Mantega em seu labirinto


Declarações erráticas do ministro da Fazenda mostram como governo está desnorteado

As declarações erráticas do ministro da Fazenda são apenas a manifestação mais evidente de um governo desnorteado. “Há um problema sério à vista, o da inflação, sem que se saiba como debelá-lo. Há um desafio crônico, a falta de crescimento, sem que se faça ideia de como agir para reativá-lo”, aponta a Carta de Formulação e Mobilização Política desta segunda-feira (17). “Oque a presidente da República tem a dizer a respeito? Não se conhece as armas a gestão petista pretende usar, mas uma certeza há: eles não sabem o que fazem”, completa o documento editado pelo Instituto Teotonio Vilela. Leia a íntegra abaixo:

Guido Mantega voltou a estar em evidência no noticiário. Não pela boa condução da área que lhe cabe no governo, a economia. Mas sim por aquilo que lhe tem sido mais peculiar: os devaneios, o irrealismo, as idas e vindas, o ziguezaguear na condução da política econômica do país. O ministro da Fazenda mais parece alguém enredado em um labirinto de onde não sabe como sair. 

Aconfusão da vez deve-se à declaração dada por Mantega na última sexta-feira em Moscou. Presente lá para uma reunião do G-20, ele informou que os juros serão a arma que o governo brasileiro irá usar para debelar a inflação – que nos próximos meses certamente ultrapassará o teto da meta fixada pelo CMN.

Foi a senha para que os agentes de mercado passassem a apostar numa alta expressiva dos juros ainda neste ano – há quem preveja que a taxa básica possa chegar a 9% ao ano em dezembro, num aumento de quase dois pontos percentuais em relação ao nível atual.

Trata-se de sinal absolutamente contraditório em relação ao que vinha sustentando o Banco Central em suas manifestações oficiais. Em suas últimas atas, o Copom vinha manifestando a intenção de manter a Selic no nível atual (7,25% ao ano) por um “período suficientemente prolongado” de tempo, como “estratégia mais adequada para garantir a convergência da inflação para a meta”.

Exatamente uma semana atrás, o ministro da Fazenda manchetara os jornais brasileiros em pleno sábado de Carnaval por ter afirmado que o governo poderia permitir um piso mais baixo para a cotação do dólar (R$ 1,85) como forma de baratear importações e ajudar a combater a inflação. Não se conhece as armas a gestão petista pretende usar, mas uma certeza há: eles não sabem o que fazem.

Ainda que as manifestações de Mantega valham tanto quanto uma nota de três reais, constata-se que: 1) o governo Dilma está mais assustado do que gostaria de transparecer com o descontrole inflacionário; 2) as perspectivas da economia são mais sombrias do que vem sendo dito; e 3) o arsenal de pirotecnias não foi suficiente para dar contas dos problemas de condução da política monetária, mais especialmente em relação à escalada dos preços.

A consequência imediata da má condução dos assuntos da economia pelos petistas é a perda da credibilidade da política econômica brasileira. Ato contínuo, arrefece também o ânimo dos empreendedores privados em acreditar no Brasil. Consequentemente, sem investimentos o país tende a manter-se estagnado como esteve nestes dois últimos anos – as previsões para 2013 e 2014 voltaram a cair, de acordo com o Boletim Focus desta segunda-feira.

“As novas declarações do ministro Mantega passam a impressão de que o governo brasileiro não sabe o que quer”, comentou Celso Ming n’O Estado de S.Paulo de sábado. “Não há mais espaço para voluntarismo na política econômica”, cobra a Folha de S.Paulo em editorial em sua edição de hoje.

Por seu otimismo delirante e muitas vezes irresponsável, Guido Mantega já virou motivo de piada em salões internacionais. A imprensa estrangeira especializada já lhe taxou a pecha de rei do “jeitinho”, em alusão às manobras contábeis de que o governo petista passou a lançar mão para fechar as contas públicas. O Financial Times já disse que os condutores da política econômica brasileira “não têm ideia do estão fazendo” em relação ao câmbio.

As declarações erráticas do ministro da Fazenda são apenas a manifestação mais evidente de um governo desnorteado. Há um problema sério à vista, o da inflação, sem que se saiba como debelá-lo. Há um desafio crônico, a falta de crescimento, sem que se faça ideia de como agir para reativá-lo. O que a presidente da República tem a dizer a respeito?

No clássico livro de Gabriel Garcia Márquez, o general enredado em seu labirinto espera a morte chegar. Nos seus dias finais, delira e mistura o que é sonho e o que foi realidade. Na ficção, é um assunto para uma bela história. Mas, na vida real, não é aceitável ter um ministro da Fazenda que não saiba como tirar o país da encalacrada em que ele o enfiou.

(Fonte: ITV/ Foto: Antonio Cruz – ABr)

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18 fevereiro, 2013 Últimas notícias Sem commentários »

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