Efeitos perversos


Falta de regras claras e intervenções do governo travam investimentos privados no país, critica Márcio Bittar

A insegurança nas regras definidas pelo governo e intervenções repentinas e autoritárias do Planalto em setores como o elétrico e o petrolífero provocam um efeito perverso para o país: a insegurança de grandes empresas para investir. Isso tem impedido a ação da iniciativa privada como um dos motores para retomada do crescimento da economia. O deputado Márcio Bittar (AC) vê este cenário com preocupação, pois as atitudes erradas do governo Dilma têm levado o Brasil a um crescimento pífio – provavelmente o menor entre os países da América do Sul nos três primeiros anos da atual gestão.

Pesquisa realizada pela Consultoria Economática mostra que, juntas, as 221 maiores companhias com ações negociadas em bolsa de valores detêm R$ 240 bilhões em caixa, mas encontram dificuldades para tocar projetos devido às incertezas do mercado. O montante é duas vezes maior do que os R$ 105 bilhões de 2007, antes do inicio da crise mundial. É comum entre os empresários o temor do que eles chamam de "risco governo".

“O empresário que tem capital para investir irá fazer isso em um mercado seguro, tranquilo e que tenha regras claras e bem estabelecidas. Mas não é isso que existe hoje no Brasil, mas sim um receio da intervenção do governo na iniciativa privada”, reprova Bittar.

Entre as inúmeras queixas do empresariado essa é uma das principais. A forma como o governo atua em relação aos combustíveis, controlando preços e intervindo na Petrobras, causa temor nas empresas. O mesmo aconteceu com o susto provocado quando o governo resolveu mudar as regras do setor elétrico de maneira atrapalhada e causando prejuízos para as companhias que atuam na área. Para Bittar, essa foi a maior demonstração de que a presidente Dilma não é uma boa gerente. “O país voltou a ter um governo que intervém na economia de forma equivocada”, ressaltou o deputado.

A ausência de investimentos privados está diretamente ligada ao desempenho pífio da economia. De acordo com o IBGE, a produção industrial no Brasil em 2012 deverá ser fechada com o pior resultado desde a recessão de 2009. E não é por falta de dinheiro para investir. Os empresários têm ainda outros receios. Entre eles, a inflação. Há um incômodo generalizado com o fato de o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) estar há três anos muito distante dos 4,5% definidos como objetivo a ser perseguido pelo Banco Central. Outra insatisfação é com o enterramento do câmbio flutuante, que ajudou o Brasil a garantir sua estabilidade econômica.

Além de tudo isso, Bittar destaca que o Planalto continua gastando mais do que deve. E mais: o governo não tem nenhum projeto de reforma ou modernização do Estado. Segundo ele, os bons resultados na área social só foram possíveis graças à estabilidade conseguida com Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso. “Esse é o resultado de um governo que resolveu fazer um projeto político-partidário, e não um projeto de país”, disse. Em sua avaliação, para que o país cresça como deve é preciso o governo mudar completamente de atitude, investir e dar espaço para o empresariado também fazê-lo, pois atualmente a iniciativa privada está buscando as economias de outras nações.

  • Segundo números divulgados pelo IBGE, em novembro a indústria brasileira teve retração de 0,6% em relação ao mês anterior e 1% na comparação com o mesmo período de 2011. A queda até ficou dentro das previsões do mercado, mas a instituição também revisou para baixo os dados de outubro. Em vez de 0,9% anunciados anteriormente, a alta daquele mês foi de apenas 0,1%. A reavaliação colocou a variação trimestral no terreno negativo, com recuo de 0,4%. E, o que é pior: os novos dados comprometeram definitivamente o desempenho da economia em 2012 e transferem para 2013 a expectativa de recuperação do Produto Interno Bruto (PIB).
     
  • Com 16 dois 27 setores pesquisados mostrando retração em novembro, a produção acumulada no ano pelo setor teve redução de 2,6%, voltando ao nível de três anos atrás. Se terminar o ano com essa variação, o resultado da indústria em 2012 terá sido o pior desde 2009, quando a economia sofreu uma forte recessão e o segmento fabril desabou 7,4%.

"Insegurança enorme"
"De nada adiantará a presidente Dilma Rousseff conclamar o empresariado a retomar os investimentos se o governo continuar com sua política tão confusa, uma hora recorrendo a artifícios contábeis para fechar as contas, outra anunciando medidas que afrontam a livre iniciativa. Há dinheiro de sobra no país para tirar a economia do marasmo, mas a insegurança é enorme, sobretudo pela postura autoritária do Palácio do Planalto e pela ineficiência de boa parte da equipe ministerial."
Trecho de análise publicada pelo jornal "Correio Braziliense" no último sábado (05/01)

(Reportagem: Djan Moreno/ Foto: Beto Oliveira – Ag. Câmara/ Áudio: Kim Maia)

 

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7 janeiro, 2013 Últimas notícias Sem commentários »

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