Discurso eleitoreiro

Pronunciamento sobre conta de luz teve caráter demagógico e populista, afirma Imbassahy

O pronunciamento feito pela presidente Dilma Rousseff na última quarta-feira (23) foi severamente criticado pelo tom autoritário e pela intolerância a opiniões divergentes. Jornais como “O Globo” e “O Estado de S. Paulo” reprovaram o aspecto eleitoral do “comício” de Dilma em rede nacional de rádio e TV, também condenado por tucanos. A fala, que tinha o objetivo de comunicar a redução das tarifas de energia, foi destinada a atacar os que fazem críticas à forma como a medida foi tomada. Para o deputado Antonio Imbassahy (BA), o discurso teve caráter demagógico e populista.

“Discordar de uma decisão governamental e apontar riscos não é torcer contra. Só governos de índole autoritária fazem esse tipo de interpretação. Se esse for o tom da campanha da presidente por mais um mandato, será lamentável.” Foi o que afirmou a jornalista Miriam Leitão na coluna desta sexta-feira (25). Em nota à imprensa, o presidente nacional do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), afirmou que o discurso foi usado para promoção pessoal e política da presidente.

Durante o pronunciamento, a chefe da nação afirmou que o país venceu “o  pessimismo e os pessimistas”. A oposição, no entanto, nunca foi contra a redução da conta de luz. Os partidos apenas cumprem o papel de alertar para os riscos que isso poderá trazer para o consumidor e até mesmo para a segurança do setor.

“A convivência na democracia estabelece pensamentos divergentes. Quando a própria chefe da nação se manifesta assim, demonstra também intolerância, um posicionamento que não corresponde com o pensamento de quem deseja praticar a democracia e buscar o melhor para o país”, na avaliação de Imbassahy.

De acordo com o tucano, o PT não pode achar que governa o país sozinho. Para ele, no momento em que a presidente usa o termo pessimismo, entra em um caminho perigoso: da demagogia e do populismo. “A oposição existe. A nossa posição em relação a essa questão é no sentido de construir melhores alternativas. É com as divergências que se encontram as melhores soluções”, afirmou.

“O PSDB sempre trabalhou na linha de redução da tarifa”, disse Imbassahy. Ele  lembra que desde o início Dilma utilizou a questão da redução para fazer discurso eleitoreiro, pois sua primeira aparição em rede nacional para falar do assunto foi exatamente às vésperas das eleições municipais do ano passado.

Segundo Imbassahy, a imagem de boa gestora começa a conflitar com os resultados da administração. “Percebendo os pífios resultados, o PT agora acentua ainda mais o caráter demagógico e populista. A presidente deveria trabalhar a eficiência de sua gestão”, apontou o tucano.

No pronunciamento, a presidente se confunde, pois há uma grande diferença em discordar da medida e da forma como ela foi tomada. Querendo ou não, parte da redução do preço será coberta por recursos do Tesouro, envolvendo dinheiro de todos os brasileiros.

“É uma manobra no sentido de enganar a população. Reduzem a tarifa, mas, por outro lado, tiram mais impostos da população para cobrir isso. A população acaba pagando tanto quanto pagaria antes”, concluiu o tucano.

Dilma anunciou que a redução de energia será de 18% para residências e até 32% para indústrias. Em setembro do ano passado, ela afirmou que a redução média seria de 16% para residências e de até 28% para a indústria. Já o Banco Central, como mostrou o jornal “O Globo”, estimou que a conta de luz cairá, em média, 11%.

Caráter eleitoreiro

→ Para a “Folha de S.Paulo”, Dilma manifestou-se “com um triunfalismo que não encontra respaldo na realidade”, usando o espaço institucional para “criticar, com uma agressividade inusual,” os que não lhe dizem amém. “O Globo” avaliou que a presidente fez “exploração política da questão da energia” e empregou “um tom apelativo, beirando o sentimento de patriotismo a que governos autoritários militares recorriam com frequência”. Já “O Estado de S.Paulo” não tem dúvidas do caráter eleitoreiro da atitude da presidente: em cadeia nacional, Dilma “discursou como se estivesse em um palanque”.

(Reportagem: Letícia Bogéa/ Fotos: Alexssandro Loyola/ Áudio: Elyvio Blower)