“A cartilha da picuinha”, por Rodrigo de Castro


Ao comemorar trinta e três anos de existência e dez anos de poder, numa festa que teve a presença de Dilma, Lula e outros partidários, inclusive José Dirceu, ex homem forte do governo do PT, futuro “hóspede” do sistema penitenciário paulista foi distribuída uma cartilha.

Na cartilha, curiosamente, o foco parece ser não as realizações do partido nos seus dez anos de governo, mas a desconstrução dos oito anos do governo do PSDB, atitude que não mereceu outra classificação senão “coisa de criança, picuinha” por parte de Fernando Henrique Cardoso que, como Ministro da Fazenda e, depois, como Chefe de Governo, garantiu, para a sociedade brasileira, conquistas como: a estabilidade da economia, ora ameaçada com o retorno da inflação; a regulação do mercado dentro de um arcabouço institucional moderno, com a criação de agências reguladoras, ora transformadas em cabides de emprego; um ambiente jurídico e empresarial de segurança, propício aos investimentos e negócios; a lei de responsabilidade fiscal, que é o controle e garantia de uma gestão pública ética e profissional, tão atacada pelo PT; a conquista da confiança da comunidade internacional, ora colocada em risco com a maquiagem da contabilidade criativa; a valorização das instituições, como a Petrobrás, que hoje, alvo de projetos megalomaníacos, representa a desvalorização do patrimônio público.

Além de não reconhecer esses fatos, como era de se esperar, a cartilha do PT omite, exagera e distorce muitos deles, levando a conclusões não verdadeiras a respeito de um governo que estruturou o país, assentando as bases do desenvolvimento. Alega a cartilha que Lula herdou uma economia em estagnação, com 45% da população em situação de pobreza absoluta. Dados do Ipea, divulgados na mídia, mostram que, no último ano de FHC (2002), a taxa de pobreza, que já vinha caindo nos anos anteriores, era de 34% e, somente sete anos depois (2009), chegou a 21%. Afirma-se, em outro ponto, que o país, até o final da década de 2010, deve posicionar-se entre as quatro maiores economias. Segundo estimativas de consultorias internacionais, essa posição de liderança só deve ser alcançada em 2050. Há, no documento, supervalorização da redução da desigualdade, descrevendo-a como situada em níveis civilizados, quando a realidade é que o Brasil é um dos países mais desiguais do mundo, com absurda concentração de renda. Esses são apenas alguns exemplos do descompromisso com a verdade dos fatos.

Como tucano não temo qualquer comparação entre o governo de FHC e de Lula, muito menos com o de Dilma. As conquistas da era FHC existiram sem Lula, as conquistas da era Lula só existiram graças as bases construídas no governo FHC. Também não nego os avanços obtidos com a gestão do PT, especialmente o bolsa família., que mesmo tendo seus alicerces construídos no governo tucano, teve sua grande expansão na era Lula.

Também reconheço erros no governo FHC, especialmente a reeleição e a exacerbada influência da equipe econômica sobre todos os outros campos do governo no segundo mandato. Mas Lula anestesiado pela gigantesca aprovação popular obtida pelo bolsa família e pela política de salário mínimo perdeu uma fantástica janela de oportunidade aberta ao país com a combinação de momento demográfico, bonança internacional e ambiente interno. Não se preocupou com gestão, combate a corrupção, infraestrutura e continuidade das reformas iniciadas na era FHC.

Em pronunciamento no Senado na última quarta-feira, o Senador Aécio Neves, assinalou algumas ausências importantes na celebração petista: a autocrítica, a humildade e o reconhecimento que devem ser matéria prima do cotidiano político. Além disso, alinhou alguns fracassos do PT que vêm constituindo pesadelo do povo brasileiro, entre eles: a paralisia do país, com o PAC da propaganda e do marketing; a indústria sucateada; a estabilidade ameaçada; a perda da credibilidade; a derrocada da Petrobras e o desmonte das estatais; o mito da autossuficiência e a implosão do etanol; a ausência de planejamento; o risco de apagão; os interesses do país subjugados a um projeto de poder; a insegurança pública e o flagelo das drogas; o descaso na saúde e a frustração na educação.

Na cerimônia, o PT lançou também a sua candidata, para continuar o seu projeto de poder. E Dilma em pronunciamento, confirmando a falta de autocrítica, de humildade e de reconhecimento, foi logo disparando, como suma redentora do Brasil moderno: “Não herdamos nada do governo anterior, nós construímos”. Se esquecendo que o país de maneira geral viveu um ciclo desenvolvimentista com Itamar, FHC e Lula. Ciclo recheado de imperfeições, mas com progressos importantes, obtidos especialmente com o aumento de maturidade da sociedade. É assim que se constrói o projeto de poder do PT. Não é assim, com tirania, empáfia e petulância, denegando as conquistas do povo brasileiro, que se constrói a democracia e o projeto de desenvolvimento do país.

Não podemos nos concentrar apenas no debate que estabelece comparações entre os últimos governos. Temos que comparar com outros países que estão avançando muito mais. Temos que ter consciência que poderíamos estar muito adiante. Não é momento do Brasil se apequenar. Queremos um Brasil muito mais justo, muito mais competitivo, muito mais desenvolvido. O caminho para essa realidade é o verdadeiro debate a ser travado.

*Artigo do deputado Rodrigo de Castro (MG), secretário-geral do PSDB, publicado na edição de terça-feira (26) do jornal Estado de Minas

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26 fevereiro, 2013 Artigosblog Sem commentários »

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