Fim da impunidade
Mensalão: punição dos condenados é fundamental para que Judiciário não caia em descrédito
Condenado a 6 anos e 11 meses de prisão, Genoino (D) foi indicado para a CCJ. João Paulo Cunha, condenado a 9 anos e 4 meses, também foi agraciado com uma vaga na principal comissão da Câmara.
Durante o julgamento, o Supremo entendeu que existiu um esquema de compra de votos no Congresso Nacional durante os primeiros anos do governo do ex-presidente Lula. Os ministros concluíram que houve desvio de dinheiro público de contratos da Câmara dos Deputados e do Banco do Brasil para abastecer o esquema criminoso.
O escândalo ficou marcado na história do PT e a sociedade espera ansiosa o desfecho. A expectativa é que isso ocorra no menor tempo possível para que a população não fique desacreditada da Justiça brasileira e a impunidade não prevaleça mais uma vez. O deputado Domingos Sávio (MG) espera a conclusão do processo para que o Judiciário não caia em descrédito.
“A expectativa é grande, mas, ao mesmo tempo, é uma situação de risco para a credibilidade do Judiciário. Quanto mais tempo demora para que a pena seja aplicada, mais se passa a ideia de impunidade”, ressaltou nesta segunda-feira (25). “Um caso que já foi julgado, já houve defesa, já existe sentença e agora ficam postergando a execução? Passa a ideia de que bandido rico e poderoso não vai para a cadeia, o que é péssimo para a democracia”, acrescentou.
Superada a parte principal do julgamento, o duelo se repete na definição do prazo para o cumprimento da sentença. O presidente do STF, Joaquim Barbosa, espera executá-la até julho. Já o ministro Ricardo Lewandowski acredita em novembro ou dezembro.
Em 2012, o STF gastou 53 sessões plenárias e 138 dias para condenar 25 dos 38 réus. Somadas, as penas chegam a quase 270 anos de prisão, e as multas, a 22 milhões de reais. Tais sanções só serão aplicadas depois de vencidas duas etapas derradeiras do processo. A primeira é a publicação do acórdão. A segunda, a análise dos recursos que serão apresentados pelos advogados de defesa. Barbosa já pediu pelo menos duas vezes aos ministros que liberem rapidamente os votos revisados, o que permitirá a divulgação do acórdão.
Sávio considera inadmissível o fato de condenados por crimes graves estarem exercendo mandato na Câmara dos Deputados. É o caso dos petistas João Paulo Cunha (SP) e José Genoino (SP), que não só estão atuando tranquilamente, como foram indicados pelo partido para a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a principal da Casa.
José Genoino foi condenado a 6 anos e 11 meses de prisão em regime semiaberto por corrupção ativa e formação de quadrilha. João Paulo Cunha deverá cumprir 9 anos e 4 meses de prisão em regime fechado por peculato, lavagem de dinheiro e corrupção passiva.
Sávio espera uma resposta rápida do Judiciário para não correr o risco de perder a credibilidade que ganhou com o julgamento, que, apesar de demorado, alimentou a esperança de que a Justiça seria feita.
A frase:
“A demora na sentença coloca a Câmara em desgaste, pois temos dois mensaleiros condenados por crimes de corrupção ativa e passiva, formação de quadrilha, entre outros crimes. A lei é clara: aquele que for condenado perde seu mandato. Inclusive o STF já manifestou isso. No entanto, a falta da publicação do acórdão permite, segundo a Constituição, que eles continuem exercendo o mandato.”
Deputado Domingos Sávio (MG)
Petistas em regime fechado
→ Dos 38 réus, um deles teve o processo remetido para a primeira instância. Outros 12 acabaram inocentados. Dos 25 considerados culpados, o réu que obteve maior pena foi Marcos Valério, apontado como o operador do esquema, que repassava o dinheiro a parlamentares. Valério foi condenado a mais de 40 anos de prisão.
→ Onze condenados ficarão presos em regime fechado, em presídio de segurança média ou máxima, entre eles Valério e o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. Outros 11 ficarão em regime semiaberto, quando é possível deixar o local para trabalhar. Um dos réus foi condenado em regime aberto e dois tiveram a pena transformada em restrição de direitos.
→ O chefe da quadrilha, José Dirceu, vem rodando o país e sendo saudado por seus correligionários como “guerreiro do povo brasileiro”.
Confira frases de destaque durante o julgamento:
“É certo que José Dirceu, em razão da força política e administrativa que exercia, foi o principal articulador dessa engrenagem.”
Joaquim Barbosa, presidente do STF
“Acho estranho e grave que uma pessoa diga 'houve caixa dois'. Ora, caixa dois é crime, é uma agressão à sociedade brasileira.”
Cármen Lúcia
“José Dirceu realmente teve uma participação acentuada, a meu ver, nesse escabroso episódio.”
Marco Aurélio Mello
“[Houve um] projeto criminoso de poder engendrado, concebido e implementado pelas mais altas instâncias.”
Celso de Mello
“[Os réus] de forma livre e consciente, se associaram de maneira estável e com divisão de tarefas com o fim de praticar crimes.”
Joaquim Barbosa
“É um dos episódios mais vergonhosos da história política do nosso país.”
Celso de Mello
“Esse tipo de caixa dois para conferir apoio político é crime de corrupção.”
Luiz Fux
“São corruptos e corruptores, os profanadores da República, os delinquentes, marginais, os infratores do erário.”
Celso de Mello
(Reportagem: Letícia Bogéa/ Áudio: Elyvio Blower)
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