Estabilidade sob risco?
Inflação deu mostra, mais uma vez, de que está com seu bloco na rua
A inflação deu mostra, mais uma vez, de que está com seu bloco na rua. “Os aumentos atuais prejudicam especialmente os mais pobres, são mais fortes nos alimentos, mas estão se disseminando por quase toda a cesta de produtos”, aponta a Carta de Formulação e Mobilização Política desta sexta-feira (8) . Como destaca o documento editado pelo Instituto Teotonio Vilela, fica cada vez mais claro que as labaredas estão saindo do controle. “O temor se justifica: o PT não morre de amores pela austeridade e, historicamente, sempre tratou a inflação como mal menor”, analisa o órgão de estudos políticos do PSDB. Leia abaixo a íntegra:
Se a luz amarela já estava acesa há tempos, agora soaram todas as sirenes. A inflação deu mostra, mais uma vez, de que está com seu bloco na rua. Como se fosse um folião, o governo brinca com o dragão. O país corre risco de pôr a perder a sua maior conquista recente: a estabilidade da moeda. É mais uma das fanfarronices do PT.
O IBGE informou ontem que a inflação de janeiro foi a mais alta para o mês desde 2003, ou seja, em dez anos. Em 12 meses, o IPCA acumula elevação de 6,15%, já bem perto do limite superior da meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional para o ano (6,5%). Em janeiro de 2012, este indicador estava em 6,22%, o que mostra que passou um ano e o governo não conseguiu domar a escalada.
Os aumentos atuais prejudicam especialmente os mais pobres, são mais fortes nos alimentos (11% em 12 meses), mas estão se disseminando por quase toda a cesta de produtos. Com a luz vermelha acesa, cresce a possibilidade de o Banco Central aumentar os juros e dificultar, ainda mais, a retomada do crescimento do PIB.
Os preços dos alimentos estão pela hora da morte. Segundo o IBGE, produtos como a farinha de mandioca mais que dobraram de preço nos últimos 12 meses. Outros como batata e tomate também tiveram altas expressivas: 67% e 31%, respectivamente. Mas os aumentos não se limitam à comida: de cada quatro produtos, três ficaram mais caros, ou seja, 75%, em janeiro. Em situações consideradas “normais”, este índice não passa de 60%.
A corrosão nos salários é muito maior do que revela a inflação oficial. Anteontem, o Dieese já havia mostrado que em janeiro a cesta básica continuou subindo muito. Há casos como os de Salvador, com alta de 17,85% – num único mês! Em quatro das 18 capitais pesquisadas, o reajuste ficou acima de 10%. Resta claro que as labaredas da inflação estão se espalhando.
“O sentimento entre os especialistas é de que o país está prestes a entrar em um quadro de descontrole de preços”, sustenta o Correio Braziliense. “Embora o governo sustente que ela [a inflação] está sob controle, os riscos não são desprezíveis”, ratifica, no Valor Econômico, a colunista Claudia Safatle, interlocutora privilegiada das autoridades oficiais. “A situação não é confortável”, admitiu Alexandre Tombini, presidente do BC, a Miriam Leitão.
O temor se justifica: o PT não morre de amores pela austeridade e, historicamente, sempre tratou a inflação como mal menor. Nos dez anos em que está no poder, apenas em três ocasiões logrou respeitar a meta estipulada pelo CMN: em 2006, 2007 e 2009. Há três anos consecutivos, o objetivo não é cumprido, não o será neste ano e possivelmente sequer em 2014.
O descontrole de agora decorre de erros da política econômica posta em prática pelo PT nos últimos anos. As ações do governo, seja o de Lula, seja o de Dilma Rousseff, foram todas voltadas a incentivar a demanda, enquanto a oferta não apenas não crescia como também enfrentava dificuldades ascendentes – como custos em escalada, escassez de mão-de-obra e infraestrutura insuficiente.
“Ao longo de 2012, o governo fez um diagnóstico equivocado, de que o maior problema da economia fosse consumo insuficiente. E fez de tudo para inflar a demanda”, analisa Celso Ming n’O Estado de S.Paulo. Os explosivos gastos do governo ajudaram a piorar a situação, com alta de 11% num ano em que o PIB só terá crescido 1%.
O Brasil já tem hoje uma das seis maiores taxas de inflação do continente, perdendo apenas para Uruguai, Nicarágua, Haiti e os imbatíveis Argentina e Venezuela, segundo o UOL. Será que é nestes exemplos que o governo petista se espelha? Diferentemente da maioria dos demais países latino-americanos e em desenvolvimento, contudo, nossa economia cresce pouco.
Não fossem alguns malabarismos, a inflação brasileira estaria em situação bem pior e, provavelmente, já teria até furado o teto da meta. A redução das tarifas de energia elétrica ajudou, mas, não tivessem os governos de São Paulo e Rio postergado o reajuste dos transportes públicos, ela teria sido simplesmente pulverizada. Falta apenas apelar para o congelamento, como fez Cristina Kirchner…
Agindo assim, manobrando ao deus-dará, o governo brasileiro mais parece aquele tipo de sujeito que entra no cheque especial e tem que sacar seu fundo de aposentadoria para pagar as contas. O PT tem feito muito mal ao país. Mas nenhum deles será tão ruim quanto a perda da estabilidade da moeda, tão duramente conquistada pela sociedade brasileira. Com isso não se brinca. Nem no Carnaval.
(Fonte: ITV/ Foto: Marcelo Camargo/ABr)
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