A ver navios transatlânticos
Diplomacia petista leva Brasil a ficar muito para trás no comércio global, alerta ITV
A possibilidade de Estados Unidos e União Europeia fecharem um acordo transatlântico restringirá ainda mais o espaço para os produtos brasileiros no comércio global.O alerta é da Carta de Formulação e Mobilização Política desta sexta-feira (15). ”Enquanto o mundo caminha no sentido de mais liberalização, a diplomacia brasileira pratica mais protecionismo e ideologia. Na era petista, a diplomacia brasileira apostou nas famigeradas relações sul-sul, o que significou a opção pelo terceiro-mundismo mais rastaquera”, reprova o documento editado pelo Instituto Teotonio Vilela. Leia abaixo a íntegra:
O governo brasileiro perdeu, de novo, o bonde da história. A possibilidade de Estados Unidos e União Europeia fecharem um acordo transatlântico restringirá ainda mais o espaço para os produtos brasileiros no comércio global. Enquanto o mundo caminha no sentido de mais liberalização, a diplomacia brasileira pratica mais protecionismo e ideologia.
EUA e União Europeia (UE) planejam acertar os ponteiros até 2015. É tarefa difícil para prazo tão exíguo em se tratando de negociações comerciais, que costumam se arrastar por décadas. Mas, se bem sucedida, envolverá mercado equivalente à metade da produção e a um terço do fluxo de comércio no mundo. Tem poder suficiente, portanto, para reconcentrar a dinâmica da economia global nos seus dois polos mais tradicionais.
Já em retrocesso nos últimos dez anos, o comércio exterior do Brasil tem ainda mais a perder com o novo acordo. Na era petista, a diplomacia brasileira apostou nas famigeradas relações sul-sul, o que significou a opção pelo terceiro-mundismo mais rastaquera. Os grandes centros econômicos foram desdenhados, novos acordos comerciais só contemplaram mercados irrelevantes e o país juntou-se aos bolivarianos do Mercosul num abraço de afogados.
Desde o fracasso da Alca, que buscava formar uma área de livre comércio do Alasca à Terra do Fogo, a área de comércio exterior brasileira está estagnada. A diplomacia petista só fechou três acordos bilaterais em dez anos: com Israel, Palestina e Egito. Tudo o mais parou nas regras adotadas pelo Mercosul: acordos só com a concordância unânime, algo impossível num bloco que tem a Argentina e agora está acolhendo a Venezuela como sócia.
O que move a nossa diplomacia hoje é a ideologia e não o desejo de produzir mais comércio e prosperidade. Vigora por aqui a crença de que só mais proteção gera crescimento e de que acordos com países desenvolvidos criam dependência, como analisa Diego Bonomo, diretor do Conselho Empresarial Brasil-Estados Unidos, em artigo n’O Estado de S.Paulo.
O Mercosul tornou-se o espaço privilegiado desta opção equivocada. Dali nada sai, exceto atrasos e diatribes, quando não golpes, como o imposto ao Paraguai no ano passado. Há mais de uma década o bloco negocia um acordo com a UE, sem sucesso. Não espanta que tanto Brasil quanto a América do Sul em geral sejam hoje tratados como irrelevâncias pela política externa de governos como os de Barack Obama.
Estados Unidos e União Europeia já são mercados relativamente abertos. A alíquota de importação média está em 3,5% nos EUA e 5,2% na UE, de acordo com o Estadão. Mesmo assim, apostam em mais liberalização para reativar os motores de suas economias e, desta maneira, também reagir à ofensiva global chinesa.
O Brasil, ao contrário, é um país relativamente fechado. Nossas tarifas médias são de 12% e, vira e mexe, uma nova fornada de protecionismo é servida por Brasília – como no ano passado, quando 100 produtos tiveram suas alíquotas de importação elevadas ao teto permitido pela Organização Mundial do Comércio (OMC).
O maior risco é o Brasil ficar muito para trás na nova conformação do comércio global. Além do acordo com a UE, os Estados Unidos também têm entabuladas negociações bilaterais com vários outros países, incluindo Coreia, Chile, Colômbia, Peru, México e boa parte da América Central e do Caribe. O que nos restará?
Se todas estas negociações de fato avançarem, o comércio exterior brasileiro ficará confinado a economias periféricas, com dificuldades de entrar nos maiores mercados e em condições de competição desvantajosas em relação a seus concorrentes mais diretos – principalmente a China, que desviará ainda mais para cá produtos antes direcionados para EUA e UE. Não parecem grandes as nossas chances de sucesso. Ficaremos a ver navios – transatlânticos.
(Fonte: ITV/ Foto: Porto de Santos)
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