Falta transparência


Planalto tenta esconder gravidade da crise no setor energético, avalia Gomes de Matos

Classificada como "ridícula" pela presidente Dilma Rousseff há duas semanas, a hipótese de racionamento de energia entrou no radar do governo com a constante queda dos níveis dos reservatórios. Os níveis das hidrelétricas fizeram as indústrias planejarem a redução do consumo, admitindo um “racionamento branco”. O Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), órgão do governo responsável por acompanhar e avaliar o suprimento de energia no país, se reúne nesta quarta-feira (9) para avaliar a situação.

Na avaliação do deputado Raimundo Gomes de Matos (CE), falta transparência do governo petista em divulgar o real quadro do setor energético. “O PT sempre tenta esconder que não há crise no setor. A população já está cansada de tanta mentira. Os apagões são comuns e o problema é a falta de gerenciamento e competência”, afirmou o tucano nesta terça-feira (8).

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Além disso, o quadro atual pode levar ao aumento nas tarifas, o que comprometeria o corte de 20% nas contas divulgado amplamente pelo Planalto também no fim do ano passado. Para Gomes de Matos, tornou-se prática comum o governo petista afirmar uma coisa e os dados mostrarem outra bem diferente. “O PT perdeu dez anos para alavancar o desenvolvimento do país. O setor energético é de fundamental importância para o desenvolvimento da economia, mas observamos o descaso e a falta de investimento na área”, lamentou.

A bancada do PSDB luta no Congresso por mais transparência a atenção do governo com a área. O deputado Paulo Abi-Ackel (MG), integrante da Comissão de Minas e Energia, anunciou nessa segunda-feira (7) que o PSDB apresentará requerimentos para que autoridades do setor energético do governo Dilma compareçam à Camara e prestem esclarecimentos sobre o possível colapso de energia.

Fatores climáticos como poucas chuvas e altas temperaturas têm contribuído para que o nível dos reservatórios esteja em patamares considerados alarmantes por especialistas. De acordo com os jornais “Folha de S.Paulo” e “Valor Econômico”, o cenário só não é pior porque a economia, em 2012, não teve um crescimento satisfatório, o que fez com que a demanda de energia fosse reduzida.

A Abrace considerou preocupante o fato de que, com a redução do nível dos reservatórios, os preços da energia no mercado livre dispararam nos últimos dias. Segundo dados da Câmara de Compensação de Energia Elétrica (CCEE), o preço do megawatt/hora (MWh) atingiu o maior patamar dos últimos cinco anos: R$ 554,82. Esse preço representa um aumento de 4.194% em relação aos R$ 12,92 registrados em janeiro do ano passado. O temor de um possível racionamento fez com que os papéis das empresas do setor elétrico caíssem quase 5% ontem na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa).

Para evitar um colapso de energia no país, Gomes de Matos defende mais investimentos, agilidade e responsabilidade do governo federal. “Espero que haja recuperação das hidrelétricas. Espero que consigamos sair desse marasmo administrativo que o país vive”, concluiu.

“Depois de menosprezar os especialistas do setor que alertavam o governo dos riscos de apagões cada vez mais frequentes, finalmente a presidente resolveu fazer um reunião de emergência para tentar evitar o racionamento de energia”, acrescentou o deputado Jutahy Junior (BA) via Facebook.

Volume insuficiente

Apesar de o chamado período de chuvas ter começado em novembro, até o momento o volume de água tem sido muito baixo. Ontem, o nível dos reservatórios das regiões Sudeste e Centro-Oeste estava em 28,5%, um pouco abaixo dos 28,8% do último dia 4 e bem próximo ao nível de segurança da área, que é de 28%. Já no Nordeste o nível está em 30,9%, contra 31,8% anteriormente. Ou seja, abaixo do patamar de segurança de 34%.

→ O meteorologista Alexandre Nascimento, do Climatempo, destacou que tudo indica que as chuvas previstas até abril não serão suficientes para elevar significativamente o nível dos reservatórios. Segundo ele, seria preciso chover entre mil e 1.200 milímetros nos próximos meses para aumentar o volume de água nos reservatórios. Mas o volume esperado de chuva é de 350 milímetros.

→ Está marcada para amanhã uma reunião do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) para avaliar a situação dos reservatórios das usinas hidrelétricas e do abastecimento de energia no país. Segundo o Ministério de Minas e Energia, a presidente Dilma não participará.

→ O temor de um racionamento de energia derrubou as ações do setor elétrico e fez a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechar ontem em queda de 0,94%, aos 61.932 pontos. As 35 empresas do setor elétrico na Bovespa perderam R$ 3,3 bilhões em valor de mercado só ontem.

(Reportagem: Letícia Bogéa/ Fotos: Alexssandro Loyola/ Áudio: Hélio Ricardo)

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8 janeiro, 2013 Últimas notícias Sem commentários »

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