12 meses -, o governo se viu obrigado a colocar a alta de juros de volta na agenda econômica.

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Valdivino afirma que o país está em uma cruel encruzilhada: de um lado um Produto Interno Bruto (PIB) que cresceu apenas 0,9%, e do outro a inflação em alta, fenômeno chamado pelos economistas de “estagflação”. “Agora, o governo tem que decidir se vai combater a inflação ou promover o crescimento. O fato é que expandir gastos pode trazer certa aceleração à economia, mas vai alimentar a inflação. O que mais interessa no momento é o combate à alta dos preços e isso passa pelo controle de seus próprios gastos, dos estados e até mesmo das famílias”, disse.

O deputado afirma que há muito tempo o governo abandonou a meta de superávit primário e, no último ano, recorreu à maquiagem das contas públicas. “Ninguém quer o descontrole da inflação no nosso país, nem mesmo os mercados estrangeiros, mas o governo precisa tomar cuidado porque isso pode acontecer”, alertou.

Os parlamentares temem que a inflação chegue aos dois dígitos. “Isso pode trazer um grande transtorno para a economia. Esperamos que não ocorra, mas é preocupante, afinal já passou dos 6%”, aponta Valdivino. Já Kaefer afirma que não seria uma surpresa alta dos preços superior a 10%. “Para chegarmos a 10%, e depois 15% ou 20%, e daí então descambar não é impossível, pois começa a se ter uma retroalimentação. Os agentes de mercado veem uma inflação pela frente, começam a subir os preços e isso vai se repetindo automaticamente.”

Quem mais perde com a inflação é o assalariado, o trabalhador. É o que acredita Kaefer. O custo de vida corrói o orçamento das famílias por meio de alimentos básicos, como o tomate, novo símbolo da inflação, a batata, o arroz e a farinha. O deputado acredita que em vez de recorrer a medidas paliativas, como desonerações pontuais, estímulo ao crédito e contenção dos juros, o governo deveria recorrer às maneiras tradicionais, como o corte dos gastos públicos, aumento na taxa básica de juros e restrição ao crédito.

“O cerne da questão é de fato o descontrole dos gastos. As ações são totalmente inversas àquelas que o receituário indica. Não há outra receita. Tem que haver equilíbrio orçamentário, livre dos gastos e com redução de despesas. Não é o que vemos e não há perspectiva de que isso aconteça”, disse.

 

Da tribuna, o deputado Izalci (DF) demonstrou preocupação com as medidas pontuais adotadas pelo governo para controlar a inflação. Para o tucano, o Banco Central precisa de autonomia total. “Não dá para a presidente da República, como economista de formação, tentar exercer o papel de presidente do Banco Central e o papel do Ministério da Fazenda. É muito temerário isso. Não há uma posição macro e um planejamento global”, disse ao ressaltar que as máquinas para remarcar os preços estão de volta aos supermercados. 

Matéria atualizada às 19h40.

(Reportagem: Djan Moreno/ Foto: Alexssandro Loyola/ Áudio: Elyvio Blower)

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15 abril, 2013 Últimas notícias Sem commentários »

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