Omissão federal

Deputados exigem firmeza do governo brasileiro com violação de direitos individuais em Cuba

Assim como a jornalista e blogueira cubana Yoani Sánchez, os deputados Eduardo Azeredo (MG) e César Colnago (ES) criticaram a omissão do governo brasileiro em relação às violações de direitos em Cuba. Considerada um dos principais símbolos da luta contra o regime ditatorial dos irmãos Castro, a blogueira chegou ao Brasil nesta semana e foi agredida por manifestantes de esquerda em diversas ocasiões, sendo acusada de traição à causa comunista.

A jornalista cobrou uma reação mais enérgica em relação ao tema. Ela esteve na sede do Grupo Estado, onde participou de um evento que reuniu mais de 200 espectadores no auditório do jornal. Ao todo, 70 veículos de comunicação, nacionais e internacionais, representados por 113 profissionais, participaram da entrevista coletiva.

Na avaliação de Azeredo, o episódio da intolerância demonstra mais uma vez a incoerência do governo federal, pois fala em liberdade, mas não a pratica. “Eles praticam uma liberdade seletiva. Um governo que não se posiciona quando o regime ditatorial é simpático aos seus pensamentos, como é o caso também da Venezuela. O PT não respeita a liberdade na sua totalidade”, reprovou o deputado.

No mês passado, a Revolução Cubana completou 54 anos. Desde 1959, o regime ditatorial comandado por Fidel e Raúl Castro é pautado por violações aos direitos humanos e perseguições a opositores. Como maior país da América Latina, o Brasil deveria combater tal postura e não ser conivente com isso, defenderam os deputados tucanos.

Yoani Sanchéz foi agredida por militantes de esquerda que impediram a sessão de autógrafos prevista para ontem à noite na Livraria Cultura em São Paulo. Protestos similares impossibilitaram a exibição do documentário “Conexão Cuba Honduras” em Feira de Santana, Bahia. Azeredo classificou tais manifestações de intolerantes. Para ele, as atitudes não estão de acordo com o estágio democrático brasileiro. Já Colnago considerou o ato “ilegal, selvagem e arrogante.”

Na opinião de Colnago, a visita da blogueira expõe com clareza a falta de uma visão diplomática no país. “O governo brasileiro deveria permitir que sua passagem fosse garantida em todos os seus direitos, mas age de forma contrária”, lamentou. “Ela tem todo o direito de ir e vir, de se expressar”, defendeu. “Impedir as pessoas de falar não é democracia nem pluralidade. É fanatismo”, disse Yoani, ao criticar os que impediram a exibição do filme.

A frase:

“A presidente Dilma falha com os direitos humanos. Ela não pode deixar de tratar esse valor que é fundamental para a humanidade. A ditatura asfixia o povo cubano. A luta e mensagem de Yoani Sánchez é pela liberdade. O Brasil deve se pautar na posição de um país civilizado, desenvolvido e em apoio aos direitos humanos.”
Deputado César Colnago (ES)

Faltou dureza

→ A jornalista foi recebida com festa em Brasília na quarta-feira (20) para a exibição do documentário "Conexão Cuba Honduras". Convidada pelo PSDB, ela provocou frisson na chegada ao Congresso Nacional, onde parlamentares tucanos a aguardavam, assim como vários profissionais de imprensa.

→ Em debate realizado nesta quinta-feira (21), na capital paulista, Yoani afirmou que o Brasil tem ajudado Cuba na modernização de portos, mas que tem tido caráter omisso em relação às práticas cubanas que violam direitos humanos: “Estamos ampliando um porto com ajuda do Brasil. Isso me parece bom, que o Brasil esteja ajudando e apoiando Cuba, mas acho que faltou dureza ou franqueza ao tratar do assunto dos direitos humanos na ilha”, disse. “No caso do Brasil, houve muito silêncio. Não sou diplomata, mas recomendaria uma posição mais firme (do governo brasileiro), porque o povo não esquece.”

→ Manifestantes da União da Juventude Socialista (UJS), do Partido Comunista Revolucionário e de outras organizações provocaram o encerramento antecipado de uma apresentação da blogueira no Cine Livraria Cultura, na av. Paulista, em São Paulo. Aos gritos, o grupo regularmente inscrito para participar do evento impediu que parte das respostas da blogueira fossem ouvidas. Sánchez não realizou a sessão de autógrafos de seu livro “De Cuba, com Carinho”.

(Reportagem: Letícia Bogéa/ Fotos: Alexssandro Loyola/ Áudio: Elyvio Blower)